Se um liberal tivesse a casa invadida e sofresse junto com a família dele toda sorte de violências, ele jamais aceitaria o argumento: "na vida, quando você se confronta com um bando mais forte, e perde, acontece isso". Mas esse raciocínio vale para o "impeachment" de Dilma (1/8).
Ora, a Lei manda que seja comprovado crime de responsabilidade para haver impeachment. Se o julgador não é um juiz ordinário, mas sim o Congresso Nacional, isso não muda o fato que ele tem de decidir fundamentado na Constituição (2/8).
"Mas Hugo, havia o STF para verificar a legalidade do processo" - sim, havia e ele falhou na sua tarefa constitucional. Quando isso acontece, basicamente o sistema jurídico normalizou uma ilegalidade produzida, inclusive, por muitas de suas principais autoridades (3/8).
Nenhum "realista" defenderia isso, caso acontecesse com um governo que aplicasse. Essa é uma questão da Ética: o que acontece quando autoridades constitucionais não velam pelo sistema que, em último caso, fazem parte (4/8)?
Elas abrem uma caixa de pandora. Simples assim. Quando a normalidade normaliza o anormal, o que temos é a anomia: um estado *aquém* do bem e do mal, onde tudo é possível e ninguém está seguro (5/8).
Isso não é um raciocínio falho em um caso específico. É uma falha sistêmica do chamado liberalismo, que supõe a liberdade ser um fenômeno individual(izável) e não relacional. Em certos momentos, isso sai do controle. A máxima expressão disso é a doutrina da exceção (6/8).
"Precisamos retirar um governo que viole nossos preceitos, mesmo que ele não viole os procedimentos legais em si. Logo, violamos nós os procedimentos". No caso alemão, enfiaram isso na Constituição, o que serviu ao nazismo (7/8).
O resultado prático no Brasil, depois de um Impeachment sem crime foi uma série de crimes (de Estado e contra a humanidade) sem Impeachment, vitimando inclusive os algozes de outrora (8/8).
P.S.: os romanos, que nada tinham de polianismo, sabiam que o sistema jurídico se sustenta, em último grau no mos maiorum, não pela crença numa moral transcendente, mas por saber que o Direito só cura o futuro, não o presente, com os exemplos que ele produz no passado.
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O início dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 em Pequim é um evento político. Em meio a tentativas do Ocidente em isolar a China e Rússia, o tabuleiro se move com uma aliança sem precedentes entre Pequim e Moscou (1/12).
Embora muito mais antiga, a China tem inúmeros pontos de contato com a Rússia. Desde o fato, em comum, delas terem sido invadidas pelas hordas mongóis, o que moldou a identidade das duas até hoje (2/12).
A invasão mongol, embora destrutiva no curto prazo, foi detida e da resistência a ela, e a absorção de técnicas e métodos mongóis, os dois países caminharam para uma unificação sem precedentes (3/12).
O Washington Post soltou este artigo de Jeff Stein com destaque: é uma confissão do fracasso da administração Biden, mas a culpa é calculadamente colocada na esquerda socialista. É importante ler e entender esta farsa (1/7). washingtonpost.com/us-policy/2022…
Basicamente, para o Post as coisas iriam mal nos EUA porque Biden governaria com gente de Bernie e Liz Warren, os quais são descritos como "liberais" - que pode significar "progressistas" no dizer vulgar americano, mas isso é proposital para ignorar o elemento socialista (2/7).
O artigo ignora que a política econômica expansionista de Biden contrasta com tensões contra a Rússia e China, as quais impactam negativamente no curto prazo e, principalmente, nas expectativas (3/7).
Isto é a cotação do barril de petróleo nos últimos dez anos. Batemos o recorde de preço dos últimos sete anos com a atual crise ucraniana. Isso terá graves efeitos inflacionários, sobretudo em relação ao Brasil (1/7).
Há sete anos, no entanto, não havia a política de preços atual, inaugurada por Temer. Nesses anos, mesmo com uma pontada em outubro de 2018, grosso modo, o preço do barril ficou comportado. Só tivemos um choque cambial, que foi repassado para as bombas e já foi um estrago (2/7).
No cenário atual, com o barril aumentando de preço, o real depreciado e a política de preços, vamos tomar uma invertida se o sistema criado por Temer-Parente, e mantido por Bolsonaro, for aplicado (3/7).
Com a ida de Orban a Moscou, e as concessões russas de venda de gás para a Hungria, Putin racha a extrema-direita europeia. Se o AfD já estava rachado e Marine Le Pen do lado e Putin, os ucranianos têm ao seu lado os poloneses e o oportunismo do establishment europeu (1/7).
Em um momento em que nem o Brasil fala com o Brasil, e Biden voluntariamente escolhe não ter interlocução nem com Lula, nem Bolsonaro, Putin receberá Bolsonaro. E receberá Lula ano que vem por certo - como está recebendo Alberto Fernandez em breve (2/7).
Toda a manobra ucraniana serviu para travar o Nordstream 2, mas também colaborou para um aumento no preço global de petróleo e gás, o que ajuda Moscou por outro lado. Quem pagou a conta foram os europeus, que são compradores de petróleo e gás (3/7).
Em Portugal, socialistas, de centro-esquerda, fizeram maioria absoluta nas eleições antecipadas, chamadas porque os partidos de esquerda que sustentavam o governo não aceitaram o orçamento proposto. Isso põe fim, definitivamente, à Geringonça que os unia (1/7).
De 2015 para cá, socialistas governavam com apoio das forças mais à esquerda, que concordaram com um ministério socialista, embora não tenham participado diretamente do governo. Era preciso barrar um novo governo do PSD, o PSDB deles (2/7).
A decisão de partidos como o Bloco de Esquerda ou a CDU (comunistas + verdes) em permitir aos socialistas governarem, e não o PSD, que tinha maioria relativa, se deveu à política neoliberal radical que o ex-premiê Passos Coelhos aplicou na esteira da crise econômica global (3/7).
A Ucrânia seria o único caso de socorrido que rifa o salvador, ao falar em afobação do governo Biden? Sim, mas é preciso entender como a Ucrânia se deixou usar, mas no fim usou Washington. O jogo é complexo (1/12). internacional.estadao.com.br/noticias/geral…
Basicamente, Biden foi levado a confrontar a Rússia por duas razões que lhe apresentaram, uma eleitoreira, por conta da associação apressada Trump-Putin, a outra estratégica, isto é, ter controle sobre o abastecimento energético da Alemanha (2/12).
Claro que em certa medida isso veio na esteira de uma derrota: Berlim bateu o martelo, logo no início de seu mandato, e falou que não ia recuar no projeto do mega-gasoduto submarino Nordestream-2 que liga diretamente a Rússia à Alemanha (3/12).