Thread by @biancanazari

Falei q tô lendo o livro "História da Arte" do Gombrich, tô impressionada q o livro foi lançado em 1950 e TODAS as questões que ele aborda no primeiro capítulo sobre "sobre arte e artistas" são absurdamente relacionáveis em 2019!
Acho q vou fazer uma threadzinha sobre uns tópicos

Ele começa falando q o q conhecemos como Arte com A maiúsculo não existe, q passou a ser quase um fetiche. O q existe são artistas.
E aí solta "Podemos esmagar um artista dizendo-lhe q o q ele acaba de fazer pode ser excelente a seu modo, só q não é 'Arte'"

kkkk realidades

E aí ele fala que as razões p/ q uma pessoa goste de uma obra de arte são mtas, desde uma recordação, algo que influenciou a vida dela, ou msm o que agradaria ver na realidade, o famoso "belo". Mas aí tem um problema: e o que não é considerado belo? É menos "arte" então?

Ele ilustra essa questão comparando um desenho de Rubens, retrato de seu filho Nicholas (1620), com um desenho de Albrecht Dürer, Retrato de sua mãe (1514)
Aí ele começa a falar que a beleza de um quadro não necessariamente está associado à beleza de seu tema.

E q o q acontece com a "beleza" tb vale p/ expressão. Que as pessoas tendem a preferir uma expressão mais real ou reconhecível (portanto mais comovente) do q uma que retrate algo diferente, seja pelo estilo ou pelo q o artista quis passar
Guido Reni (1639) / Mestre Toscano (1175)

Sem tirar nem pôr: "Neste ponto, porém, os principiantes geralmente se defrontam c/ outra dificuldade. Querem admirar a perícia do artista em representar as coisas tal como eles as vêem. Gostam mais d pinturas q 'parecem reais'"
Claro q é importante, existe mto trabalho (cont...)

perícia e paciência em representar fielmente o mundo visível, (ex: a famosa Lebre, Albrecht Dürer). Mas só a reprodução deveria diminuir um desenho como o de Rembrandt, Elefante, pq mostra menos detalhes? Não é genial ele conseguir, com poucos traços, transmitir a pele rugosa?

Ou, passando para os artistas modernos, que sabem retratar o mundo real, mas decidem retratá-lo de forma a demonstrar o sentimento.

Picasso, com uma galinha real e tb Picasso com a caricatura de um galo, quis passar a agressividade, insolência e estupidez do bicho.

Aí vem a pergunta: será q o artista não teria suas razões pra mudar a aparência daquilo que viu?
Somos propensos à conclusão precipitada "as coisas não se parecem com isso", ideia que ele rebate genialmente com a ideia do que o povo tinha antigamente de cavalos correndo.

Cavalos correndo eram sempre representados como na 1a imagem (Theodore Géricault - 1821), mas qdo veio a fotografia e pudemos ver passo a passo da corrida real, vemos q é errado. Mas qdo os pintores começaram a pintar os cavalos correndo do jeito certo, o público achou esquisito!

"Não existe maior obstáculo à fruição d grandes obras de arte do que a nossa relutância em descartar hábitos e preconceitos {...} Qto mais tivermos visto uma história representada em arte, mais firmemente nos convenceremos d q ela deve ser sempre representada de forma semelhante"

Por ex, a igreja pediu que Caravaggio representasse São Mateus escrevendo o evangelho e guiado por um anjo, ao q seguiu a 1a imagem. A igreja odiou ver um homem simples, com pés sujos, uma imagem nada parecida com a de um "Santo". Teve q refazer e saiu o 2o quadro, q foi aceito!

Aí ele fala sobre o q é o "certo" pros artistas, e q pouca gente pode compreender o q realmente é, mas q todo mundo já se deparou com uma ideia d equilíbrio, ou de algo parecer "errado", basta tentar arranjar um buquê de flores ou coordenar uma roupa. É uma questão mt particular.

Mas q qdo conseguimos ver a arte finalizada, quando nos parece "certo", todos conseguimos sentir que o artista conseguiu algo de fato irretocável, e q esse ex de perfeição no nosso mundo tão imperfeito é o q mtas vezes nos dá aquele sentimento de "oh!", uma grande obra de arte

Mas não é q esse equilíbrio vinha assim, dom divino. Os artistas relutavam c/ como seria melhor retratar as pinturas, o q pode ser visto em cadernos de esboço. Nada vinha fácil, apesar de parecer no resultado final. Artista sofre em td qt é época!

Rafael, Virgem no Prado 1505

"É fascinante observar um artista esforçando-se por alcançar o equilíbrio adequado, mas se lhe perguntássemos pq fez isso e mudou aquilo, talvez ele fosse incapaz de nos explicar. O artista não obedece a regras fixas. Ele simplesmente intui o caminho a seguir"

Isso falando sobre REGRAS para gdes obras, né, ñ tem msm regra.
Ele fala q até tentaram formular um guia a se seguir, e um prof da Royal Academy falou pros alunos q o azul era só pra por no fundo. Aí seu rival Gainsborough pintou "O menino de azul" só pra provar q dava sim pô

Ele fecha o cap falando q como não existem regras na arte pra nos dizer o q é certo ou errado, geralmente é impossível dizer c/ palavras o pq sentimos estar diante de uma grande obra de arte. Mas ñ significa q uma obra é melhor q outra, ou q não podemos discutir questões de gosto

Começamos a criar uma sensibilidade qto mais discutimos e vemos arte. E ñ quer dizer q só pq não temos isso hj, q não pode ser desenvolvida. Não se nasce sabendo sobre chás ou vinhos, mas se se pega o gosto, começa a entender aos pouquinhos. E é isso q ele pretende com o livro :)

No próx cap ele já entra na história da arte em si, pré história e tal.
Enfim, achei que valia a pena tomar a liberdade de destrinchar o 1o cap pra quem não conhece. É só pra ter um gostinho de como é foda, e tá sendo bom demais revisitá-lo, agora como artista, com outro olhar ❤️