A capa da folha é uma peça de propaganda da austeridade fiscal. O que a folha chama de "anomalia" são, no fundo, os direitos e benefícios sociais previstos pela Constituição de 1988.

Se a folha omite e distorce, a gente traz o outro lado da história no fio. 1/10
Pra comparar o tamanho do gasto público entre países, devemos considerar o q esses oferecem em termos de serviços públicos. Nao faz sentido comparar o Brasil com países q nao tem previdencia social, SUS, ensino superior gratuito, etc.
2/10
Na América Latina, o Brasil é o país que mais reduz a desigualdade por meio de transferências e gastos sociais, como mostra esse estudo da CEPAL. 3/10
repositorio.cepal.org/bitstream/hand…
Nos países centrais a redução da desigualdade via gasto publico é ainda maior.

Por que com esse vira-latismo de que não podemos ter relação gasto/PIB de país central? Notem q isso nao implica gasto per capita de país central.

4/10
A matéria usa o termo "anomalia" e sugere q o correto seria nos adequar a uma relação gasto/pib de país de renda media? Isso significa abrir mão da previdencia, do SUS, etc... é isso q queremos?

5/
A matéria também não diz q o crescimento do gastos desacelerou, como mostra esse gráfico para o caso dos gastos do governo federal.

Também nao aponta a depressão economica no Brasil (2015 e 2019) q nao ocorreu em outros os países e afeta o denominador da relação gasto/PIB.
6/
Também nao diz q o período geralmente apontado como da “gastança” não representou aumento substancial da relação gasto/PIB do governo federal. O que aumentou um pouco foram transferências, educação e outras despesas, como mostra o gráfico da @edweck_rj.
7/10
E o aumento do gasto e do funcionalismo ocorreu principalmente nos municipios onde 40% das ocupações são professores, médicos, enfermeiros e agentes de saúde, nucleo duro da educação e saúde. Mulheres sao maioria e salário médio é R$ 2,9 mil (2017).
8/10
A matéria ainda sugere q o aumento do gasto público além da arrecadação é o grande responsável pelo aumento da divida pública. FALSO. No período geralmente apontado com o da “gastança”, 2008-2014, o resultado primário contribui para reduzir a divida pública.

9/10
A reportagem da folha contribui para a falsa narrativa de que "a culpa é o gasto público" e do gasto social em particular. E para alimentar o terrorismo fiscal que diariamente aparece no jornal dizendo q sem o teto e reformas estamos condenados ao desastre.

FIM
Gente, além de tudo, os dados da @folha estão superestimados. Não dá pra chegar a 41% do PIB de gasto primário sem incluir imputações contábeis que não são despesas efetivas.
1/4
Qd dizem q o funcionalismo é 13% do PIB estão incluindo contribuições sociais q o empregador (governo) paga para o governo, ou seja, nao tem saída de caixa. É o Chaves vendendo churros.

A empresa privada paga a contribuição social para o governo mas governo paga pra si mesmo?
Essas imputações intra-orçamentarias chegam a 30% da remuneração dos empregados e não são despesas efetivas. Elas servem para harmonizar com a metodologia das contas nacionais mas nao pra esse tipo de analise da @folha. Vejam a remuneração de empregados do governo central em 2019
O correto para medir o tamanho do Estado é limpar essas imputações como fazem Orair e Gobetti, ipea.gov.br/portal/images/…

Resta ainda entender o crescimento apontado pela folha, desconfio de quebra metodológica na série.

E vejam o fio do @Joao_P_Romero

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12 Oct
Encontramos ERROS com os dados na capa da @folha de ontem. O bom jornalismo deve corrigir.

O primeiro é o uso dos dados de "expense" que exclui investimentos líquido, em vez de "expenditure". Abaixo a série replicada q a folha usou e a correta com os dados do FMI.
1/n Image
Com a série correta o crescimento das despesas primárias entre 2008-2018 nao foi de 10,4 % do PIB como diz a folha, mas de 7,6%.

A comparação internacional precisa ser refeita com o conceito correto.
2/ Image
O segundo erro é ignorar q o FMI junta duas séries do Tesouro, com quebra metodológica em 2010 (perceptível no gráfico).

Vejam o Sergio Gobetti, com ressalva q a mudanca metodologica na série do tesouro é em 2010 e nao 2013.
3/ Image
Read 7 tweets
6 Oct
Esse vai e vem sobre furar ou não furar o teto de gastos só mostra o quanto o teto é antidemocrático

A demanda da sociedade por um programa social poderia ser financiada taxando os mais ricos, mas o teto impede.

"Fazer caber dentro do teto" = tirar os ricos da conta
1/6
Limitado pelo teto, o governo propõem absurdos tipo reduzir em 25% o salário dos servidores, congelar salario de aposentado, calote em precatórios, tirar $ da saúde e educação, rever programas como o abono... como se nao houvesse alternativa.

2/6
A alternativa obvia pra financiar um programa permanente é arrecadar mais, taxando lucros e dividendos e aumentando alíquotas de IR, por exemplo.

Mas o teto garante q essa discussão nao prospere e impõe a solução de tirar de pobre e precarizar serviços e carreiras publicas.
3/6
Read 6 tweets
1 Sep
👏🏽👏🏽👏🏽 Belo manifesto da SEP.
"Como se não bastasse um governo hostil aos direitos humanos, economistas propõem sacrificar as garantias constitucionais do financiamento dos direitos sociais, com aval de parte importante da mídia e do congresso."
sep.org.br/01_sites/01/in… Image
"A crueldade social dá as mãos ao terraplanismo macroeconômico que nega o papel da política fiscal como indutora do crescimento e do emprego em um momento de grave crise econômica, destoando do debate internacional e até de instituições como o FMI."
"é o momento de reafirmar a importância dos direitos sociais, do papel do Estado no financiamento desses direitos e da política fiscal como ferramenta para o crescimento e o desenvolvimento. O orçamento público não é um assunto de tecnocratas (...)"
Read 4 tweets
20 Aug
Que bom q o artigo do @silviolual e meu tem estimulado o debate.

Pena q o artigo crítico de ontem não toca nas questões conceituais e erra com os dados para negar o obvio: o teto constrange gastos sociais que beneficiam mais a população negra.

Vamos aos 5 erros do artigo
Erro 1:
O artigo faz comparações com base em 2016, mas ignora que a referencia para o piso de saúde e educação é a vinculação de receita de 2017.

Ao tomar 2017 como base, o crescimento do gasto com saúde sujeito ao teto é praticamente nulo. 2/
Erro 2:
O autor ignora o obvio sobre os pisos de saúde e educação: esses não garantem sequer a estabilidade do gasto real com saúde per capita.

Com o piso anterior (EC86) a saude teria R$ 9 bilhões a mais em 2019, e mais em 2018 considerando a ADI5595. 3/
Read 10 tweets
7 Aug
O engraçado de alguns economistas ortodoxos é q são prisioneiros do proprio método. Acham que são superiores aos outros pq um sistema acadêmico, supostamente neutro, selecionou por mérito as melhores teorias. E ainda reivindicam uma neutralidade impossível nas ciencias sociais
Tá certa a @bollemdb: a economia desumaniza seu objeto de estudo, em particular a economia ortodoxa (escola neoclássica, dominante no mainstream) mas não necessariamente o mainstream, que traz outras abordagens não necessariamente neoclássicas.
sobre a definição de mainstream e ortodoxia
“Mainstream consists of the ideas that are held by those individuals who are dominant in the leading academic institutions, organizations, and journals at any given time, especially the leading graduate research institutions. (…)
Read 4 tweets
31 Jul
Dois anos do lançamento do livro Economia Para Poucos em Paraty. O livro continua super atual e ta disponível gratuitamente, cortesia da @AutonomiaLiter2. Só acessar: pedrorossi.org/wp-content/upl… Image
Esse primeiro lançamento foi demais. No barco da Flipei. Com @edweck_rj e @lauraabcarvalho ImageImageImageImage
Logo depois discutimos o livro em Audiência no Senado. ImageImage
Read 4 tweets

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