Em uma aula sobre redes sociais, brinquei que se o Facebook quisesse, uma informação poderia deixar de existir pra 2,5 bi de usuários. O WSJ noticiou agora que fizeram exatamente isso, reduzindo mais e intencionalmente o alcance de publicações de esquerda. wsj.com/articles/how-m…
Desde 2017, o alcance de jornais como um todo caiu na platforma, mas ele foi propositalmente maior pro tipo de imprensa contrária ao que o Zuck tem se aliado. É 1 pessoa controlando a realidade de 2,5 bilhões de outras.
Pra quem citou que o Facebook é enviesado ou lembrou do “Dilema das Redes”, a questão aqui é outra. Não é uma questão do que o FB promove ou quem explora melhor as táticas da rede. Ou mesmo um perfil suspenso. É o FB passar anos escondendo algumas mídias por escolha.
Até o ponto exposto no Dilema das Redes é “discutível”. Pq o FB se coloca como rede que não tem papel de editor e não tem a responsabilidade de editor. “Se alguém explora melhor as regras do jogo, é o jogo e não interferimos.” Esse tem sido o argumento deles por anos.
O que mostraram agora é diferente. Não é um conteúdo mais apresentado pra um público que se polariza. Não é alguém calado com regras que não são aplicadas a todos. É a plataforma agindo como editora e escolhendo qual vertente de conteúdo ressoa lá ou não, de acordo com o Mark.
Imprensa sempre concentrou poder em muitas famílias, os Marinho, Murdoch, Koch, Frias, Abravanel, Disney, Berlusconi, etc. Mas são mídias que competem com mídias e que controlam seus meios. O Zuckerberg controla sozinho o alcance que as outras mídias têm pra 2,5 bi usuários.
O que o WSJ mostrou é que cometem justamente o “pecado mortal” que toda rede social jura não cometer: escolha editorial. Todas alegam ser diferentes da imprensa pq não escolhem o que publicar, compartilham o que os usuários publicam. Mas o WSJ mostra que certos posts têm + voz.
E no caso do FB, calar mídias ou reduzir o alcance delas não é só barrar a voz, é matar o modelo de negócios. Trouxeram jornais pra dentro, puxaram o investimento e depois tiraram o plugue da tomada. E os últimos anos foram a crise da mídia que foram.
O mais importante não é nem a polarização que isso cria – ou pelo menos o + importante pra + gente, já que é a esquerda que se dói desse caso em particular. É que entramos em uma nova era de controle editorial e de acesso à informação.
É fácil falar “sai do FB, isso não me afeta”, mas isso afeta 3 das maiores redes do mundo, FB, Instagram e WhatsApp. E duas dessas, FB e Zap, são redes que vem por padrão em muitos celulares e não contam no plano. São a única internet de muita, muita gente no BR.
Você que tá comemorando pq “é de direita” e problema da esquerda, só não esquece que quem escolhe quem tem voz é o Mark. Não é a direita. A visão dele calha de se alinhar com a direita. Mas entre o que ele quer do mundo e o que a direita quer, já sabe quem vai ter mais voz no FB.
Mais da metade dos brasileiros acha que a internet é o Facebook. Pra muitos com planos limitador mas Zap ilimitado, não existe conteúdo fora do WhatsApp, pq não adianta clicar em link. Só existe o que circula por lá.

qz.com/333313/milliio… Porcentagem de pessoas que concordam com a frase “o FB é
"funcionário do Facebook foi supostamente demitido após coletar evidências de que a empresa deu tratamento preferencial a páginas de direita [...] FB relaxou seus padrões de verificação de fatos para veículos de notícias conservadores e personalidades"
gizmodo.com/with-zucks-ble…

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