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— Queria te pedir uma coisa.
— Fala, pai.
Ele fungou mais alto. Eu preocupado.
— Fala, meu pai. O que foi?
E ele, do lado de lá, antes de bater o telefone.
— Nada.
Fez isso algumas vezes;
— Eu queria que você fosse assistir ao jogo hoje com o seu irmão.
Eu ri.
— Já combinei com ele, papa.
— Queria que você fosse com uma camisa do Vasco. Eu pago! Eu pago! - gemia;
— E me mande uma foto de vocês dois, por favor, meu filho! - meu pai nunca foi de dengo, esse “meu filho” parecia dito pela minha bisavó.
Não disse nem que sim, nem que não. Fiz lá meu charme, acalmei o coroa, desligamos o telefone;
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— Pai? - repeti muitas vezes.
Depois de uma fungada ruidosa como as que ele dá quando o caboclo Tupinambá baixa, ele disse:
— Obrigado, meu filho.
E bateu, sem dizer nada, o telefone na minha cara;
“Passarei, como os craques passam,
de passagem,
deixando com você,
como homenagem,
meu coração calejado, na colina mais alta,
devidamente marcado pela Cruz de Malta.”;
O futebol, ele é maior que a vida.
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