Esse texto tem umas boas sacadas (mas o humor excessivo torna a coisa caricata). Mas a rigor, meu maior acordo com ele é simples: criar um segmento burocrático com mais poder e privilégio que os trabalhadores não é a minha ideia de socialismo.
Mas uma ressalva: no caso da Coreia do Norte, contudo, esse segmento não é só burocrático...é militar mesmo, pois depois da morte de Kim Il-Sung, o filho dele, Kim Jong-Il, inaugurou uma política chamada Songun (선군) que coloca os militares em primeiro lugar.
De fato, Songun literalmente significa "militares primeiro".
Os apoiadores da linha dizem que na diretriz do Kim Jong-Il, estava prevista a militarização da sociedade para a sua auto-defesa.
Mas esquecem de dizer que há uma rígida hierarquia militar no exército norte-coreano.
Os apoiadores da linha dizem que na diretriz do Kim Jong-Il, estava prevista a militarização da sociedade para a sua auto-defesa.
Mas esquecem de dizer que há uma rígida hierarquia militar no exército norte-coreano.
Assim, aceitar a proeminência dos militares é aceitar também a proeminência de que a hierarquia do exército regula a sociedade (e, num Estado burocrático, isso significa controlar produção, distribuição e consumo).
Tanto cientistas sino-americanos como Cheng Chen quanto historiadores brasileiros como Paulo Vizentini, de diferentes lados políticos aparentemente, destacam que a força do Songun gerou um novo nacionalismo norte-coreano e que...
...a proeminência dos militares garantiu um outro papel diplomático internacional para a Coreia do Norte, forçando a mão nas negociações depois da queda da URSS e garantindo a soberania do país contra o imperialismo americano. Eu reconheço isso.
Porém, isso não significa que essa posição seja inerentemente socialista. Pelo contrário: à medida que o Exército cumpre um papel de primazia na organização social, ele se equipara ao partido e se torna representante da vontade popular.
Mas ele é? Se toda população é militarizada, por que então é a hierarquia do Exército que se valoriza e não outras instituições como os partidos de massa? Ou instituições cívicas, que são inerentemente mais igualitárias (só olhar para os comitês de bairro em Cuba)?
Alguém pode dizer que os partidos são também entidades burocráticas e hierárquicas. Vale a ressalva, embora nem todo partido seja assim - e as lutas internas são constantes.
Mas convenhamos, no Exército não tem disputa. A hierarquia é garantida pela ordem e pelo comando.
Mas convenhamos, no Exército não tem disputa. A hierarquia é garantida pela ordem e pelo comando.
Na raiz de tudo isso tem uma discussão sobre a militarização e socialismo, sobre auto-defesa, sobre que tipo de socialismo queremos e por aí vai...
Então, queridos e queridas, as esquerdas disputam os sentidos das suas experiências. E não, eu não defendo a Coreia do Norte.
Então, queridos e queridas, as esquerdas disputam os sentidos das suas experiências. E não, eu não defendo a Coreia do Norte.
"Ah, mas o mundo não é o que queremos". Verdade. É por isso que a gente luta e disputa ele. Se omitir dessas disputas indica, no mínimo, conivência com o atual estado das coisas.
E se a sua ideia de socialismo envolve bajular general de cinco estrelas, a minha não.
E se a sua ideia de socialismo envolve bajular general de cinco estrelas, a minha não.
