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Essa imagem causa estranhamento. Talvez as pessoas só sintam pelo Pelé, maior jogador brasileiro, estar vestindo o uniforme da arquirrival da nossa seleção. Mas há outro ponto nela: um jogador negro com a camisa da Argentina. Pense em quantos você já viu. Agora segue o fio:

Segundo estudos, a população negra da Argentina é de, no máximo, 6% (pode ser de 21% em alguns locais específicos do interior), o que provoca algumas indagações, visto que o país foi explorado pela Espanha e chegou a ter cerca de 50% da população composta por negros escravizados.

Há que se deixar claro que os exploradores preferiam escravizar os índios e só utilizavam os negros quando a primeira opção fosse dificultada por algum motivo. Mesmo assim, a compra de negros nos portos de Buenos Aires era enorme.

Então o que aconteceu com os negros argentinos?

Com a abolição oficial da escravidão, as pessoas escravizadas foram abandonadas à própria sorte. Com péssimas condições de moradia, alimentação, higiene e saúde, eles foram os principais alvos das epidemias de cólera e febre amarela nas décadas de 1860 e 1870.

Os que não morreram doentes, morreram nas guerras da Independência, contra o Paraguai e em outros confrontos. Os homens negros do país eram enviados nas linhas de frente sem o menor treinamento/instrução. Imaginem só a facilidade com que morriam enfrentando tropas bem preparadas.

Além dessas situações, tinha o fato de que as mulheres negras não engravidavam de homens negros. Havia uma atenção voltada para que as pessoas escravizadas não se relacionassem, então a taxa de nascimentos era bem baixa.

O argumento dos exploradores era de que gravidez prejudicaria o trabalho e que a mulher poderia morrer no parto, passando a ser menos uma nos afazeres. Algumas de pele mais clara eram estupradas por homens brancos, mas aí as crianças nasceriam "menos negras", menos problema.

Sendo assim, a quantidade de negros diminuiu drasticamente com o passar dos séculos e o que se percebeu foi o embranquecimento da população argentina. Isso, claro, se reflete no futebol. Um exemplo do embranquecimento pode ser visto nos Da Graca, uma família de jogadores.

A maioria dos atletas argentinos negros que tiveram destaque no futebol em seu próprio país atuaram no século passado. Veja os conhecidos:

José Laguna - Huracán (déc. 1910)
Miguel Dellavalle - Belgrano (déc. 1920)
Alejandro de los Santos - San Lorenzo, Huracán (1921/1931)

Rinaldo Fioramonte Martino - San Lorenzo (déc.1940)
Alberto Arcángel Britos Ramos - Independiente (1952/1959)
José Manuel Ramos Delgado - Lanús, Banfield (déc. 1960)
Héctor Rodolfo Baley - Colón de Santa Fe, Talleres, Huracán (1975/1982)

Ernesto Picot - San Lorenzo (1947/1954)
Julio Luis Benavídez - Boca Juniors (déc. 1930)
Jorge Trezeguet - Estudiantes de Buenos Aires, Almagro, Deportivo Español, Sportivo Italiano (déc. 1970)
Miguel Ángel Ludueña - Belgrano, Talleres, Racing, Independiente (décadas 1980 e 90).

Por esses motivos é tão difícil vermos jogadores de pele escura nas escalações da seleção e até nos times (quando tem, geralmente são de outros países).

@tourinho_victor

@tourinho_victor

Agradeço ao @tourinho_victor pela sugestão de pesquisa sobre o tema.

A ilustração do Pelé com a camisa da Argentina foi feita pelo Marco Aurélio Valentim.

E só pra terminar, esse assunto tem mais elementos, mais pontos de vista, mais conteúdo pra ler e discutir. O que postei aqui talvez seja apenas um resumão sobre o tema, um ponto de partida pra gente pensar e continuar pesquisando, ok? Talvez aprofunde mais em um vídeo.