Vão me desculpar, mas a ideia de lugar de fala se tornou lugar de cala. Dizer que brancos não podem usar a palavra “linchamento” é demasiado. A sua origem remonta ao “justiçamento” (sic) atroz de inimigos promovidos por um militar americano, Charles ou William Lynch, há dúvidas.+
O primeiro a usaria contra britânicos contrários à independência americana.; o segundo para “manter a ordem”. A prática, que ocorre há séculos em vários lugares do planeta, difundiu-se nos EUA contra indígenas e, principalmente, negros – por parte da Ku Klux Klan. +
Mas o termo se autonomizou. Como, aliás, sempre ocorre com a linguagem. Negar a membros de uma sociedade o uso da língua por sua cor é estapafúrdio. Segrega. Aliás, o problema de certa militância identitária é que ela, por vias transversas e paradoxalmente, é segregacionista. +
Tal militância é antipluralista justamente pelo seu caráter segregacionista. Ao clamar por direitos, baseia o pleito numa estratégia de segregação. Só alguns podem contar certas histórias, tratar de certos temas, falar certas coisas. Se não respeitarem essa regra, pau neles. +
A ideia vem ainda acompanhada do argumento fácil e irrefutável (por isso absurdo) do preconceito/racismo estrutural. Quem comete o “deslize”, sobretudo se marcado pelo pecado original de não ser do grupo com lugar de fala, ou beija a cruz e reconhece seu pecado, ou é cancelado. +
A culpa é estrutural e inescapável; a expiação é individual. Novo paradoxo. Mata-se qualquer possibilidade de empatia e de convivência plural. Segrega-se em nome de combater o preconceito e a discriminação. À esquerda identitária da tiros no pé e nos seus aliados.
