Não faria sentido numa hora dessas de sexta, mas tá todo mundo em quarentena, espero, então vou fazer o 🧶 com a história que pelo jeito foi a mais lida na Globo.com entre esportes. Por que Ronaldo comprou o Real Valladolid, na Espanha, em vez de um clube no Brasil? 
1º motivo: o Real Valladolid era um clube praticamente falido anos atrás, mas não é mais. O balanço do clube encerrado em 2013 mostrava € 63 milhões em dívidas e € 18 milhões em receitas. A diferença de 3,5 vezes entre um e outro serve como indicador de como as coisas iam mal.
A história de como o endividamento foi reduzido é uma. O Real Valladolid, como muitos clubes espanhóis, usou um mecanismo chamado recuperação judicial. Basicamente, ele chamou credores para renegociar as dívidas de maneira coletiva e mediada pela Justiça. Isso antes do Ronaldo.
Nessa recuperação judicial, o Real Valladolid conseguiu um desconto de nada menos do que 70% de suas dívidas e um prazo confortável para pagar, oito anos. Em tese, os credores poderiam ter recusado a proposta e causado a falência do clube, mas eles foram convencidos a aprová-la.
Precisamos ressaltar que a recuperação judicial é questionável. Na Espanha, clubes tiveram benefícios que empresas comuns não têm. O próprio Real Valladolid conseguiu desconto e prazo acima do que lei permite. Para entender melhor, aí vai um texto meu.
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Condenável ou não, fato é que o Real Valladolid reduziu seu endividamento. No balanço de 2018, ainda com parcelas da recuperação judicial a pagar, havia € 45 milhões em dívidas – grande parte de longo prazo. Com € 54 milhões em receitas, já estava muito melhor do que em 2013.
2º motivo: a televisão. Tocamos no assunto no último fio, mas vamos recapitular: em 2015, o governo espanhol interveio no futebol e forçou a mudança da venda dos direitos de transmissão. Em vez de ser feita individualmente, modelo favorável a Real Madrid e Barça, virou coletiva.
A LaLiga conseguiu redistribuir o dinheiro da televisão. Também aumentou a quantidade de grana distribuída ao incrementar, a partir de 2016, a venda dos direitos internacionais do Campeonato Espanhol. Repare no gráfico como a linha amarela subiu mais do que a cinza desde então.
Por que isso importa para o Ronaldo no Real Valladolid? Porque um clube de primeira divisão larga na frente em termos de grana. Daqueles € 54 milhões em faturamento que já citamos, nada menos do que € 48 milhões estão ancorados nos direitos de transmissão vendidos pela LaLiga.
É verdade que o Real Valladolid vive no limite para a segunda divisão. Os executivos contratados por Ronaldo sabem que, com o orçamento atual, o desafio é permanecer no Espanhol. Por isso estão trabalhando para achar novas receitas: patrocínios, bilheterias, sócios-torcedores.
3º motivo: a estabilidade financeira do mercado espanhol. Manja o fair play financeiro que a CBF promete apresentar logo para o futebol brasileiro? A LaLiga tem uma das versões mais rígidas da Europa – mais rígida até do que o fair play financeiro da Uefa na esfera continental.
O controle orçamentário é feito de maneira prévia pela LaLiga. O Real Valladolid precisa informar no início da temporada, por exemplo, quais são as receitas previstas para o ano. E não é só chutar um número. O clube precisa apresentar contratos e provar que chegará à previsão.
No lado dos custos, por mais que o estafe de Ronaldo ache que está na hora de arriscar para ficar na primeira divisão, o sistema da LaLiga impede que o clube gaste mais do que a receita. A liga considera sempre o pior cenário financeiro, como se todos os bichos fossem ser pagos.
É pior para clubes médios como o Real Valladolid? No curto prazo, pode ser que sim. Vai que a contratação além da conta segura o time na primeira divisão. Mas eles sabem que é uma questão de segurança para todo o mercado. Os clubes precisam pagar em dia, ter dívidas controladas.
Por que comprar um clube de futebol na Espanha, e não no Brasil? Não se trata de a estrutura ser S/A, SAD ou associação civil sem fins lucrativos, isso é o de menos. O que levou Ronaldo ao Real Valladolid foi a segurança de estar num mercado regulado e financeiramente saudável.
Se você chegou até aqui, dá aquela moral: retuíta e curte tudo. O texto sobre o Real Valladolid antes e depois de Ronaldo está no @globoesportecom. E ainda temos dois episódios especiais do podcast sobre futebol espanhol. Boa quarentena para todos nós!
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