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Diante de seus olhos, a (discreta) Renascença Psicodélica.

Por que, apesar de todo o fuzuê na mídia, a Ciência Psicodélica e o uso terapêutico dos psicodélicos ainda estão distantes de serem hegemônicos?

Segue a #aulacordel aí. Faz tempo que eu não faço uma, né?
Olhe o gráfico no tuíte anterior. Ele mostra, ao longo do tempo, um contagem do número de certos artigos científicos publicados no PubMed, o principal recurso de busca de artigos biomédicos, que é mantido pela Biblioteca Nacional de Medicina, dos EUA.

ncbi.nlm.nih.gov
Em azul nós temos o número de artigos anuais publicados, entre 1950 e 2019, com a versão em inglês das palavras 'dietilamida do ácido lisérgico' (LSD).

Em amarelo estão os artigos com a palavra 'psilocibina', o princípio ativo dos cogumelos alucinógenos.
Dá para ver claramente que o pico das pesquisas com psicodélicos, principalmente com o LSD, acontece em 1968, quando são publicados 250 artigos sobre a substância.

Depois que a substância é proibida, em 1970, as pesquisas - e os artigos - despencam assustadoramente.
A pesquisa atual com LSD ainda é uma fração dos anos ao redor da proibição - 76 artigos em 2019, mas vem ganhando força.

Da mesma maneira, a psilocibina, antes uma 'prima pobre' do LSD, vem ganhando mais e mais interesse e disputando o primeiro lugar com seu primo mais famoso.
Se somarmos todos os artigos com as duas substâncias desde 1950, são quase 6 mil textos no PubMed sobre psicodélicos.

Parece muito? Bem, se compararmos com os mais de 21 mil artigos já publicados sobre covid-19, que foi um termo criado agora mesmo em 2020, não parece muito, né?
Bem, mas alguém ligado no campo poderia perguntar:

"Levando em conta que a Psiquiatria parece ter chegado no seu limite com as ferramentas que tem, é inevitável o crescimento e aplicação das terapias psicodélicas, certo?"

Bem, na minha opinião, a resposta certa é SIM... e NÃO.
Toine Pieters, historiador holandês da Farmacologia, já debateu sobre este assunto. Nesta apresentação de 2016, Pieters argumenta que existe um modelo atual de tratamento na Medicina e na Psiquiatria que ele denomina de 'um alvo, uma doença, um remédio'.

Pieters diz que na época da era áurea dos psicodélicos a Psiquiatria era uma especialidade holística, muito influenciada pela Filosofia e Psicanálise, e pouco focada neste modelo mecanicista. Havia pouca preocupação com modelos específicos de tratamento das doenças mentais.
Uma das provas disso é que na bula do LSD - sim, já teve nome comercial e bula - uma das suas indicações era para que os psiquiatras tomassem a substância para que pudessem ter uma ideia, ainda que vaga, do que era ser uma pessoa psicótica.
De lá para cá, o paradigma do 'alvo único' tem dado forte sinais de que não dá conta de resolver os problemas trazidos pelos transtornos mentais.

E aí temos um dilema. Por um lado, a Psicanálise e posturas 'holísticas' ainda são bastante rechaçadas.
Por outro, ainda não surgiu, apesar das tentativas, um modelo biológico satisfatório para dar conta da complexidade dos transtornos mentais.

Ou seja, a Psiquiatria dá sinais de precisar de novos paradigmas, o que acomodaria a ideia da terapia assistida por a psicodélicos...
...mas por outro lado, a força do modelo mecanicista, fortemente financiado pela grande indústria farmacêutica, ainda é muito grande.

Alie-se a isso o preconceito ainda muito grande sobre pesquisar substâncias proibidas e que dão barato e... bum!
Temos aqui ainda muitos desafios a serem enfrentados dentro da Ciência. Curiosamente, o interesse público e da imprensa parece ser - até agora - muito maior que o dos financiadores, até porque estamos falando de drogas que, se funcionarem, darão muito pouco dinheiro à indústria.
Tudo vai depender, na minha opinião, da capacidade de abandonarmos o paradigma atual e realizarmos a ruptura com um modelo que, dentro da Medicina clássica, existe desde o século XIX.

Ou seja: precisamos apresentar evidências científicas? Sim.
Mas no passado, mesmo com métodos científicos questionáveis para os modelos que usamos agora, vários medicamentos psiquiátricos foram lançados no mercado.

Isso não aconteceu com os psicodélicos. Será que bastam apenas mais pesquisas para que eles sejam mais palatáveis hoje?
Ou será que o que precisamos, para que isso aconteça, é do nascimento de um novo modelo de Medicina, de Humano e de se relacionar com o Ecossistema?

Hippie? Pode ser. Mas talvez a questão aqui seja mais de visão de mundo do que de falta de evidências.

Vamos refletir sobre isso?
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