1/ Sou da geração de 1956, uma molecada que nasceu e cresceu meio que num hiato. Quando surgiu o amor livre eu era jovem demais. Quando fiquei maduro, apareceu a AIDS... Sou da geração que era jovem demais para curtir compreender Woodstock.
2/ E 1968, o ano das grandes mobilizações, eu tinha 12 anos de idade e morava numa cidade do interior. Quando vim para São Paulo, em 1975, uma parte importante dos acontecimentos que mobilizaram o país já havia sido deixada para trás.
3/ Mas começava uma nova fase de ebulição e acabei tomando parte em manifestações que provocaram mudanças no país.
Aos 20 anos de idade, recém chegado do interior, eu era como aquele sujeito descrito por Álvaro de Campos: eu era nada, nunca seria nada, não podia querer nada.
4/ Mas à parte isso, tinha em mim todos os sonhos do mundo.
E parti pra briga.
5/ Fiz parte do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Mackenzie, fui editor do Jornal Análise, fui orador da minha turma, ajudei a realizar os primeiros Salões de Humor do Mackenzie, que acabaram gerando o Salão de Humor de Piracicaba.
6/ Fui para as ruas gritar "abaixo a repressão"! Eu tinha todos os sonhos do mundo. Sonhava com um Brasil livre, justo, com educação, saúde, trabalho digno para todos.
7/ Imaginava que quando nossa geração chegasse ao poder, tirando da frente aqueles velhos que não compreendiam a voz das ruas, teríamos o país que queríamos. E foi assim que eu cresci.
Mas algo deu errado.
8/ Passados mais de 40 anos dos meus 20 anos, concluo que vivo num país infinitamente melhor, onde as pessoas têm mais recursos, mais conforto, mais liberdade, mais facilidades para ir e vir, mais acesso à bens, mais oportunidades para crescimento... mas ainda é um país muito…
9/ …longe daquele com o qual eu sonhava. Conquistamos muito, mas falta muito. E a cada dia parece faltar mais.
Aquela garotada que chegou ao poder não resolveu os problemas.
10/ Na verdade, parece que grande parte dos que chegaram lá, que conseguiram uma posição de poder que pode influir nos destinos da nação, são piores do que os que vieram antes. Vários estão na cadeia.
11/ Se havia algum altruísmo naqueles anos de chumbo, ele desapareceu. Altruísmo tem a ver com abnegação; beneficência; caridade; desambição; desapego; desinteresse; desprendimento; entrega; filantropia; generosidade; renúncia.
12/ Palavras comuns ao nosso dia a dia, mas que, quando aplicadas ao mundo dos negócios ou ao universo da política dão impressão de vocabulário de otário.
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1/ Almocei num restaurante que passava nas telas o show Kaia na gandaia de Gilberto Gil. O show é uma homenagem ao reggae de Bob Marley. Gil canta e encanta, dança e ilumina. Uma delícia. Mas...
2/ Tinha gente com cara feia na mesa.
- Odeio o Gil.
Gil era então ministro aliado ao governo do PT, portanto tudo que fizesse devia ser execrado. Não interessa sua história como artista, seu valor como poeta, sua capacidade como músico e intérprete.
3/ Até quem não gosta dele reconhece sua importância na história da Musica Popular Brasileira.
Mas Gil estava contaminado. Por uma "ideologia". E uso a palavra "ideologia" entre aspas, pois não sei se o circo político brasileiro tem algo que se possa chamar de ideologia.
1/ Cafezinho 322 – O deleite
Fiz uma Live esta semana e algumas pessoas me disseram: “Luciano, dava pra perceber que você estava se divertindo!”
Você já vivenciou isso, hein? Lidou com alguém que parece estar se divertindo com o que faz?
2/ Até algum tempo atrás eu usava essa expressão “divertindo-se”, até que eu procurei num dicionário e vi que “diversão” quer dizer recreação, distração, entretenimento. O que não era bem a definição do que eu estava sentindo.
3/ Parti em busca da palavra perfeita e achei “deleite”, que quer dizer gozo íntimo e suave, prazer inteiro, pleno. Delicia.
Agora, sim!
1/ Na primeira semana de Julho de 2020, um grupo composto por dezenas de escritores, artistas, jornalistas e profissionais em diversas áreas publicou uma Carta aberta sobre justiça e debate nos Estados Unidos.
2/ Eles perceberam que o clima de confronto na sociedade está fazendo com que ideias não sejam mais discutidas, mas aniquiladas. Num trecho, eles escrevem assim:
“Os editores são demitidos por publicar peças controversas; livros são retirados por alegada falta de autenticidade;…
3/ …jornalistas são impedidos de escrever sobre certos tópicos; os professores são investigados por citar obras de literatura em sala de aula; um pesquisador é demitido por circular um estudo acadêmico revisado por pares; e os chefes das organizações são demitidos pelo que às…
1/ O jornalista J.R.Guzzo escreveu que “Está crescendo rapidamente no Brasil um novo totalitarismo. Uma de suas taras é a seguinte: temos de salvar a democracia proibindo a manifestação das opiniões que achamos antidemocráticas.
2/ Resumo da ópera: ou você pensa o que a gente aprova ou então fica em casa e cala a boca.”
3/ Guilherme Fiúza escreveu que “Essa democracia que já sobreviveu a prepotentes e larápios tem agora uma novidade quente: personagens que sempre se disseram liberais aparecem dizendo que a manifestação A pode, mas a manifestação B não pode.
1/ Em 1990 os psicólogos Deborah Prentice e Dale Miller foram chamados para tentar resolver um problema na Universidade de Princeton. A garotada estava entrando de cabeça na bebida, o consumo de álcool estava atingindo proporções alarmantes com as consequências conhecidas.
2/ Após conversar com a garotada que enchia a cara, os psicólogos descobriram que, individualmente, os garotos e garotas concordavam que a bebida era um problema, que o consumo era excessivo e que deveria haver algum tipo de controle no campus.
3/ Mas esses garotos e garotas achavam que essa era a opinião deles, que a maioria achava que o consumo de álcool estava certo, portanto eles nada diziam ou faziam.