Thread by @claudio_couto

Um presidente conspira contra seu ministro mais popular e ameaça retirar-lhe poder, mesmo reconhecendo que o subordinado não gostará disso. Na verdade, conspira justamente porque o ministro é popular e, assim, visto como ameaça. +
www1.folha.uol.com.br/poder/2020/01/…

Mesmo que seja um blefe, a jogada produz ruido e gera desgaste. Mas esse é um governo cujo modus operandi é o da produção constante de ruídos, mesmo que ao preço do desgaste. Ao mesmo tempo que se desgasta, corrói o ambiente que o cerca. Neste caso, porém, a jogada é arriscada. +

Sem o ministro popular e, ainda pior, demonstrando que o frita, o presidente se desgastará junto a setores que hoje o apoiam porque veem nele e em seu ministro um mesmo projeto. De certa forma, são mesmo: ambos autoritários e um construído com a ajuda do outro. Mas têm ambições.+

Suas ambições competem. O presidente constrói um partido cartorial-autoritário. O ministro o seguirá? Ele dispõe de alternativas, visando a 2022, no campo da direita. Por exemplo, o Partido Novo, de ideário e base convergentes aos do ministro, sem a rusticidade de Bolsonaro. +

Se jogar o ministro ao mar, talvez o presidente lhe faça um favor. Se colocar sob o novo ministério uma PF manietada nas investigações sobre a família e seus liames milicianos, dará a Moro ainda mais legitimidade: terá saído do governo por não compactuar - seja ou não verdade. +

O tempo conta. É ano de eleição e em breve abrir-se-ão vagas no STF. Se romper com Moro, não o nomeará para a Corte. Se a saída ocorrer sem maior estardalhaço, porém, ainda terá essa carta na manga. Mas o juiz já deixou a magistratura por um voo político. Não o faria de novo? +

Moro perde mais vinculando-se a Bolsonaro que afastando-se dele. Bolsonaro perde mais afastando o ministro, mas o teme. Seguindo por tal frente, o presidente dificulta o próprio caminho. Ganhou ao levar o ministro para o governo; perde se expulsá-lo, mas o fustiga todo o tempo. +

Vale lembrar algo: se houver estratégia, isso não significa que se trata de uma que funcione bem. Pode ser bem o contrário. E, normalmente, paranoia e deslealdade são companheiras ruins de estratégias.