Tantos anos dando murros em ponta de faca me ensinaram: posso, sim, voltar a ser um curador ou facilitador. Lançar perguntas. Propor dinâmicas. Bem melhor do que já fui. Mas sou anos-luz mais oficineiro e palestrante do que cientista. Sei como fazer ciência, mas não sou do meio.
O tipo de interesse e do grau de dedicação que me fascina está muito mais em observar, conversar, aprender e divulgar e auxiliar do que em ser capaz de fazer algo novo. Não sou inteligente o suficiente pra fazer algo relevante.
Há um tipo de perrengue operacional que eu consigo resolver de boas (e adoro fazer): falta de infraestrutura; acolhimento; usar a artesania quando a tecnologia estiver indisponível. Para a burocracia dos formulários e para a competição por verba, sou uma negação.
Passei a ver como grave (e não como engrandecedora) a luta retórica, de networking e de poder simbólico por ver quem é mais rigoroso; quem domina mais tal autor(a)… E qual comportamento científico realmente é capaz de melhorar a sociedade – sendo bem pragmático e utilitarista.
Ao mesmo tempo, entrei tarde demais nessa cadeia alimentar e me tornei uma presa fácil… Parece que só tem valor quem estiver no topo da cadeia alimentar, que tem que ser predador. Descobri que sou vegetariano.
Juventude e networking são tudo: há, sim, uma idade para ser iniciante. Nem o mercado, nem a academia são meios acolhedores o suficiente. Do contrário, haveria vagas para lecturers e para aprendizes sênior. O mundo precisa de ciência, mas o próprio meio exclui.
Passar por isso é um processo. É uma pena que o tempo não volte mais, pois sempre fui péssimo em: 1) Pedir ajuda; 2) Estar na hora certa, no lugar certo e com as pessoas certas. Então, as coisas tendem a acontecer tarde demais e sempre em uma proporção muito mais abaixo.
Como o tempo não volta, não sei até que ponto preciso mesmo completar essa jornada ou partir para outra. O problema é se não tiver tempo de vida suficiente pra completar uma jornada longa e contínua… Por isso, tento cuidar o máximo que posso da saúde.
Quanto mais volto no tempo pra resgatar onde fui muito contente, confiante, resiliente e até mesmo obsessivo no desenvolvimento de qualidades que percebi ou que foram observadas em mim pelos outros, mais vejo que nunca fui realmente bom o suficiente em nenhuma delas.
E que a quantidade de derrotas e de falta de confiança nos outros, no meio, na conjuntura, não me traz o menor estímulo, a menor confiança, o menor otimismo. Mas, não se preocupem: não vou matar, roubar, me matar, nem nada… Apenas não consigo encontrar um caminho.
As coisas que eu gosto de apreciar, sobre as quais gosto de falar, o que gosto de fazer (seja a sério, seja por lazer), da forma como eu sei fazer, não tem valor de mercado nem valor científico.
Pensei que poderia, mas, infelizmente, ao invés de estar nos 7% de pessoas que podem trabalhar naquilo que gostam, realmente faço parte dos 93% que precisam fazer o que podem, mesmo que esteja abaixo do que elas seriam capazes.
O mais difícil é ter que encarar a ausência de estabilidade, de previsão, de planejamento. Pior: ter que ser vendedor de mim mesmo, obrigado a convencer os outros por que vale a pena investir tempo e dinheiro naquilo que eu possa oferecer.
Hoje, só consigo me ver tentando passar em algum concurso público de grau médio e utilizando o tempo fora do expediente pra criar alguns cursos rápidos online.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Sobre "lapidar": hoje, os grandes craques (de seleção S17 e S20) são os raros jogadores muito acima da média. Esses dominam os fundamentos, tem + confiança e se desenvolvem melhor fisicamente. Todo o resto está muito abaixo. S/campos de várzea = - destreza e - motricidade.
Não há nem como comparar a quantidade de jogadores que Renato lançou no @Gremio com nenhum outro treinador: nem nosso, nem da grande maioria dos grandes clubes brasileiros na última década. Porém, há medo de lançar os muito novos, pois Yuri Mamute e Lincoln não deram certo.
Se não me engano, o ano era 2014. Eu ainda era considerado professor universitário. Fui designado para palestrar junto a uma celebridade midiática local para o CDL de um município pequeno, porém, próspero, cuja economia girava em torno de pequenas e médias indústrias calçadistas.
A região é a do Vale do Rio dos Sinos, próxima à Grande Porto Alegre, no RS. Culturalmente, a maioria de seus habitantes é muito simples, trabalhadora, objetiva e ultraconservadora, com profundo medo e desconfiança de quem venha de fora (sobretudo se tiver a pele mais escura).
A maioria das pessoas se conhece. Quase todos são católicos. O espírito de solidariedade comunitária se faz bastante presente no cotidiano, onde se preza muito a privacidade. Trata-se de uma região de descendentes de alemães como maioria.