A tensão entre EUA e China tem um foco importante de embate paralelo que é a tensão entre China e Austrália. A desconfiança dos australianos em relação aos chineses não é nova e está atingindo níveis cada vez mais altos. Thread ⬇️:
Essa semana, a inteligência Australiana fez busca na casa de vários jornalistas chineses baseados no país. Isso indica uma desconfiança australiana de que esses jornalistas atuam além de suas áreas, coletando informações importantes sobre o país.
A Austrália é extremamente estratégica para a China por várias razões. É membro do "Quad" - aliança militar entre EUA, Índia, Japão e Austrália. O Quad revitalizou exercícios militares no Mar Índico e no Mar do Sul da China. Além disso, estão ampliando cooperação de inteligência.
Além do Quad, a Austrália é parte do "Five Eyes", o sistema de cooperação de inteligência entre EUA, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Estrategicamente, a Austrália é a ponta de lança do 5 Eyes no Pacífico e no Sudoeste Asiático.
A Austrália também é um importante fornecedor de minério para a China, criando um vínculo comercial relevante para a economia australiana. No entanto, a CHN suspendeu importações de malte, carne e de alguns minérios australianos nos últimos 30 dias, como retaliação.
Nos últimos anos, inúmeras operações na Austrália contra espionagem chinesa aumentaram as tensões entre os dois países. Um dos casos mais emblemáticos foi o de Bo Zhao, cidadão australiano e chinês.
A Austrália acusou a China de financiar a campanha de Bo para o Parlamento Australiano para que ele pudesse ter acesso a informações parlamentares restritas e influência direta entre colegas. Bo foi encontrado morto em 2019 e sua candidatura nunca ocorreu.
A China refuta as acusações australianas como fantasiosas e visando minar a credibilidade do país. Para quem observa as tensões entre EUA-CHN, observar a dinâmica entre CHN e AUS é de extrema importância, pois no campo operacional, a tensão está avançada.
Em relação às buscas dessa semana contra jornalistas chineses no país, há a possibilidade de uma retaliação similar da CHN contra jornalistas Australianos na CHN. A pergunta que fica é se a retaliação seria apenas contra Australianos ou envolveria outros membros do 5 Eyes.
A CHN poderá tmb diminuir as importações vindas da Austrália (alvo mais impactante seria minério) e aumentar as importações brasileiras, por exemplo. Dificilmente a AUS cederá a essas retaliações e continuará com atuações como a recente busca contra jornalistas.

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28 Aug
O "Five Eyes" é o acordo de cooperação de inteligência entre EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá e Nova Zelândia. Esse acordo possibilita troca de inteligência, análises e ações conjuntas. Há uma possibilidade de se tornar "Six Eyes" no curto prazo. Thread ⬇️
O Japão demonstrou interesse em fazer parte desse programa de cooperação de inteligência com os 5 países anglo-saxões. Esse movimento seria um importante golpe contra a China no campo de inteligência e monitoramento.
A rivalidade histórica entre China e Japão fez com que os serviços de inteligência desses dois países tivessem o outro como alvo primordial para contenção, monitoramento e coleta de informações. O foco naval é de extrema relevância.
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25 Aug
A lógica de ações dos EUA e da China refletem muito a cultura estratégica de cada um. Uma visão básica da tensão entre EUA e China. Thread 👇
A estratégia americana segue uma lógica similar ao jogo de xadrez. O objetivo é atacar e conquistar, se possível, o Rei. Nesse caso, o Rei é o PCC e sua dissolução. Os EUA entendem que o objetivo final em relação à CHN é suplantar o PCC por uma democracia.
Derrubar o Tik Tok ou o WeChat é como derrubar um peão. Restringir a expansão chinesa no Mar do Sul da China é como conquistar o Bispo. Asfixiar a capacidade de financiamento externo é relevante tmb, como derrubar o outro Bispo.
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14 Aug
Existem três vertentes de amarra estratégica chinesa com alguns países, que incomodam os EUA e alimentam várias das ações que os EUA tomam contra a China. Thread 👇
Vertente 1 - Dependência Comercial
A CHN foca em gerar dependência comercial em países com baixa variação de produção (foco em commodities) e com parque industrial pouco desenvolvido (receptor de bens manufaturados chineses).
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8 Aug
Os EUA estão cercando a China em várias frentes - Thread 👇🏼
Individual: sanções contra indivíduos
Moral: sanções ligadas à Xinjiang
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Conceitual: ataque a credibilidade do PCC
Militar: presença marinha no Mar do Sul da China
Comercial: restrições a importações
Geopolitica: fortalecimento de rivais chineses (Índia, por exemplo)
Saúde: dúvidas sobre origem, controle e vacina do Covid
Inteligência: fechamento do consulado em Houston.
Financeiro: revogação do status de Hong Kong
China responde:
Geopolítica: parcerias com rivais (Irã) e aliados americanos (A. Saudita)
Militar: acréscimo naval no Mar do Sul da CHN
Logístico: Gwadar no PAQ, Rota da Seda
Multilateral: explora ausência dos EUA em fóruns multilaterais
Financeiro: expande linhas de crédito
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5 Aug
A China vem investindo forte no mundo para expandir sua expertise e capacidade nuclear. Após o acordo com a Argentina (plano estratégico de 5 anos), o país vem desenvolvendo mineração de yellowcake (urânio) com a Arábia Saudita. Thread 👇
Em 2017 a CHN fechou um plano de 5 anos com a Argentina. No plano estava incluído a construção de duas usinas nucleares (Atucha III e IV) com financiamento chinês e tecnologia de reatores de água pesada Hualong. Essa tecnologia nunca foi exportada p/ fora da CHN e seria um marco.
No acordo, a construção das usinas ficaria em torno de 10bi USD, com 85% sendo financiado pelos chineses. Além de uma turbinada na capacidade energética argentina, a CHN teria um vínculo estratégico de longo prazo além de ter um "showcase"pra demonstrar sua tecnologia nuclear.
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4 Aug
Ainda é muito cedo pra falar das causas da explosão em Beirute. Podemos apenas especular. Thread 👇
Sabemos que a China está de olho nas oportunidades comerciais e de influência no Líbano. O porto de Beirute seria excepcional para a China ter um acesso ao Mediterrâneo. Sabemos tmb que a CHN fechou um acordo de longo prazo com o Irã.
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