Visitei 7 cidades de Pernambuco para acompanhar a retirada das manchas de óleo. Vi muitas cenas impressionantes. Depois de tudo isso, digo que é bem difícil, de longe, ter noção do que está acontecendo. Vou resumir um pouco neste fio:
O óleo chega em manchas ou em fragmentos. A retirada inicial é feita pelos moradores, pescadores e pessoas que estão no entorno. Vários me disseram que, na urgência, não dá tempo de pensar em se proteger.
A notícia da chegada do óleo se espalha por grupos de Whatsapp e entre coletivos e ONGs, que se organizam para remanejar voluntários de outras praias e chamam mais gente pelas redes sociais. Os trabalhos vão até o início da noite.
Esses grupos, como o Salve Macaraípe, também se organizam para angariar doações, principalmente de água e equipamentos de proteção (os EPIs). Nos mutirões, muitos utensílios são improvisados, como peneiras de macarrão e espátula de obra. Mais aqui: sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral…
As atividades mudam de acordo com a quantidade de óleo e as características da praia. No Janga, vi gente entrando na água para puxar a mancha de óleo. Em Itapoama, voluntários raspavam as pedras, peneiravam a areia e também tinha quem carregava o "pesado", o saco com kgs de óleo.
Em Janga e Itapoama, a maioria dos envolvidos era de voluntários (estudantes, moradores, gente de folga do trabalho). Na Ilha de Itamaracá, o poder público já tinha ido embora quando cheguei, tirando só o superficial, enquanto moradores escavavam o que estava debaixo da areia.
Com um contato tão direto com o óleo, voluntários e moradores começaram a relatar náuseas, tontura, dor de cabeça. Falei com gente que chegou a ficar um dia de cama. Conto mais aqui: saude.estadao.com.br/noticias/geral…
A situação das praias é tão dramática que alguns voluntários descansam um dia para poder voltar no seguinte. Nos mutirões, são horas debaixo do sol. Tem gente q faz trabalho braçal e outros que distribuem mantimentos (até dão água na boca de quem está com as mãos cheias de óleo).
Tem tanta gente suja de óleo que diversas vezes fui abordada pra ajudar a arrumar máscara, abrir garrafa de água etc.
Marinha, Ibama, Exército, Estados e prefeituras também participam, mas costumavam ser minoria nas praias que fui. Com exceção do Ibama, os demais não utilizavam EPI completo, ficando expostos ao óleo. Conto mais aqui: sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral…
Muita gente entrava em fendas e se embrenhava na pedra escorregadia para retirar o óleo mais difícil de ser alcançado. O repórter fotográfico Tiago Queiroz batizou essas pessoas de "homens-tatu" (mas mulheres também participavam). Mais aqui: sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral…
Nos mutirões, ouvi muitas críticas à atuação dos governos. Também tinha quem se emocionasse. O agente de limpeza Isaac, de 63 anos, chorava de emoção por ajudar a cuidar da praia que costuma frequentar. Mais: sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral…
Pesquisadores também estão viajando de praia em praia para coletar amostras de óleo, água e seres vivos. Por vezes, usam o próprio carro e pagam a gasolina. Conto mais aqui: sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral…
Mergulhadores, salva-vidas e funcionários retiravam sozinhos o óleo de corais da Praia do Cupe, do lado de Porto de Galinhas, na manhã de sexta-feira. A metros dali, turistas tiravam selfie e tomavam banho de mar. Mais: sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral…
Alguns empresários e trabalhadores do ramo turístico não quiseram falar comigo sobre o óleo, por temerem que notícias podem espantar turistas. Fui em praias que as pessoas não sabiam que havia óleo debaixo da areia ou no fundo do mar.
E para onde todo este óleo vai? Em Pernambuco, o governo diz estar destinando tudo para um empresa contratada, que, por sua vez, transforma o óleo em combustível para forno industrial. Visitei esse local na quinta-feira. Conto mais aqui: sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral…
Em Jaboatão dos Guararapes, conversei com pescadores que relataram a diminuição de peixes do rio Jaboatão. Um deles me disse que costumava pescar de 20 a 30 quilos por dia, mas que passou a conseguir no máximo 4 quilos. Mais: sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral…
Ilha de Itamaracá (PE) na quinta-feira.
Praia do Janga, quarta-feira (vídeo: Priscila Mengue/Estadão)
(vídeo: Priscila Mengue/Estadão)
Mergulhador profissional, Flávio Lima ajudou a tirar óleo dos corais da Praia do Cupe (vídeo: Priscila Mengue/Estadão)
Praia do Cupe, vizinha de Porto de Galinhas, ambas em Ipojuca (PE), sexta-feira (vídeo: Priscila Mengue/Estadão)
Local em Igarassu (PE) para o quão está sendo destinado óleo tirado das praias do Estado (vídeo: Priscila Mengue/Estadão)
Praia do Cupe, Ipojuca (PE), sexta-feira (vídeo: Priscila Mengue/Estadão)
Voltando pra esse fio pra deixar esse vídeo. São trabalhadores de uma empresa terceirizada de limpeza de Paulista (PE). Eles celebram após um dia de trabalho pesado, na quarta-feira, enquanto são fotografados pelo repórter fotográfico Tiago Queiroz (meu parceiro nesta cobertura)
Nelson veio na nossa direção assim que nos viu chegar na beira da praia. Ele estava muito preocupado com o impacto do óleo para a fauna da Ilha de Itamaracá (PE). Vídeo de quinta-feira (Priscila Mengue/Estadão)
