Sendo criticado ao mesmo tempo por gente que tem argumentos consistentes, gente que respeito como @pablo_ortellado e @ctardaguila, e, ao mesmo tempo, gente que está sempre do mesmo lado não importa o quê. Nomes que não vou citar.
O debate é o seguinte: o @nypost publicou uma reportagem na qual diz ter um email em que um ucraniano corrupto agradece a Hunter Biden, filho do candidato democrata à presidência dos EUA Joe Biden, por ter promovido um encontro com seu pai, quando vice-presidente.
Que evidências que o Post apresenta de que o email é real? Nenhuma.
Que evidências que o Post apresenta de que o encontro ocorreu? Nenhuma.
A campanha de Biden tem fortes indícios de que Biden teria outro compromisso na hora.
Isto é só mau jornalismo.
O ponto é outro.
Cá este Twitter e o Facebook, a três semanas da eleição presidencial americana, tomaram no primeiro momento a decisão de segurar o fluxo desta notícia.
Para mim é algo que nasce do Estado. De um dos três Poderes.
A mais radical defesa de liberdade de expressão que existe, a 1ª Emenda americana, proíbe que o Congresso limite o que pode ser expresso.
Não trata do que empresas podem.
O New York Post foi vendido à vontade em todas as bancas para as quais foi distribuído.
Seu site está no ar.
Aliás... Quem quiser tuitar ou publicar no Face o link para as matérias pode. Os amigos que visitarem suas TLs encontraram tuíte ou post.
O que as duas redes decidiram fazer foi, ao que tudo indicar, cercear seu alcance.
O que é muito, tá?
Quer dizer que a maioria das pessoas não verá espontaneamente aquela notícia.
Agora...
O que exatamente há de extraordinário nisso?
Acaso fosse um email falso de Hunter Biden publicado pela Gazeta Trumpista, ninguém questionaria a decisão.
Mas foi publicada por um jornal com mais de 200 anos.
Tem credibilidade?
Já publicou manchetes clássicas como ”Headless Body in Topless Bar” — Um corpo sem cabeça num bar de strippers não traduz com o espírito necessário.
Um jornal sem qualquer credibilidade, a três semanas da eleição, publica uma denúncia grave sem nenhuma comprovação contra o líder das pesquisas.
De novo: se fosse da Gazeta Trumpista e Face + Twitter permitissem que se espalhasse qual fogo, o que aconteceria?
Todos nós, da imprensa, diríamos: redes sociais permitem que fake news se espalhem para atacar adversário de Trump.
Foi o que dissemos, com razão, em 2016.
Mas como vem de um jornal, embora sensacionalista, embora sem critérios jornalísticos, aí há dúvidas.
Isto resolve o problema?
Não.
Os critérios não são nada transparentes.
Quer dizer... Nas entrelinhas, o que Twitter e Facebook fizeram me parece evidente.
Perceberam que houve uma tentativa de manipular as redes para produzir uma vantagem eleitoral artificial.
Bloquearam.
O Facebook diz que aguarda checagem.
Cá este Twitter diz que não distribui informação hackeada.
Convencem?
Não.
O problema é que estas redes têm é novo.
Não existe um livro de regras absolutas que possa ser escrito e vá prever todas as decisões editoriais por tomar.
Sou editor faz mais de década.
Ainda aparecem na minha frente decisões, diariamente, de como escrever certos títulos, certas notícias, que vão atingir centenas de milhares de pessoas. Às vezes milhões.
Como fazer no tom certo?
Como ser justo?
Como não arriscar a democracia?
Eu não tenho certezas. Mas tenho certeza de que vez por outra erro.
Imagino se tivesse, nas minhas mãos, o dever de decidir como evitar interferência imprópria no que pode ser a eleição mais importante de nossa geração.
Antes errar por zelo do que por formalismo.
Facebook e Twitter tomaram uma decisão muito, muito, muito difícil.
A extrema-direita no mundo os acusa de censura a toda hora.
E, ainda assim, tiveram a coragem de segurar algo que tudo indica é falso.
Que carece comprovar.
Por fim, volto ao meu princípio.
O Estado tem poder de censura.
É o poder de evitar que uma informação circule.
Empresas privadas escolhem o que circula em suas páginas.
Ou em suas redes.
Isto resolve o problema?
Não.
Nas redes sociais, pouquíssimas empresas têm total acesso a bilhões de pessoas.
Este tipo de alcance jamais existiu antes.
Trata-se de um monopólio.
Este é um problema novo que precisa ser encarado.
Mas é outro problema.
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