Thread by @_SilenceWllFall

Ah pronto, la vem os críticos de arte de buteco falar sobre o funk. Serei obrigada a cometer um fio:
Históricamente, desde a idade média, o ofício do músico (o que executa a música, não o que a compõe) é considerado baixa cultura, pois tocar o instrumento, vejam só,

é um trabalho braçal.
Pula pra América pós invasão europeia.
Pois bem, se música é um trabalho braçal, quem vai execuata-lo? Os negros, óbvio, isso é bem visível no período barroco em Minas e nas plantações de algodão nos EUA.
Nos EUA, inclusive, os negros foram

privados de seus instrumentos que remetem a África, foram proibidos de tocar tambores, coisa que aqui não aconteceu. Lá, inventaram o Jazz e o Blues que ficaram à margem da sociedade por muito tempo (pau no seu cy, Adorno). Pausa aí.

Aqui os negros puderam manter os tambores e criaram muitos ritmos, vários tipos de samba, maracatus... e a música seguiu marginalizada.
Sabe quando jazz e rock foram aceitos? Quando os brancos se apropriaram deles, quando Elvis por ex pegou todo esse repertório e pos a cara dele

E isso só vai começar a acontecer em 1940, no caso do jazz. Foi ontem! (Alguém aí assistiu the Green Book?)
No Brasil a coisa toda só começou a melhorar lá pela década de 30 também. Mas a passos lentos.

Corta pro final do século XX - com a apropriação branca e a mudança de costumes a música deixa de ser vista como trabalho braçal, grandes artistas fazem fama e fortuna. E de repente, a população negra e periférica não tem mais acesso aos instrumentos e a prática musical.

É aí que entra a parte eletrônica da coisa toda, já que não podem mais comprar instrumentos, nem ter aula, surgem outros meios de fazer música: batidas programadas e samplers (pedacinhos repetidos de outras músicas), com vocais muito próximos ao Rap e ao Samba.

De início muito parecido com um ritmo chamado Miami Bass o funk foi ganhando suas formas.
Li um zé aqui que falou que a moda do funk vai passar, beloved, esses dias eu estava ouvindo funk dos anos 90. São trinta anos, quirido.
O fofo tbm disse que o ritmo não deixa legado

Eu fui a um show da MIA com a Deize Tigrona no começo dos anos 2000, lá se vão quase 20 anos.
O funk é um fenômeno não só pelo o que ele arrasta, mas pq ele devolveu a música aos negros, pq ele faz, todos os dias um retrato da população periférica, tá aí a Feira de Acari

e o Rap das Armas, so pra dar dois exemplos rápidos.
E por fim, sobre o argumento: aiiii mas os pais sabiam onde os filhos estavam? Quando rolou aquela tragédia horrenda da boate Kiss, ninguém fez essa pergunta né?

Ps: mas nao menos importante, eu conheço gente branquíssima que paga os olhos da cara pra ir em baile de DJ branco e ninguém nunca foi lá questionar a cultura, a droga, a letra, porra nenhuma. Mais de 200 reais o ingresso, inclusive.