A solução é voltarmos no tempo e impedirmos Orlando Silva de pagar aquela tapioca.
Explico.
O ano era 2007. O ministro dos Esportes comeu em uma tapiocaria. A conta deu R$ 8,30.
Ele poderia ter pago em dinheiro, no débito, no crédito ou com cheque.
Mas o maldito preferiu pagar com um cartão corporativo.
Quando a Controladoria Geral da União começou a investigar o mau uso dos cartões corporativos pelo primeiro escalão do governo Lula, descobriu que Matilde Ribeiro gastara muito mais, R$ 170 mil em um ano.
A ministra da Igualdade Racial caiu uma semana depois. Mas, para o folclore e sede de justiça da opinião pública, ficou a tapioca de Orlando Silva.
O ministro à frente da CGU viu na implicância com a tapioca uma espécie de preconceito com o Nordeste. Jorge Hage dizia que o escândalo não teria chegado àquela proporção se Orlando Silva tivesse jantado "um hambúrguer".
Quando, ao final de fevereiro de 2008, o Congresso veio com a CPMI dos Cartões, a comissão foi logo apelidada de "CPI da Tapioca". Que, como era de se esperar, só consumia tempo dos parlamentares brasileiros.
Até que, ao final de março, a Veja descobriu que o governo preparava um dossiê contra FHC. Foi a deixa para a oposição tentar convocar a Casa Civil para esclarecimentos.
Desde 2005, com a queda de José Dirceu, a Casa Civil estava aos cuidados de uma rara petista a não se envolver em escândalos de corrupção. Era desconhecida, pouco carismática, mas Lula não via outra saída senão trabalhá-la como sucessora.
A oposição fracassou, Dilma Rousseff não foi convocada. Mas, no dia seguinte, a Folha deu que o tal dossiê teria sido encomendado por Erenice Guerra, secretária-executiva da ministra.
Dilma desconversou, disse que não havia dossiê, mas apenas a preparação de um "banco de dados" com gastos do governo Lula e do governo FHC.
Quando, na semana seguinte, a Folha mostrou o tal banco de dados numa planilha Excel, a oposição se assanhou.
A CPMI da Tapioca deu vez à CPI Exclusiva dos Cartões Corporativos. Mas, para convocar a ministra, a oposição precisou recorrer a uma votação relâmpago na Comissão de Infra-estrutura.
Deu certo.
De 7 de maio, Dilma não escaparia.
A oposição chegou preparada. De cara, José Agripino puxou uma entrevista antiga. E peitou a ministra. Queria saber se ela falaria a verdade, ou se mentiria descaradamente, como confessava ter mentido durante a ditadura militar.
Foi quando Dilma marcou o gol da vida dela.
No dia seguinte, ninguém nem lembrava mais de tapioca. Só se comentava que Lula tinha achado a sucessora. E, de imediato, a máquina petista iniciou uma bem sucedida e ilegal campanha presidencial antecipada.
Quando um processo de impeachment afastou Dilma Rousseff em 2016, o PT já tinha somado quase um bilhão de reais em gastos com o cartão corporativo.
Se alguém volta no tempo e se oferece para pagar a tapioca de Orlando Silva, o trabalho da CGU não chamaria tanta atenção do noticiário, não teria CPMI da tapioca, nem dossiê contra FHC, nem convocação de Dilma, nem junho de 2013, nem impeachment, nem Temer, nem Bolsonaro.
Pague a tapioca, salve o Brasil. Eis a missão aos viajantes do tempo.
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O que acontece é simples: a sociedade julga caso a caso, priorizando os mais relevantes.
Em qualquer praça você encontra loucos em cima de caixote gritando absurdos piores. Se instala escutas nas salas da família brasileira, registra absurdos ainda maiores...
Mas qual a relevância disso? Ou louco em cima do caixote convence alguém? Ou nem o bêbado da praça é convencido do que o louco grita?
O Brasil lutou a Segunda Guerra Mundial contra nazistas. Pode ser uma explicação para que não se aceite que a linha seja cruzada mesmo no plano das ideias. Mas aposto mais nas milhares de famílias que fugiram da Europa para cá no período ou antes dele. Ou ainda...
Quando comecei a debater o tema com colegas, fiz piada com maconha, mas logo me corrigi e falei mais sério: ele deve estar consumindo lixo da alt right.
Quando Monark alega estar bêbado, cita ideias de outros países, como os Estados Unidos.
Estimo que 9 em 10 amigos que fiz na última década abraçaram o bolsonarismo. Um terço disso, o trumpismo. Todos direta ou indiretamente consumiam lixo que a alt right plantava na web de mil formas distintas. Eu mesmo consumi e caí na lábia de alguns, para a minha máxima vergonha.
Enfim... Cuidado com o que vocês consomem na web. Se nota uma pessoa importante sumindo do seu campo de visão, visita o perfil, curte uns posts aleatórios. Há como manipular o algoritmo a seu favor para evitar que ele te tranque em câmaras de eco.
No governo Lula, Lira continua presidindo a Câmara.
Aras não só continua PGR, como será cogitado para STF com chance boa de entrar.
Não boto fé em Pacheco. Acho que a presidência do Senado volta para Renan.
Ministro da Agricultura será Alckmin.
Curioso pra saber Casa Civil e Fazenda.
Cenário óbvio? Gleisi e Nelson Barbosa.
Cenário animador e possível? Rodrigo Maia e Henrique Meirelles
(Tou esquecendo de Kassab. Mas Kassab curte um cidades, desenvolvimento regional, algo que mexa com bastante verba para município, if you know what i mean)
O texto de Risério é rico em várias e graves evidências anedóticas de que há racismo da parte de movimentos identitários contra várias etnias, mas não procura demonstrar estatisticamente que este seria um problema para a sociedade priorizar…
Até que se dê a esta missão e nela tenha sucesso, vai apanhar (com certa razão) de quem carimba os episódios de isolados — não dá pra afirmar que são regra ou exceção, mas o ônus da prova cabe a quem acusa.
Este é o primeiro ponto.
Não gosto do uso que fazem da expressão "racismo reverso”. Passa a sensação de que o racismo nasceu com o tráfico negreiro, e só as vítimas desse mal poderiam reclamar do preconceito sofrido. Quando racismo infelizmente existe na humanidade desde que a humanidade existe…
Já está bom de o antilavajatismo baixar a bola também. Pois todo dia é um festival de “a Lava Jato é a origem de todos os males” como se corrupção desenfreada que a operação combatia não tivesse nada a ver com isso, nem estivesse servindo de sustentação a Bolsonaro.
“Aras não faz nada!”
Exatamente como o antilavajatismo sempre sonhou.
Imaginei que o “também” do primeiro tweet explicitava uma crítica ao lavajatismo, que está com a bola devidamente baixa. Mas de fato era muito sutil a menção, por isso o reforço aqui.
Contudo, a thread não é sobre a Lava Jato, já muito criticada, mas sobre o antilavajatismo.