Eu fiz piada com o secretário de cultura, mas tinha um fundo de verdade — como toda boa piada, aliás.
Quem se preocupa com arte não deve pensar muito em cargos públicos. Planejar edital é exatamente o oposto de fazer um trabalho criativo. A arte nasce do gênio individual.
A obra de Elomar será ouvida e estudada décadas depois que ele tiver morrido, independente do governo.
Complementarmente, se tivessem dado a ele um cargo de ministro ou deputado, ele ficaria ocupado com projetos de leis e seria esquecido já no mandato seguinte.
Além da estética bizarra, o erro do secretário foi achar que o governo — qualquer governo — vai gerar arte. Não é assim que funciona.
No fundo, no fundo mesmo, política é uma coisa de gente preguiçosa e impaciente. Eleição tem ano sim, ano não. Notícia política é de 15 em 15 minutos. A relação estímulo-resposta é muito curta, o que atrai mentes distraídas.
Quem quer construir realmente algo de valor, passa décadas trabalhando sem aplausos. Ganhar eleições, dinheiro ou edital são distrações. Você tem que passar anos colocando energia diária naquilo para colher só na lá frente — com muita sorte.
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Provavelmente o erro mais comum de jovens ambiciosos é ouvir pessoas bem-sucedidas explicarem seu sucesso.
Com a exceção de pessoas com um nível de auto-consciência acima do normal, ninguém sabe explicar porque elas são o que são.
Quase todo sucesso é devido a uma combinação..
... de conhecimento tácito, características de personalidade e elementos contextuais.
Por definição, as pessoas não sabem explicar essas três coisas. Se você perguntar porque elas "deram certo", mesmo sem querer, elas vão criar uma racionalização disso (no sentido de ficção).
O segundo erro é procurar dominar técnicas -- nenhuma delas funciona independente do contexto.
Mas mesmo se curar desse erro não faz tanta diferença, porque a pessoa provavelmente vai esbarrar em fatores de personalidade que vão impedí-la de avançar.
O texto do Carlos Ramalhete sobre Olavo é péssimo, mas fiquei com a impressão que o autor é apenas confuso mesmo, e não mau-caráter.
Não me parece valer a pena discutir com o autor, que teve ao menos a decência de relatar mais um dos incontáveis casos de caridade de Olavo.
Mas preciso também me lembrar do que o Olavo ensinou para a gente: burrice e mau-caratismo não são excludentes.
Às vezes a burrice deixa o cara mais despeitado; às vezes o despeito deixa o cara mais burro.
O texto do Ramalhete me lembrou os textos do Martim: “olhe que absurdo esse cara; ele ajudava todo mundo, inclusive a mim mesmo, mas…” e aí segue um monte de argumentos superconfusos.
Há um ano da próxima eleição, creio que não dá para negar: a direita brasileira está em maus lençóis.
Depois do triunfalismo após Brexit, Trump e Bolsonaro, a esquerda está vencendo todas as brigas.
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Existem muitos diagnósticos sobre o que aconteceu.
Eu mesmo já escrevi muito sobre como o termo "nova direita" já antevia a bronca: a direita não tinha unidade; era apenas o grupo de antipetistas que logo começaram a se esfaquear após as eleições.
Outro diagnóstico importante foi do @silviogrimaldo ainda no começo: a direita não tem quadros e militância organizada.
Ela venceu a eleição, mas não tinha tropas para tocar a máquina administrativa e fazer o corpo-a-corpo da disputa política.