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Nov 9, 2019 73 tweets 20 min read
– O Acordaço [Edição de Colecionador]
Havia uma "guerra" entre os poderes. O bolsolavismo defendia a Lava Jato. Do outro lado, STF, Congresso e oposição lutavam para conter a operação.

Há um bom número de manchetes retratando o clima belicoso.
Em fevereiro de 2019, Carlos Bolsonaro tentava montar no Palácio do Planalto uma espécie de "ABIN paralela":
blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/p…
Um mês depois, aos cuidados de Alexandre de Moraes, Dias Toffoli abriu o polêmico inquérito para apurar os ataques que o STF sofria na internet.
g1.globo.com/politica/notic…
O tal inquérito era visto nos bastidores como uma reação do STF às tentativas do Planalto de criar uma espécie de, digamos, ABIN paralela.
oantagonista.com/brasil/faroest…
Passados dois dias, em um churrasco, Rodrigo Maia e Toffoli reclamaram da virulência da militância de Jair Bolsonaro na internet. Mas o presidente da República alegou que nada podia fazer.
www1.folha.uol.com.br/poder/2019/03/…
No 13 de abril, André Luiz Mendonça, o advogado-geral da União, defendeu o polêmico inquérito aberto por Toffoli no STF.
politica.estadao.com.br/blogs/fausto-m…
No 15 de abril, o tal inquérito foi usado para censurar a revista Crusoé, que destacava em capa a proximidade entre Lula e Toffoli.
crusoe.com.br/diario/urgente…
Passados três dias, Alexandre de Moraes voltou atrás na censura. Uma hora depois, Toffoli liberou Lula para conceder entrevistas diretamente da prisão.
agenciabrasil.ebc.com.br/justica/notici…
Em paralelo, os bolsovaistas tocavam o terror nas redes sociais. Nem a grave doença do general Villas Bôas era poupada pelos milicianos virtuais.
www12.senado.leg.br/noticias/mater…
Em 12 de maio, Jair Bolsonaro adiantou que Sergio Moro seria indicado ao STF.
oglobo.globo.com/brasil/bolsona…
No 15 de maio, a oposição fez um gigantesco protesto em 222 cidades contra o governo Bolsonaro.
g1.globo.com/educacao/notic…
Como resultado, o Google Trends mediu nos dois dias seguintes que o interesse do brasileiro pela palavra "impeachment" atingia o ápice da gestão.
trends.google.com/trends/explore…
O bolsolavismo reagiu com autoritarismo, convocado um ato para 26 de maio com fechamento de STF e Congresso na pauta. No 19 de maio, o MBL rasgou o plano para o mundo.
Naquele mesmo 19 de maio, de forma menos explícita, Janaina Paschoal implorou para que a população não comparecesse ao ato de 26 de maio.
É neste ponto que o "acordaço" toma forma. Mais especificamente, no 21 de maio. Mas é preciso recorrer a um flashback para se compreender que Dias Toffoli buscava tal pacto desde o segundo turno da eleição – quando já se antevia que Bolsonaro venceria.
O primeiro turno da eleição ocorreu no 7 de outubro de 2018. No dia seguinte, Dias Toffoli começou a falar em "pacto pela República":
epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia…
Toffoli voltou à carga na votação do segundo turno, em 28 de outubro:
conjur.com.br/2018-out-28/br…
E uma terceira vez em 19 de novembro de 2018:
brasil.elpais.com/brasil/2018/11…
Dois dias depois, Jair Bolsonaro ignorou a lista tríplce do Fórum Nacional da Advocacia Pública Federal e indicou André Luiz Mendonça para a Advocacia-geral da União:
em.com.br/app/noticia/po…
André Luiz Mendonça havia trabalhado com Dias Toffoli quando o presidente do STF, uma década antes, fora advogado-geral do governo Lula.
conjur.com.br/2018-nov-21/bo…
E, agora em 2019, Mendonça chegou a lançar um livro em homenagem a Toffoli.
oantagonista.com/brasil/andre-m…
Os problemas de Fabrício Queiroz só viraram notícia em 8 de dezembro de 2018.
oglobo.globo.com/brasil/ex-asse…
Mas Fabrício e Nathalia Queiroz foram respectivamente exonerados dos gabinetes de Flávio e Jair Bolsonaro no mesmo 15 de outubro de 2018, meados do segundo turno da eleição.
g1.globo.com/rj/rio-de-jane…
E há a suspeita de que a operação que avançou sobre o gabinete de Flávio Bolsonaro tinha vazado antes de ganhar o mundo.
oglobo.globo.com/rio/anotacoes-…
Voltemos, então, a 21 de maio de 2019, aquele do acordaço.

De um lado, oposição lotando ruas aos gritos de impeachment. Do outro, milicianos virtuais atacando tudo e convocando ato pelo fechamento do Congresso e STF.
No mesmo 21 de maio, conforme publicado pela Folha, líderes do PT promovem uma videoconferência para ouvir a opinião de Lula que, por intermédio de um aliado, desautoriza qualquer "fora, Bolsonaro". Alegou receio de Mourão.
painel.blogfolha.uol.com.br/2019/05/23/cri…
O Valor narra um episódio parecido envolvido Dias Toffoli. Não crava que se deu em 21 de maio, mas diz que foi entre 15 e 26 de maio.

Toffoli se reúne com seis senadores do PT, desautoriza qualquer tipo de "fora, Bolsonaro", e alega receio dos militares.
pressreader.com/brazil/valor-e…
A Veja também deu uma versão do episódio. Não falou em 21 de maio, mas apenas "abril e maio". Disse que empresários queriam impeachment, congressistas queriam parlamentarismo, militares cogitaram golpe, mas Toffoli entrou em campo resolvendo o conflito.
veja.abril.com.br/politica/dias-…
De acordo com a revista Crusoé, no mesmo 21 de maio, Dias Toffoli e Jair Bolsonaro tiveram uma primeira conversa para selarem um pacto que teria o apoio de Maia e Alcolumbre.
crusoe.com.br/secao/reportag…
No mesmo 21 de maio, Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni entram em campo para mudar a pauta do ato de 26 de maio. Saía fechamento de Congresso e STF, entrava defesa das reformas.
brpolitico.com.br/noticias/guede…
Vem então o 26 de maio, os atos são grandes, mas menores do que os da oposição.
g1.globo.com/politica/notic…
Dois dias depois, encontram-se Bolsonaro, Toffoli, Maia e Alcolumbre para selarem o pacto que Toffoli pregava desde 8 de outubro de 2018.
politica.estadao.com.br/noticias/geral…
É quando tudo muda. No final de maio, Jair Bolsonaro já surge às gargalhadas ao lado de Dias Toffoli.
oglobo.globo.com/brasil/bolsona…
No 10 de julho, Jair Bolsonaro ignora que prometia o gabinete do STF a Sergio Moro e passa a falar em alguém "terrivelmente evangélico".

Era André Luiz Mendonça, o AGU que defendeu o inquérito de Dias Toffoli.
g1.globo.com/politica/notic…
Em agosto, em entrevista à Folha, Jair Bolsonaro chega a negar que tenha prometido o STF a Sergio Moro, e diz que André Luiz Mendonça, o AGU, é muito mais "supremável".
www1.folha.uol.com.br/poder/2019/08/…
No 12 de julho, uma novidade. Jair Bolsonaro queria entregar uma embaixada a Eduardo Bolsonaro.
brasil.elpais.com/brasil/2019/07…
A ideia estaparfúdia findaria derrotada. Não antes de ser beneficiada por Davi Alcolumbre...
politica.estadao.com.br/noticias/geral…
...Rodrigo Maia...
g1.globo.com/politica/notic…
...e Ricardo Lewandowski – que tem todo um histórico de votos alinhados com Dias Toffoli.
politica.estadao.com.br/blogs/fausto-m…
No 16 de julho, vem o gesto mais simbólico: Dias Toffoli em pessoa suspende o inquérito que atingia Fabrício Queiroz.
g1.globo.com/politica/notic…
Neste mesmo dia, o próprio advogado de Flávio Bolsonaro deixa escapar que Flávio e Jair choraram ao saber da suspensão nascida da canetada de Dias Toffoli.
epoca.globo.com/decisao-favor-…
Segundo uma fonte da Crusoé, foi uma "catarse" na família Bolsonaro.
crusoe.com.br/secao/reportag…
O ponto mais controverso dessa trama é a participação de Lula nisso tudo.

Ele estava lá no 21 de maio, no dia que Toffoli e Bolsonaro toparam dialogar, mandando o PT enterrar qualquer pretensão de impeachment.
painel.blogfolha.uol.com.br/2019/05/23/cri…
Em 29 de agosto, em entrevista à BBC, Lula por duas vezes insiste que Jair Bolsonaro conclua o mandato.
bbc.com/portuguese/bra…
Em 5 de setembro, Jair Bolsonaro escolhe Augusto Aras para a PGR.
crusoe.com.br/diario/bolsona…
A escolha de Aras é vista no STF como uma derrota da Lava Jato.
www1.folha.uol.com.br/colunas/monica…
E até a presidente do PT deixa escapar que curtiu a escolha de Aras.
Enquanto isso, o coordenador da Lava Jato não escondia a insatifação para a PGR.
Um advogado-geral do Senado chegou a dar um aval à indicação de Eduardo Bolsonaro à embaixada – era sócio de Augusto Aras.
oantagonista.com/brasil/advogad…
Uma semana após a escolha de Aras, Dias Toffoli indicou que pautaria a prisão após condenação em segunda instância.
www1.folha.uol.com.br/poder/2019/09/…
Enquanto essa discussão era preparada, houve um porção de movimentos que enfraqueciam a Lava Jato e facilitavam a soltura de Lula.
Flávio Bolsonaro atuou para enterrar a CPI que investigaria o STF:
oantagonista.com/brasil/flavio-…
Gilmar Mendes recebeu Flávio Bolsonaro em casa:
oantagonista.com/brasil/flavio-…
Gilmar Mendes suspendeu o caso Queiroz:
g1.globo.com/politica/notic…
Dias Toffoli recebeu senadores do PT buscando blindagem contra a CPI:
oantagonista.com/brasil/dias-to…
Jair Bolsonaro deu aval à derrubada dos próprios vetos à Lei de Abuso de Autoridade:
politica.estadao.com.br/noticias/geral…
E depois se negou a questioná-la no STF:
oantagonista.com/brasil/bolsona…
O STF formou maioria em tese que beneficiaria Lula:
www1.folha.uol.com.br/poder/2019/09/…
Quando a segunda instância voltou à pauta do Supremo, Jair Bolsonaro adiantou que não iria se contrapor a qualquer decisão, nem mesmo se o Congresso quisesse revertê-la por uma nova lei.
www1.folha.uol.com.br/colunas/monica…
Em dado momento, Carlos Bolsonaro publicou um tweet defendendo prisão após condenação em segunda instância, mas Jair Bolsonaro mandou apagar, restando apenas o backup: archive.li/S8q1e
Já na votação, Augusto Aras ignorou uma questão de ordem levantada ainda por Raquel Dodge. Luiz Fux até tentou retomá-la, mas foi contido por Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski.
oantagonista.com/brasil/aras-po…
Até que, por 6 a 5, caiu a prisão em segunda instância.
oantagonista.com/brasil/6-x-5-s…
E Lula foi solto – juntamente com grande elenco de vários partidos.
Enquanto isso, Jair Bolsonaro orientou ministros e assessores a manterem silêncio sobre a manobra do STF para soltar Lula.
oantagonista.com/brasil/bolsona…
Durante o governo Temer, com base em grampo que flagrou Romero Jucá em conversa com Sérgio Machado, o petismo trabalhou a ideia de que o impeachment de Dilma fora um "grande acordo nacional, com supremo, com tudo", para tirar o PT da Presidência.
Essa narrativa, contudo, ignora duas questões principais. A primeira: o grande "acordo nacional, com Supremo, com tudo" também "protege Lula, protege todo mundo".
Mas há um ponto ainda mais importante: o objetivo nunca foi tirar o PT da Presidência. O objetivo do "grande acordo nacional" era "deter o avanço da Lava Jato". Mas, para descobrir informação tão secreta, era preciso ler a manchete da Folha.
O que Dias Toffoli propôs em 8 de outubro de 2018, e se concretizou ontem, foi um grande acordo nacional, com Supremo, com tudo, que protegeu Lula, protegeu todo mundo. E o petismo o festejou até a madrugada.
Ao profetizar o pacto, ainda em 2016, Sergio Machado disse que, ao proteger "todo mundo, esse país volta à calma, ninguém aguenta mais".
www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/…
Mas há risco de que Machado tenha errado nessa. Porque, inspirado no fechamento do Congresso peruano, e salivando pela violência dos protestos chilenos, esse governo não nega que cogita até mesmo um "novo AI-5" caso o clima entre governo e oposição esquente.
E Lula já disse que saiu da cadeia mais esquerdista do que entrou.
noticias.uol.com.br/politica/ultim…

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Contudo, a thread não é sobre a Lava Jato, já muito criticada, mas sobre o antilavajatismo.
Read 11 tweets

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