Thread by @gabibianco

Vou contar aqui um causo procês. Tô fazendo trabalho pra um cliente e usei uma ferramenta chamada TGI. Essa ferramenta permite acesso a hábitos de consumo de milhares de pessoas de maneira anônima. Então a gente usa pra traçar perfil de consumidor.

Com ela a gente pode separar os públicos por gênero, idade, região geográfica, posicionamento político, ver como essa galera se relaciona com o planeta, com marcas e produtos. E assim desenhamos público-alvo. Muito que bem.

Pra um cliente específico, separamos em alguns grupos: homens solteiros 25/45 anos, homens casados 25/45, mulheres 25/45 solteiras, mulheres 25/45 casadas. jovens ambos os gêneros, solteiros ou casados (18-24 anos). E comecei a fuçar nas pesquisas.

As mulheres se diferenciavam principalmente pq as casadas tinham mais interesse em coisas de casa e criação de filhos, as solteiras mais interessadas em educação, trabalho. Os homens eram todos muito parecidos independente de estado civil.

Os interesses deles eram esportes em geral, futebol em particular, eletrônicos. Não se preocupam com meio ambiente, não reciclam, não gostam de relacionamentos de pessoas do mesmo gênero e concordam com afirmações como "lugar de mulher é na cozinha".

Cruzando com a ferramenta de insights do FB descobri q eles gostam de páginas de humor, páginas machistas com piadas com mulheres. Quando eu busquei homens com interesse em carros, imediatamente aparecem como interesses relacionados páginas militares, figuras públicas de direita.

O TGI funciona assim: eles apresentam uma frase e a pessoa diz se concorda ou discorda, ou é neutra. E tem uma frase específica: "Você se considera feliz?", e a pessoa pode responder que concorda totalmente, parcialmente, neutro, discorda parcialmente, discorda totalmente.

A imensa maioria dos jovens de 18 a 24 anos responde que concorda totalmente ou parcialmente com essa frase. Ou seja, se consideram felizes. As mulheres casadas ou solteiras também concordam, se consideram felizes.

A maioria dos homens discorda da afirmação "você é feliz?". Esses mesmos homens que curtem páginas de direita e que são o estereótipo do brasileiro machista são infelizes.

Eu acho que essas coisas estão extremamente relacionadas. Esse sentimento de infelicidade está ligado a essa postura tacanha, fechada, antiquada. Não tem como ser feliz se vc não respeita o próximo. Como amar a si mesmo se você não ama os outros?

Enfim, só quis compartilhar com vocês o que os dados apontam. Não inventei nada disso. Lembrem que a pesquisa é anônima, e isso faz com que a pessoa normalmente fale a verdade, sem vergonha de ser julgado. Então fica essa reflexão sobre felicidade e postura político-social.

Pra quem quiser saber mais sobre as ferramentas: a do TGI é paga e custa caro. Aqui tem mais infos: negociosrpc.com.br/deolhonomercad… e aqui kantaribopemedia.com/estudos-type/t…
a da Facebook é gratuita e fica aqui: facebook.com/ads/audience-i… (vc precisa ter conta de anuncios mas é fácil e de graça)

Pra saber mais sobre masculinidade tóxica, infelicidade e padrões masculinos em geral recomendo:
netflix.com/title/80076159
papodehomem.com.br/masculinidade-…

(destacando a notícia boa: os jovens 18-24 aprovam casamento entre pessoas do mesmo gênero, têm interesse em diversidade e outras culturas, não acham que lugar de mulher é na cozinha, acreditam que viver experiências é melhor do que ter coisas, se preocupam com o meio ambiente)

E mesmo quando eu separo esses jovens por gênero, os homens de 18-24 continuam tendo um perfil mais neutro e menos conservador - aparecem mais coisas relacionadas a esporte e eles são um pouco mais homofóbicos por ex, mas se mantém a maior parte dos fatores positivos acima.

Então minha esperança é que essa moçada jovem mude o mundo. Eu não consigo pegar dados de menores de 18 anos no FB, mas pesquisas de terceiros apontam que essa molecada é muito mais tolerante e inclusivo, preocupado com o meio ambiente, etc. Ainda bem.

E deixando claro, pra reforçar: eu trouxe dados reais que me levam a ter conclusões pessoais. Não se trata de tese científica. Se alguém do mundo acadêmico quiser investigar mais, acho que seria sensacional. E aposto um brigadeiro que a minha hipótese se confirmaria.

Aliás refleti outra coisa aqui: essa felicidade (ou falta dela) é auto-declarada. Será que o cara não se considera infeliz pq nem sabe o que é felicidade? de repente ele tá lá com emprego, familia, amigos, mas nem consegue reconhecer o sentimento. Sei lá. Agora tô brisando mesmo.