Uma discussão sobre jornalismo
Ontem, escrevi um título pelo qual fui bastante criticado. Recebi pedradas de todos os lados, principalmente da esquerda. O título desastroso era "Visto com repulsa na esquerda, Ustra segue poupada pela direita". Eu explico: oglobo.globo.com/brasil/condena…
O gancho da matéria foi a visita da viúva do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi, um dos mais conhecidos centros de repressão na ditadura militar, onde houve crimes, violações dos direitos humanos, tortura, ao presidente Jair Bolsonaro.
A ideia da pauta era falar com pessoas das Forças Armadas e dos grupos de direita e descobrir o que eles pensam do Ustra, sabendo que o coronel é visto como ídolo pelo presidente. E também responder à dúvida: por que só vemos a esquerda, de uma forma geral, bater no Ustra?
Conversei com generais e lideranças da direita. Apuração feita, constatei que muitos segmentos da direita poupam Ustra, que já foi condenado por tortura, de críticas. E aí redigi o título de uma forma muito questionável. Na correria da redação, essas coisas acontecem.
Depois de ver que a matéria estava sendo massacrada, fui reler e também reparei no erro. Alterei-o para "Condenado por tortura na ditadura militar, Ustra segue poupado por segmentos da direita". Conceitualmente mais correta, sem atenuar a gravidade do personagem.
Nesta mesma semana, o New York Times foi criticado por uma frase também mal feita. A manchete da terça-feira, após a tragédia no Texas e em Ohio, era "Trump urges unity vs. racism". E gerou uma repercussão bem negativa.
O maior jornal do mundo foi massacrado e mudou a manchete na segunda edição para "Assailing Hate but Not Guns". O Nelson de Sá escreveu na Folha uma coluna sobre o caso: "NYT alivia para Trump e é forçado a recuar após revolta". www1.folha.uol.com.br/colunas/nelson…
Tom Jones escreveu sobre: É fácil criticar a manchete do Times, mas é preciso parar por um segundo e pensar como é difícil redigir manchetes. Essa história do Trump, por exemplo. Você tem tiroteios que mataram 31 em duas cidades. Então, Trump discursa por 10 minutos sobre (...)
(...) uma epidemia que ninguém concorda e ninguém pode resolver. E alguém, em um deadline curto, precisa juntar tudo isso em sete palavras cuja soma precisa ter um número exato de caracteres.
Muita gente criticou O Globo pelo meu péssimo título. Queria dizer que muito do que as pessoas acham que é manipulação, mau caratismo e parcialidade da imprensa muitas vezes é só pressa, inexperiência e descuido de um jornalista atarefado. Mas isso não nos exime da culpa.
Publiquei no @JornalOGlobo que o WhatsApp estuda lançar uma ferramenta que preocupa especialistas em desinformação. Conversei com 3 pessoas que o WhatsApp chamou para um encontro confidencial em dezembro para falar da nova funcionalidade. Explico a seguir 👇
A ferramenta em fase de testes seria um tipo de "grupo de grupos", uma "comunidade" em que um administrador poderia reunir diferentes grupos dentro do app para enviar mensagens e moderar conteúdo. A funcionalidade aproximaria o WhatsApp de Telegram e Discord.
Nessa reunião com o WhatsApp, especialistas alertaram a empresa que isso seria devastador para nosso processo eleitoral, pois na prática aumentaria o poder de envio de mensagens (hoje restrito a 256 pessoas, tanto em grupos quanto em listas de transmissão).
Qual é o balanço de três anos de governo Bolsonaro para a extrema direita brasileira? Perguntei a cientistas políticos, antropólogos, historiadores e estudiosos do assunto para tentar responder: oglobo.globo.com/politica/sob-b…
Segundo o @odiloncaldeira, houve um processo de aceleração da internacionalização da extrema-direita brasileira, que passou de receptora para produtora de ideias, e virou um ator importante no âmbito internacional. Com queda de Trump, Brasil ganhou mais espaço no palco.
A extrema direita perdeu uma oportunidade inédita de ter fundado um partido próprio. Por isso, @CECLynch diz que uma eventual derrota eleitoral de Bolsonaro será um baque mais duro do que foi para a esquerda no pós-Dilma, porque o PT tem base social, partido forte e enraizamento.
O que @jairbolsonaro vê no feed do seu Twitter? Criei uma lista com os perfis que ele segue e passei "um dia na conta do presidente". Contei nessa matéria um pouco sobre o tipo de conteúdos que ele consome 👇 oglobo.globo.com/politica/epoca…
Contei com uma mão do @projeto7C0. Deixo a lista abaixo para quem quiser ver. Ela está inexata porque 5 pessoas que o presidente segue me bloquearam ou têm o perfil fechado, então não consegui adicioná-las. twitter.com/i/lists/121419…
Tem algumas curiosidades. No mundo da música, com exceção da @julianabonde e do roqueiro Roger Moreira, Bolsonaro só segue homens do sertanejo. Ele segue Nelson Teich e Tedros Adhanon, diretor da OMS. Não segue presidentes de Alemanha, Portugal, Argentina e França.
Olha que curioso. Reparei que tem alguns canais nazistas banidos no Telegram. Mas eles podem ser acessados por meio de um drible na Google Play Store e na Apple Store, com anuência do próprio Telegram. Vou contar abaixo 🧶
Encontrei 11 canais nazistas bloqueados pelo app do Telegram baixado via Play Store e na App Store. Mas eles mesmos estavam ensinado outros usuários a burlar esse bloqueio: bastava baixar uma versão "menos restrita" do app no site do Telegram, ou por um apk.
Baixei essa versão mais permissiva do Telegram e consegui acessar os 11 canais. O banimento dos canais nos apps via Google ou Apple não impede o conteúdo de circular. Fiz um levantamento com a quantidade de fotos, vídeos e links que circulam nesses 11 canais:
Exclusivo: Pesquisadores coletaram 4 milhões de mensagens de 150 chats de extrema-direita no Telegram e identificaram o YouTube como coração desse ecossistema. 440 mil links vinham do YT, bem à frente de Instagram e Twitter (74 mil) e Facebook (55 mil). Pq isso é importante?👇
A hipótese dos pesquisadores é que o Telegram funcione como um propulsor para a circulação de canais bolsonaristas do YouTube, plataforma que remunera produtores de conteúdo de acordo com o volume de acessos de cada página: entre US$ 0,25 e US$ 4,50 para cada mil visualizações.
Desta forma, o Telegram, que permite grupos de até 200 mil membros e canais com nº ilimitado de inscritos, serviria também para driblar a baixa circulação imposta a vídeos ocultados por bolsonaristas para evitar que a plataforma os derrube por violação das políticas de uso.
Mergulhei por 3 dias no Telegram, mas precisei de poucas horas para acessar grupos secretos com pornografia infantil, venda de armas sem regulamentação, conteúdo nazista, vídeos de tortura e execução. Conto e explico como o app permite essa podridão: blogs.oglobo.globo.com/sonar-a-escuta…
O Telegram tem 5 particularidades que o diferenciam do WhatsApp e, juntas, dão base a uma quase deep web na palma da mão: grupos secretos, ferramenta de busca interna, chatbots, autodestruição de mensagens e anonimato dos usuários. O que se vê na superfície é a ponta do iceberg.
O vazamento de nudes e pornografia do OnlyFans alimenta muitos grupos secretos, as "salas VIP" onde usuários pagam a administradores desses espaços para ter acesso ao conteúdo "exclusivo", sem consentimento das mulheres. Não raro circula pedofilia nesses grupos.