1. Os colegas da Auditoria Cidadã da Dívida repetem, o tempo todo, que o Brasil é um dos 10 países mais ricos do mundo (PIB). Para eles, muito mais rico que a Noruega ou Dinamarca. Daí se perguntam: para onde vai toda essa riqueza?
2. Portanto o objeto de pesquisa é: como que um país 5 vezes mais rico que a Dinamarca pode ter tanta miséria e fome enquanto no país nórdico, muito mais pobre, há um confortável estado de bem-estar social?
3. A resposta eles encontram no gráfico da pizza. Supostamente, metade das nossas riquezas vai para bancos em um esquema de roubo, usura e juros compostos, conforme o denunciado pela Igreja Católica Medieval, que lutou contra a usura dos judeus.
5. Bom, esse projeto de pesquisa, além de ignorar conceitos econômicos básicos para um aluno de ensino fundamental, como o de PIB per capita (não estou sendo irônico), carece de um mínimo de coerência lógica. Não estou nem pedindo perspectiva crítica.
6. Um exemplo: eu peço 100 reais para João com juros de 10% em janeiro e pago os 110 no mês seguinte com base em um empréstimo que fiz com Carlos, tb com 10% de juros. Em março, peço 121 para Maria e pago Carlos. Em abril, estou devendo 133 p/ Maria. Peço 133 a Joana e pago Maria
7. No gráfico da pizza, a ACD contabiliza que a minha despesa com a dívida de um empréstimo de 100 reais foi de 110 (pago a João) + 121 ( pago a Carlos) + 133 (Maria) = R$ 364,00
8. A partir disso eles alegam que eu já paguei mais de 3 vezes (364, 00) a minha divida inicial de 100 reais. Logo a dívida que tenho com Joana é ilegal.
9. Dado essa "conta" acima, pedem uma auditoria para provar que já pagamos mais de 3 vezes a dívida e que não temos que pagar nada a Joana.
10. Mais que isso, é com essa lógica que eles tentam responder a questão que eles colocam: como o Brasil sendo 5 vezes mais rico que a Dinamarca pode ser tão desigual e carente de tudo?
11. Portanto, a dívida de146 que tenho com a Joana não deve ser paga. E se for paga, representará uma despesa total com a dívida de 510 reais, qse metade de um salário mínimo.
12. Trata-se de uma carência de conceitos econômicos básicos, de uma matemática financeira mirabolante e da total ausência de solidez crítica.
13. Não estou nem falando de teoria econômica mais sofisticada. Só de conceitos básicos necessários à aprovação em uma prova de vestibular.
14. Cometer erros básicos é uma cilada. Não podemos ter esse tipo de fragilidade na dura luta contra AS PÉSSIMAS transferências de renda para os rentistas que aconteceram nas últimas décadas por conta de uma taxa de juros absurda.
15. Lutar contra a desigualdade gerada, também, pela transferência de renda regressiva para rentistas exige empenho, mobilização política e conhecimento técnico e teórico. Temos que nos perguntar pq temos uma taxa de juros que transfere algo em torno de 6% do PIB para rentistas.
16. Mais q isso: dizer que o Br é um dos países mais ricos do mundo (algo que não se concretizaria por causa do cálculo esquisito deles) é uma violência não só contra conceitos básicos de economia, mas, tb, contra toda a história d perspectiva crítica da condição periférica do Br

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26 Oct
Voltando à FEB, dentre muitas outras, lembro da discussão de Furtado sobre o tratado de panos e vinhos de 1703, entre Port. e Ing. Este acordo, para Furtado, foi a pá de cal p/ Portugal se industrializar. Na sequência, deixo a palavra com Furtado.
"Durante 2 decênios, a partir de 1684, Portugal conseguiu praticamente abolir as importações de tecidos. Política perfeitamente dentro do espírito da época, pois seis anos antes a Inglaterra proibira todo comércio com a França para evitar a entrada de manufaturas francesas"
"Contudo, é provável que fosse grande a reação dentro de Portugal, particularmente dos poderosos produtores e exportadores de vinhos, grupo dominante no país. Os ingleses trataram de aliar-se a esse grupo para derrotar a política protecionista portuguesa."
Read 6 tweets
23 Oct
1. A @AuditoriaCidada diz q as operações compromissadas são feitas p/ dar dinheiro aos bancos em um suposto esquema de corrupção para remunerar sobras de caixa dos bancos. Isso é falso e demonstra desconhecimento de aspectos básicos da política monetária. Agora inventaram que...
2.... um Projeto de Lei do PT, que visa substituir as operações compromissadas pelos depósitos voluntários remunerados, é um esquema ainda pior de corrupção. Isso não faz nenhum sentido e beira a fake news.
3. Tanto as compromissadas quanto a alternativa dos depósitos voluntários são instrumentos utilizados pelo Banco Central para acomodar o excesso de reservas de forma a manter a taxa básica de juros curta na meta estabelecida pelo COPOM. A diferença entre ambas é que...
Read 13 tweets
21 Oct
Um dos termos que eu acho que + deseduca os estudiosos do orçamento público é o tal do "cofre público". No imaginário e na legislação, o cofre, para encher, depende q o Estado obtenha moedinhas via tributação ou outras fontes de receitas.
Se o Estado não conseguir moedinhas o suficiente via tributos, fica em uma situação difícil e tem que se ajoelhar diante de credores/bancos, que escolhem se vão ou não emprestar as moedinhas para o governo e a que taxa de juros farão o empréstimo
Para não ficar nas mãos dos credores, que poderiam se negar a emprestar moedinhas de ouro para o Estado ou cobrar taxas de juros muito altas se acharem esse empréstimo arriscado, o governo deveria evitar o endividamento como princípio.
Read 7 tweets
19 Oct
1. Você sabia que o governo autorizou, via Medida Provisória (e a reboque da EC 106), que o Banco Central possa comprar títulos privados de empresas com débitos trabalhistas, fiscais e previdenciários? Sabia que esse mesmo BC não pode comprar título público no mercado primário?
2. Pois é, no Brasil, o BC pode comprar no mercado secundário títulos emitidos por empresas com "nome sujo", que tem débito trabalhista e previdenciário (tipo a do velho da Havan). E como o BC arruma dinheiro para comprar esses títulos questionáveis da carteira dos bancos?
3. O BC cria dinheiro e troca por esses papéis de empresas com histórico de calote na previdência ou nos trabalhadores. P/ os economistas liberais, empresa caloteira emite títulos de muitíssima qualidade, logo não há nenhum problema no BC emitir dinheiro para comprar esses papéis
Read 8 tweets
13 Oct
MMT EM 10 PASSOS

1. Antes da pandemia, faltavam empregos p/ quase 30 milhões de pessoas. Outras tantas estavam na informalidade e em trabalhos precários. Saúde, educação e infraestrutura sendo sucateados. A desculpa? não havia dinheiro. Agora, com a pandemia, o dinheiro apareceu
2. Covid é um vírus que fabrica dinheiro? Alguns cínicos dirão que o dinheiro apareceu pq se trata de uma emergência. Ora, em 2019 o Brasil era uma maravilha mesmo com tanto desemprego e metade das nossas crianças crescendo sem saneamento BÁSICO? Isso não era emergencial?
3. Diziam que o Brasil precisava reformar a previdência para poupar 1 trilhão em 10 anos. Isso será só o déficit deste ano. Aliás, a previdência está tendo o maior déficit da história. E continua sendo paga sem nenhum problema. Sabem pq? Pq o governo, literalmente, cria dinheiro
Read 10 tweets
12 Oct
Vou aproveitar esse post (bem equivocado) para esclarecer algumas coisas que deveriam ser óbvias.

Se a tx de juros não é exógena, então seria algum espírito que determina, todo santo dia, a Selic Over? Seria o espírito que a faz seguir, exatamente, a tx meta fixada pelo Copom?
2. Vamos supor que o Banco Central acorde um dia de mau humor e resolva não fazer nada: o que aconteceria com a Selic over ? Tenderia a ZERO! Com déficits tão altos, o excesso de reservas iria jogar a taxa curta no chão.
3. Ainda bem que o Banco Central nunca acorda de mau humor e, todo santo dia, faz operações compromissadas, absorvendo o excesso de reservas (ou injetando, se for o caso). É só essa obviedade que significa dizer que a taxa curta é ... EXÓGENA.
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