Em conversa com uma amiga que é historiadora, gosta, mas não acompanha muito futebol, ela me perguntou
- Nanda, pq nenhuma seleção africana conseguiu vencer a Copa do Mundo?
Fiquei pensando sobre isso e não a respondi de imediato, porque achei que precisava pensar. Segue:
- Nanda, pq nenhuma seleção africana conseguiu vencer a Copa do Mundo?
Fiquei pensando sobre isso e não a respondi de imediato, porque achei que precisava pensar. Segue:
Pois bem, pensei e, claro, não cheguei a conclusões, mas fiz considerações sobre o assunto. Em primeiro lugar, me vem à cabeça toda a questão de exploração dos países africanos por parte dos europeus. Por muito tempo os povos e os territórios foram violentados.
Infelizmente não conheço a fundo a história de todos os países africanos, mas sei que pelo menos boa parte deles foi invadido e devastado culturalmente, socialmente, politicamente, artisticamente, psicologicamente, apesar de todas as resistências contra isso.
Os europeus, como fizeram com países da América do Sul, tipo o Brasil, Argentina, Uruguai, levaram o que tinham de melhor e deixaram caos. Isso se reflete no futebol. Enquanto os países da Europa se desenvolveram rapidamente, os da África lutavam para se reconstruir.
Para erguer e fortalecer identidades, costumes, economia. A migração de pessoas oriundas dos países invadidos para os países invasores foi e ainda é enorme. Vimos na Copa de 2018 a discussão sobre a quantidade de jogadores de origens africanos jogando por seleções europeias.
Muitos nasceram em um país e tiveram que acompanhar seus pais até outro na busca por melhores condições de vida; tantos outros nasceram em países da Europa, porque seus país migraram antes deles nascerem. Essa é uma das heranças mais tristes da violência europeia.
A de ter que abandonar seu próprio lugar para não morrer de fome; a construção da ideia de que lá é melhor do que o seu próprio território. Os países africanos formam ótimos jogadores, que normalmente se dirigem aos grandes times do cenário mundial sempre com a ideia de sucesso.
Dentro dos países do continente africano, o futebol não teve condições de se desenvolver tanto quanto em outros lugares, seja nos explorados, como Brasil, Argentina, Uruguai, como nos que exploraram (Espanha, Portugal, Inglaterra). Havia assuntos mais importantes do que isso.
Sendo assim, as seleções, por muito tempo, não conseguiam competir em pé de igualdade com as da Europa ou da América do Sul. Conseguiam se classificar para a Copa, mas eram raras as vezes que chegavam até as fases finais. Nas semifinais, nunca chegaram, inclusive.
Mesmo com craques e ótimos jogadores que eram titulares nos principais times do planeta, alguma coisa ainda travava o avanço nas competições. Hoje o cenário é um pouco diferente. Muitas se destacam contra seleções campeãs. Gana, Camarões, Senegal... mesmo assim, não vencem.
No tempo em que os países africanos tiveram que se preocupar com questões humanitárias fundamentais, os de outras localidades estavam bem distantes se se atentando e discutindo questões diversas, como o desenvolvimento do futebol, suas técnicas e táticas.
Foi isso que me ocorreu quando parei pra pensar sobre o assunto. Podem dizer "ah, mas nenhuma seleção da Ásia, Oceania, da América do Norte, venceu". Claro, tudo bem, mas nenhum desses lugares produzem tantos bons jogadores quanto o continente africano, o parâmetro é diferente.
Ainda nesse aspecto, sei que no continente outros esportes são bem populares, como o atletismo e o rugby, mas de novo bato na tecla dos ótimos jogadores que saem de diversos países de lá e dos outros que nasceram, mas tiveram que ir embora e escolheram jogar por outra seleção.
Essa é apenas uma das perspectivas de leitura e discussão do tema. Podemos entrar nas questões da qualidade dos jogadores bons ser menor do que a de atletas de outros países, dos desenvolvimentos estruturais do esporte, das formações dos jovens, das saídas muito cedo, culturas...
Sempre lembrando que a África é grande demais e não é um só país, como muitos acham, então os contextos são diferentes e devem ser considerados. É isso. Quem quiser trocar, com educação, uma ideia sobre o assunto, só chegar.
Só queria lembrar que não sou historiadora ou socióloga, então quando dou opinião por aqui sobre alguma coisa, ela geralmente não tem n teorias por trás, é só um disparador de discussão. Claro que leio muito, mas não tenho nem a coragem de afirmar algo e fechar o diálogo.
