Segue um fio (longo) sobre fascismo e liberalismo. Já que o Carnaval não é tão agitado aqui em Durham, resolvi seguir uma dica de um dos ótimos vídeos do @obrigahistoria, e finalmente, li o livro de Donald Sassoon "Mussolini e a Ascensão do Fascimo" 👇🏿
Neste fio vou me ater a citar alguns trechos do livro, com poucos comentários. Antes, vale mencionar dois trechos de outra obra que também são mencionados no vídeo do @obrigahistoria, dada a importância para a compreensão da relação fascismo e liberalismo: 👇🏿
“Queremos retirar do Estado todos os seus poderes econômicos. Basta de ferroviários estatais, carteiros estatais, seguradoras estatais. Basta deste Estado mantido à custa dos contribuintes e pondo em risco as exauridas finanças do Estado italiano". 👇🏿
"A polícia deve permanecer, pois protege as pessoas honestas de ladrões e malvados, o educador estatal deve permanecer, em benefícios das novas gerações; as Forças Armadas devem permanecer, pois protegem as fronteiras da Pátria; e a política externa deve permanecer". 👇🏿
“O Estado, com sua enorme máquina burocrática, é asfixiante. O indivíduo podia tolerar o Estado quando era simplesmente um soldado ou um policial. (...) O Estado controla tudo, causando apenas danos: cada uma de suas atividades é um desastre". 👇🏿
Os excertos acima foram retirados de textos contidos em “Opera Omnia", reunião de escritos e discursos de Benito Mussolini. Agora, falemos do livro de Sassoon. 👇🏿
“Como reagiram os liberais diante de Mussolini? Em 1922, depois da “Marcha sobre Roma”e da nomeação de Mussolini para a chefia de governo, a maioria deles deu boas-vindas ao fascismo, assim como a maior parte do establishment liberal”. 👇🏿
Mas por que o fizeram? Eram convictamente fascistas? Afinal, não é simplista demais achar que todos os industriais tinham o mesmo interesse no autoritarismo? Donald Sassoon explica: 👇🏿
“Entretanto, como a produtividade italiana era inferior à dos concorrentes estrangeiros, todos queriam salários baixos. Havia, portanto, bons motivos para se posicionar contra greves, sindicatos e socialistas, [...]👇🏿
alinhando-se com aqueles que reprimiam greves, incendiavam as propriedades dos socialistas e consideravam traidores os trabalhadores filiados a sindicatos”. Enfim, o importante era derrotar a esquerda. Já ouviram isso em algum lugar? 👇🏿
Nos conta Sassoon que Ettore Conti, presidente da Confindustria (uma espécie de FIESP italiana), entusiasmado com o despertar patriótico a e anti-socialista dos italianos, disse que se Mussolini conseguisse “esquecer de onde veio e obter o apoio de outros partidos, 👇🏿
[...] será capaz de beneficiar o país”. Mussolini, uma semana antes da “Marcha sobre Roma” dissera: “Nossas políticas serão completamente liberais”. E eis que todos dormiram tranquilos, pois o perigo socialista já não se avizinhava. 👇🏿
E, por fim, sobre Exército e a Polícia: “O apoio tácito ou declarado das polícias locais e dos carabinieri (a polícia paramilitar nacional) foi decisivo para o sucesso do fascismo. Em muitas ocasiões os meios de transporte dos fascistas eram assegurados pelo Exército" 👇🏿
"O crescimento do movimento fascista, de acordo com Adryan Lyttelton, 'foi fortemente ajudado e às vezes até propiciado pelo exército regular (...) Os altos escalões do Exército continuavam a encarar o movimento fascista com cautelosa benevolência'". Bem, é isso.
Complemento: este fio é um chamado para que enfrentemos as complexidades e contradições na política. Houve liberais que pagaram caro por não aderir ao fascismo e ao anticomunismo; mas houve aqueles que, sem deixar de reivindicar o liberalismo, se refestelaram no fascismo.
