Uma das deficiências mais importantes neste período é o da formação política do campo progressista. Percebo que há uma um consenso sobre esta deficiência, mas, infelizmente, poucos sabem exatamente do que falam. Farei um mini fio a respeito. Lá vai.
1) A formação tem lastro, obviamente, na educação. E, em termos gerais, há duas formas de educar: pelo estímulo à respostas condicionadas (baseadas na teoria comportamental de Pavlov e Skinner) e no processo de construção coletiva de conhecimento, onde o outro é sujeito
2) Então, temos modelos em que o educador é sujeito e o que assiste a aula é objeto; mas, temos outra situação em que os dois são sujeitos porque o método cria diálogo entre conhecimento formal e sabedoria adquirida na existência. Muitos pesquisadores trabalham com esta distinção
3) A formação política adotada pela esquerda no final dos anos 1970 e que adentrou e foi apurada ao longo dos anos 1980 e 1990, formou uma geração de lideranças profundamente legitimadas pelas bases. Por quê? Porque trabalhou com esta relação entre sujeitos, a partir do real
4) Não é um tema pacífico na esquerda. Na lógica vanguardista, que se inspira no conceito de alienação do trabalho, o profissional da política leva a teoria revolucionária para o trabalhador que não tem meios e tempo para entender porque não tem a vida do empresário
5) Quando a guerrilha foi dizimada pelo regime militar, houve uma série de organizações que fizeram uma leitura crítica do foquismo ou guerra popular prolongada no Brasil. O vanguardismo tinha apartado a esquerda das massas que desejava organizar. A partir daí, houve uma inflexão
6) Parte da esquerda se aproximou da igreja católica progressista e começou a se dedicar ao que hoje se fala em formação de massas. A formação bancária da esquerda passou a adotar métodos e instrumentos da educação popular
7) Contudo, se nos anos 1970 e 1980 se discutia as bases da exploração e marginalização social no Brasil, a partir dos anos 1990, foram introduzidos elementos de gestão participativa e organização autônoma dos trabalhadores. Afinal, a esquerda passava a governar
8) Contudo, nos últimos anos, os modelos próprios de governar da esquerda (que forjaram mecanismos como o orçamento participativo e os conselhos de gestão pública) passaram a dar espaço para propostas liberais. Nunca a esquerda brasileira foi presa tão fácil de liberais
9) A superficialidade, o comunitarismo e os coletivos-bolha, o individualismo meritocrático são algumas expressões dos valores liberais que foram se insinuando em fóruns e temas que até então eram tradicionais do campo de esquerda. Muitos educadores populares começaram a se mexer
10) Estamos num momento de repensar a pauta da formação de lideranças de esquerda. Não se trata de voltar ao passado, mas de retomar os princípios progressistas (ou de esquerda) e projetar para a disputa do Estado à serviço do aumento do poder popular
11) O projeto da esquerda é o da transformação da ordem social, não é o de administrar esta ordem. E este fundamento que estamos perdendo em nossa militância, principalmente entre jovens que se desgarram de toda história e aprendizados do campo progressista
12) Este é o desafio. O Instituto Cultiva, que presido, está procurando cumprir sua parte. Criamos um curso de duas semanas (6 aulas online) sobre Gestão Pública. Em um mês, já realizamos cursos para três turmas. Numa delas, envolvendo 100 candidatos de MG.
13) A experiência do curso em Gestão Pública é uma, dentre tantas iniciativas que começam a pipocar no Brasil. Termino dando este toque: se alguém desejar conhecer mais de perto, aqui está o link: O link é: institutocultiva.com.br/curso-de-gesta…
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Bom dia. Chico Meira, diretor do Vox Populi, acaba de fazer uma análise sobre o paradoxo pessimismo do brasileiro e avaliação do personagem Jair Bolsonaro. Farei um breve fio
1) Segundo os dados das pesquisas realizadas pelo Vox Populi, 70% dos brasileiros afirmam viver com muito medo de contrair o COVID19. E também acham que a política econômica está no caminho errado. Outros 58% se dizem pessimistas com o futuro do Brasil
2) Contudo, a maioria dos brasileiros criaram uma representação de Jair Bolsonaro que o apresenta como um salvador. Chico Meira sustenta que em períodos de desespero social (guerra ou pandemia), lideranças autocráticas emergem no cenário político nacional
Farei um fio comentando o que sinto como uma superficialidade cada vez maior no modo como discutimos ou nos chegam informações. O mote é um artigo de Antônio Prata. Segue o meio fiohttp://aldeianago.com.br/artigos/6-comportamento/24950-vamo-acorda-amizade-por-antonio-prata
1) Prata faz uma salada de frutas com pertences de feijoada e tempera com caldo de cana e molho shoyu. Compara Trump com Biden, justamente quando o último debate deu vitória para o democrata. Mas, no artigo de Prata, Biden é um bebê enfrentando um leão. Não fica por aí
2) Ao se perguntar sobre quem seria o maior líder da oposição no Brasil, cita.... Rodrigo Maia !!!!!!! Lasca Freixo e se esquece (?) de Lula ou Boulos, para citar dois nomes evidentes. Elogia Tabata Amaral, a liberal que adulterou a carteirinha da esquerda.
Wesley Teixeira, negro e evangélico, filiado ao PSOL, decide ser candidato a vereador em Duque de Caxias (RJ). Monta a sua coordenação com a presença do PCB, entre outros apoios. E recebe uma ligação de gente ligada aos bancos. Segue o mini fio
1) De repente, recebe uma proposta de doação de gente vinculada ao sistema financeiro. Uma revista da grande imprensa divulga o fato inusitado e a bomba política explode.
2) Em entrevista ao jornalista Bruno Torturra, Wesley confirma que foi procurado por Douglas Belchior (Uneafro) e Sueli Carneiro (diretora do Geledés) oferecendo um pacote de dinheiro e divulgação na imprensa. Dinheiro de Armínio Fraga e a herdeira do banco Itaú, Beatriz Bracher.
Bom dia. Farei um fio sobre o que, até aqui, as eleições em BH e SP podem estar sugerindo em relação ao perfil das candidaturas de esquerda. Segue o fio.
1) A pesquisa IBOPE realizada em Belo Horizonte indicou que os candidatos do PT e PSOL somados atingiram 5% da intenção de voto na capital mineira. Na eleição de 2016, PT teve mais de 7% e PSOL, mais de 4%. Em 2012, PT obteve 40% dos votos e PSOL, 4%.
2) Já em São Paulo, o IBOPE indica PSOL com 8% (em terceiro lugar na intenção de voto) e PT com 1%. Em 2008, PT obteve 32% dos votos e PSOL, menos de 1%. Em 2012, PT obteve 28% dos votos e PSOL, 1%.
1) Recebi a seguinte avaliação de um dirigente de um importante sindicato de servidor público federal: "A pesquisa é boa mas a análise equivocada. Há um grande bloco que vota de forma coesa, não por se aliar ao Governo.
É quase o oposto do que sugere"
2) Continua: "A aliança desse bloco de centro-direita é uma aliança liberal, que detém o controle das ações no parlamento, só permite avançar as propostas oriundas do governo que lhe são palatáveis e rejeita as que não são com absoluta desenvoltura. "
Bom dia. Vou finalizar o fio que iniciei ontem sobre as gestões Dilma Rousseff. Antes, farei um pequeno resumo do que já postei. Lá vai (com enumeração nova)
1) O que procurei demonstrar é que Lula forjou uma lógica de gestão profundamente complexa, atualizando o modelo rooseveltiano de fomento ao desenvolvimento interno (sendo que Roosevelt foi muito mais impositivo que Lula) que se articulou ao presidencialismo de coalizão
2) Somente alguém muito hábil teria como gerir uma rede tão complexa de relações, fóruns e negociações de interesse. A montagem dos seus ministérios, quase sempre bifrontal, alimentava tensões em que o líder maior se apresentava como tercius nas contendas