Meus alunos e alunas sempre me perguntam: "devo ler autores que eu não 'gosto' ou não concordo como, por exemplo, Locke, Kant, Hegel, Marx, Carl Schmitt, Oliveira Vianna e Gilberto Freyre?" Segue 👇🏿
Respostas: se depender de mim vão ler mais de uma vez e com muito rigor. Ler estes autores está além de uma questão de "gosto" pessoal. A questão é que se você não ler: 1) não entenderá como nosso mundo foi constituído; 2) ficará à mercê de falsários e charlatões. 👇🏿
Eu disse em outro fio: não se entende o que é política, direito, economia e o imaginário social sem que tais autores sejam analisados em suas complexidades e a partir da diversidade de interpretações e debates que suas obras ainda ensejam. 👇🏿
Exemplos: quem não lê Kant, não entende Hegel, e sem os dois fica impossível ler Marx; "O Capital" não existiria se Marx tivesse de recusado a ler Smith e Ricardo caso "não gostasse deles". E quem não lê Marx, duvido que entenda boa parte dos principais debates contemporâneos.👇🏿
O que seria de Sartre sem Descartes, Kant, Hegel, Marx e...Heidegger? O mesmo Heidegger tão importante para Foucault e para a liberal Hannah Arendt. A mesma Hannah Arendt que é citada atualmente por Achille Mbembe, que também leu Fanon, Marx e Heidegger. 👇🏿
Não se "gosta" de Fanon recusando a leitura da "liberal" Arendt ou do "comunista" Marx. Até porque Fanon não é questão de gostar: se você não lê Fanon, não compreende como o colonialismo atua em todas as suas dimensões. E bel hooks leu Marx, só para constar. 👇🏿
Há interpretações de Hegel que consideram que ele fundamenta o colonialismo? Há, com muitos bons argumentos. Há interpretações que destacam a importância de Hegel para pensar a superação do colonialismo? Também há, como fizeram Cesaire, Fanon, Sartre e Susan Buck-Mors. 👇🏿
No Brasil, Gilberto Freyre é um autor incontornável. Qual a relevância de eu gostar dele quando sua obra ainda tem efeitos devastadores sobre todo o pensamento brasileiro, tanto à esquerda como à direita? Eu preciso ler esse autor, entender suas minúcias, suas complexidades. 👇🏿
Sim, e há liberais a favor da escravidão e outros contra a escravidão, e essas contradições fazem parte da história do liberalismo. E isso se dá porque a vida e as teorias que sobre ela se faz possuem enormes complexidades que temos que estar dispostos a enfrentar.
