1/ Cafezinho 322 – O deleite
Fiz uma Live esta semana e algumas pessoas me disseram: “Luciano, dava pra perceber que você estava se divertindo!”
Você já vivenciou isso, hein? Lidou com alguém que parece estar se divertindo com o que faz?
2/ Até algum tempo atrás eu usava essa expressão “divertindo-se”, até que eu procurei num dicionário e vi que “diversão” quer dizer recreação, distração, entretenimento. O que não era bem a definição do que eu estava sentindo.
3/ Parti em busca da palavra perfeita e achei “deleite”, que quer dizer gozo íntimo e suave, prazer inteiro, pleno. Delicia.
Agora, sim!
4/ Sempre que vejo um trabalho bem feito, que me passa um “algo mais”, uma sensação boa, eu concluo que alguém ali andou se deleitando, tendo prazer. E, acredite, esse deleite é contagioso. Ele passa pra gente, pelo brilho nos olhos, pela empolgação no falar, no gestual.
5/ E mesmo que o interlocutor não esteja presente, funciona! Sabe aquele quadro que você observa e “sente” que algo lhe toca? Aquela melodia que emociona? Aquele poema que lhe massageia a alma? Aquele texto que lhe faz refletir?
6/ Pois é. Tenha certeza que alguém andou se deleitando enquanto produzia aquilo. E você foi contagiado. Percebeu?
Então fica assim: Meu desejo é que você se deleite. No trabalho, nos estudos e no lazer. E que seja rodeado por gente que se deleita também.
7/ Esse é o meu objetivo pessoal. Antes de fama, sucesso ou dinheiro, eu quero deleite.
O resto é consequência.
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1/ Almocei num restaurante que passava nas telas o show Kaia na gandaia de Gilberto Gil. O show é uma homenagem ao reggae de Bob Marley. Gil canta e encanta, dança e ilumina. Uma delícia. Mas...
2/ Tinha gente com cara feia na mesa.
- Odeio o Gil.
Gil era então ministro aliado ao governo do PT, portanto tudo que fizesse devia ser execrado. Não interessa sua história como artista, seu valor como poeta, sua capacidade como músico e intérprete.
3/ Até quem não gosta dele reconhece sua importância na história da Musica Popular Brasileira.
Mas Gil estava contaminado. Por uma "ideologia". E uso a palavra "ideologia" entre aspas, pois não sei se o circo político brasileiro tem algo que se possa chamar de ideologia.
1/ Sou da geração de 1956, uma molecada que nasceu e cresceu meio que num hiato. Quando surgiu o amor livre eu era jovem demais. Quando fiquei maduro, apareceu a AIDS... Sou da geração que era jovem demais para curtir compreender Woodstock.
2/ E 1968, o ano das grandes mobilizações, eu tinha 12 anos de idade e morava numa cidade do interior. Quando vim para São Paulo, em 1975, uma parte importante dos acontecimentos que mobilizaram o país já havia sido deixada para trás.
3/ Mas começava uma nova fase de ebulição e acabei tomando parte em manifestações que provocaram mudanças no país.
Aos 20 anos de idade, recém chegado do interior, eu era como aquele sujeito descrito por Álvaro de Campos: eu era nada, nunca seria nada, não podia querer nada.
1/ Na primeira semana de Julho de 2020, um grupo composto por dezenas de escritores, artistas, jornalistas e profissionais em diversas áreas publicou uma Carta aberta sobre justiça e debate nos Estados Unidos.
2/ Eles perceberam que o clima de confronto na sociedade está fazendo com que ideias não sejam mais discutidas, mas aniquiladas. Num trecho, eles escrevem assim:
“Os editores são demitidos por publicar peças controversas; livros são retirados por alegada falta de autenticidade;…
3/ …jornalistas são impedidos de escrever sobre certos tópicos; os professores são investigados por citar obras de literatura em sala de aula; um pesquisador é demitido por circular um estudo acadêmico revisado por pares; e os chefes das organizações são demitidos pelo que às…
1/ O jornalista J.R.Guzzo escreveu que “Está crescendo rapidamente no Brasil um novo totalitarismo. Uma de suas taras é a seguinte: temos de salvar a democracia proibindo a manifestação das opiniões que achamos antidemocráticas.
2/ Resumo da ópera: ou você pensa o que a gente aprova ou então fica em casa e cala a boca.”
3/ Guilherme Fiúza escreveu que “Essa democracia que já sobreviveu a prepotentes e larápios tem agora uma novidade quente: personagens que sempre se disseram liberais aparecem dizendo que a manifestação A pode, mas a manifestação B não pode.
1/ Em 1990 os psicólogos Deborah Prentice e Dale Miller foram chamados para tentar resolver um problema na Universidade de Princeton. A garotada estava entrando de cabeça na bebida, o consumo de álcool estava atingindo proporções alarmantes com as consequências conhecidas.
2/ Após conversar com a garotada que enchia a cara, os psicólogos descobriram que, individualmente, os garotos e garotas concordavam que a bebida era um problema, que o consumo era excessivo e que deveria haver algum tipo de controle no campus.
3/ Mas esses garotos e garotas achavam que essa era a opinião deles, que a maioria achava que o consumo de álcool estava certo, portanto eles nada diziam ou faziam.