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Eu poderia fazer uma live. Economizaria muita tempo de digitação, mas vou fazer uma thread mesmo, em defesa de todos os amontoados de muita coisa escrita.

CENA 01
Ext. Dia.
É domingo. Faz sol. Estou sozinha em casa e resolvo ir até a piscina pública do Estádio do Pacaembu.
..
Arrumo minhas coisas, coloco um fone, ligo um som e vou caminhando até a esquina da minha rua, até a Praça Esther Mesquita, conhecida como Praça do Coco, onde fica a banca de frutas (e coco) da Jane. Tudo certo. Para ir até o Pacaembu, desço uma escada ao lado da banca.
Assim que comecei a descer a escadaria, distraida com a música e olhando o relógio (eram 14:30 h), vi, no meio da escada, um homem de uns 50-60 anos, com o membro pra fora da bermuda, terminando de mijar, pois havia uma imensa poça na escada). MInha reação ao ver a cena foi de
susto, indignação, nojo, desconforto, violação, medo e todas essas coisas que toda mulher já sentiu diante desse tipo de situação. Gritei horrorizada algo como 'quiquiosenhortafazendo?!?!??'. O homem, ao se sentir flagrado, fez aquilo mesmo, partiu pra agressão. Veio pra cima de
mim, berrando pra eu cuidar da minha vida, ñ encher o saco, ir embora, sentou-se na mesa com o amigo que o esperava tomando um coco. Fiquei em pé, diante da mesa dele e ele berrando comigo. Sei que todos os mijadores vão defender o cara (da dir.)
o homem, vão questionar minha sexualidade (nunca viu um homem mijando? qual o problema?). Primeiro que ele não procurou nem ao menos se 'esconder no mato', ele mijou na escada onde eu ia passar. Não sei você, mas não curto pisar em poça de mijo de havaianas. Galocha? Talvez. Seg
undo, que ele poderia ter pedido desculpas, explicado, ou qualquer coisa em vez de ME agredir. Atravessei a rua, peguei o celular e vi que o homem começou a vir atrás de mim, me intimidando. Fiquei com medo, de verdade e pedi ajuda pro porteiro de um prédio que falou pra eu
ligar pro 190 e pedir proteção. Liguei. Quando ele me viu falando ao telefone ao lado do porteiro ele se escondeu atrás de uma árvore. O porteiro foi embora e eu fiquei falando com a atendente da Policia Militar, que me fez mil perguntas vendo ele vindo em minha direção. O ato
de tirar o pau pra fora e urinar no meio da escada passou p/ segundo plano (pesquisei e vi que isso não consiste necessariamente em ato obsceno conjur.com.br/2011-fev-25/es…) porque eu já estava com medo que ele fosse me agredir fisicamente. A PM demorou, ele voltou pra praça do coco,
pagou, pego o amigo, entraram num carro e foram embora. Eu fotografei o cara, o amigo, o coco, o carro, a placa. A Policia chegou, pediu meus documentos, disse que eu deveria ia na delegacia na 2a. feira, pedir video das câmeras de segurança do bairro, mostrar a foto, fazer
boletim, aguardar ser chamada pra depor e não sei mais o que. Eles foram embora, eu desisti de sair, voltei correndo e chorando pra minha casa. Ampliei a foto, vi a placa, o tipo de carro ano, mas pra saber o proprietário teria que pagar. E ai comecei a me questionar:
- publico
tudo no Twitter, com foto e tudo? Não, eu poderia ser processada por fazer isso.
Pago o serviço pra descobrir quem é o cara, faço pesquisa na rede, etc? Não. Porque eu tava ficando meio paranoica com o assunto. E a cabeça fazendo todas essas perguntas que a gente vê nos comments
"tanta gente morrendo e a sra preocupada com o xixi do véio?", "some daqui, vai cuidar da tua vida! não me enche a porra do saco!" (foi o que o senhor mijão me disse). Eu me senti tão sozinha, tão insegura, tão mal, tão IMPOTENTE, que não fiz nada. Não tenho banda mental pra
fazer, não quero gastar tempo e dinheiro, não quero ter que ir na delegacia e, sobretudo, não quero ter mais NENHUM ponto de contato com esse homem. Eu não me deixei intimidar e fiquei firme até ELE ir embora, porque ele não pode me expulsar da rua onde moro há 26 anos. Ou pode,
se tiver uma arma. Tudo isso pra dizer que a violência tomou conta de boa parte da população. Que quem está errado se sente fortalecido e legitimado pra acuar quem flagra o erro e ainda parte pro ataque. Que TODAS as pessoa à volta não querem nem ajudar nem se meter (Isso é
muito Black MIrror). E que, sim, eu poderia ter olhado, dado a volta, pegado o caminho mais longo para não passar na escada mijada. Mas pense nesse incidente como um exemplo do estado em que nossa sociedade se encontra. O cidadão mija no seu caminho, as pessoas cagam pra você
e no fim das contas, você ainda vai ter gente aplaudindo o mijo, a escada, o pau pra fora, o coco e dizendo pra mim 'bem-feito', quem mandou querer tomar sol na piscina pública em vez de lavar a louça.
(eu já tinha lavado a louça)
Desde ontem, estou muito triste.
Com tudo.
(era sábado, na vdd, domingo é hoje)
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