O capitalismo só existiu por ter desvalorizado os bens naturais na mesma medida em que tornou-os precificáveis e vendíveis aos pobres que tinham acesso a isto numa relação mais harmônica com o meio ambiente. Água, carvão e madeira foram reservados para venda.+
Aquela coleta de galhos secos passou a levar campesinos e ex-campesino à cadeia na origem do capitalismo. Isto explica o movimento contraditório de dar preço na natureza, mas desvalorizá-la. Para o pobre a madeira agora teria preço, mas para os ricos o bosque era acessível.+
E assim tem sido. Se aplicássemos o valor do petróleo considerando o tempo que a natureza leva para fazê-lo e o conjunto de matéria orgânica necessária para produzir, vejam vocês, nós não o usaríamos por ser muito caro. Se aplicássemos o valor de um floresta no clima, o mesmo.+
Então nós falamos sobre destruir a Floresta do Camboatá (RJ) para fazer um autódromo porque não contabilizamos a diversidade de vida. O governo autoriza supressão de vegetação no Cerrado pq ignora a vida no subsolo daquele bioma. O mesmo para uma outorga de água para irrigação.+
Deve-se acrescentar a isto o fato que o Brasil é um sistema extrator de riqueza para envio ao estrangeiro. Desenvolver forças produtivas aqui só se não atrapalhar este negócio colonial. Então como toda colônia, existem reservar de recursos naturais baratos.+
O descaso com o Amapá, portanto, é só um sintoma disto. O norte do país gera energia com suas hidroelétricas gigantescas, possui a maior cobertura vegetal do planeta, mas representa a reserva desvalorizada de recursos naturais para exploração.+
Neste local não há que desenvolver força produtiva, tampouco valorizar a terra e sua riqueza. Só se deve fazer isso, na medida de substituir a riqueza do rio por um serviço pago de água, e a riqueza da alimentação tradicional por um supermercado. Pois isto gera lucro.+
Ou seja, o povo é importante como comprador daquilo que eles teriam acesso na sociedade antes do processo colonial: comida, água, moradia, conhecimento, bem viver. Mas agora são apenas consumidores em cima da reserva de recursos.+
A hora da exploração da Amazônia está chegando e se acelerando tal como ocorreu com a destruição rápida do Cerrado. Se a Mata Atlântica levou séculos para quase ser extinta, o Cerrado não precisou de nem um século para entrar no aviso de incêndio (nos 2 sentidos).+
E aqui que entendemos a desvalorização do recurso natural (vida). Porque o valor da soja só é barata pq a terra é grilada, a água é extraída de rios que secam e de aquíferos em rápido processo de morte. O custo ambiental e social não tá na conta.+
O ouro é barato porque é completamente ilegal, extraído de Terra Indígena na base da bala e da contaminação dos rios e lençóis freáticos. O minério é barato porque td bem matar 2 rios e não reparar as vítimas. A lista é imensa.+
A saída, portanto, envolve o caminho contrário ao capital. A supervalorização do que de fato importa: água, floresta, ar, comida, moradia e viver bem. Acessar a terra, gerar riqueza a partir dela e conseguir enfrentar a máquina de desvalorização daquele lugar.+
E isso se faz construindo territórios opostos aos capitalismo. Sobretudo neste momento em que alimentos estão em alta e a fome chega, produzir comida será fundamental. Esta dor de agora é só o começo da ruína do pacto social das elites brasileiras imposta ao povo.+
Então colocar a terra como objeto da grande luta é fundamental hoje. Porque ao fazê-lo nós podemos proteger e valorizar a natureza, diminuir o impacto da mudança climática, e garantir o básico de nossa existência na crise estruturada do capitalismo. Diga ao povo que avance!
Jacques Depelchin, um historiador congolês com uma formidável crítica à teoria da história, falava que as histórias também podiam ser medidas pelo seu PIB. A história Europeia e do EUA são globais pelo valor de seus PIB's. A história queniana é local pelo mesmo critério.+
Esta mesma dinâmica serve internamente para pensar as histórias que são consideradas nacionais - SP, RJ, MG - e aquelas que recebem alcunha de história regional. Há uma violência narrativa que não se justifica ou se legitima em texto. Ela se apresenta covardemente oculta.+
Mas as editoras sabem. Também sabem as revistas e os melhores empregos. Isto, contudo, é claramente atravessado por outros aspectos, como o racismo. O PIB da China já desloca uma parte dos olhos para sua história, mas o racismo e o anti-comunismo ainda impedem o voo.+
Vocês que querem reformar uma sociedade racista, vocês tenham paz de espírito e evita falar em racismo estrutural. Estrutura não se reforma. Mas se você tá só buscando sobreviver financeiramente com a pauta racial, você evita confundir seu público pagando de militante.+
Essa coisa mesmo de minoria pra lá, minoria pra cá é muito importante no reconhecimento dos movimentos, mas se converteu no reconhecimento de pessoas no singular. Não é o povo X que deve ser reconhecido, mas fulano do povo X, mesmo que o povo esteja se lascando.+
Essa atrapalhação é proposital, é projeto. Aí vc vê os milionários colocando grana em gente que quer se empoderar justamente para quebrar a base. O que um banqueiro quer apoiando um socialista? Bora, fala da intenção do banqueiro. É caridade é?+
Começou a desgraceira. A água de Alagoas agora vai ficar sob gestão de um capital canadense no Brasil. Agora detalhe: esse capital chegou junto com a Lava-Jato tomando terreno onde havia crise e, pelo visto, nas consequências privatizantes pós-lava-jato tb.+
"especialista em aproveitar crises para investir onde poucos têm coragem (ou dinheiro).(...) Entre os negócios em que investiu estão ativos de energia e infraestrutura de empresas atingidas em cheio pela recessão e pela operação Lava Jato, como Odebrecht e Petrobras."+
Então é isto, estamos vivendo um sintoma claro de tomada do capital estrangeiro depois do ataque queo sofremos com a Lava-Jato e o golpe na @dilmabr. A desnacionalização de estruturas a serviço dos brasileiros.+ g1.globo.com/economia/notic…
No Brasil há uma cisão entre organizações de esquerda rebeldes e a luta dos povos. Os poucos encontros que existem entre estas duas forças possuem sérias dificuldades de caminhada conjunta. A razão? Há um profundo desconhecimento sobre essas lutas pelas esquerdas rebeldes.+
Por desconhecimento não falo saber que existe CONFREM, MPP, MPA, MST, CETA, APIB, MUPOIBA, MOQUIBOM, MNU, etc. Falo sobre entender as dinâmicas, os funcionamentos, os modos de enfrentamento e a questão territorial. Então fica pré-julgamento: não são movimentos revolucionários.+
E aqui está uma cisão quase entre teoria e prática, porque a história não nos engana sobre quem tem tomado meios de produção, enfrentado o principal inimigo do Brasil (o latifúndio) e construído com autonomia melhores condições de vida para seu povo.+
Conhecendo o histórico do anti-ministro do meio ambiente nós não temos que esperar qualquer coisa distinta. O estranho é a esquerda apostar nas instituições e não na ação concreta para salvar o meio ambiente. Sim o @MST_Oficial e a @teiadospovos têm projeto de replantio de mata.+
Contudo, onde estão as esquerdas para recuperar as áreas degradadas, tomar as terras do latifúndio, inviabilizar com gente e luta a mineração e os resorts? Ali e acolá dá pra ganhar uma ou outra ação na justiça, mas sem pressão td isso se perde com o tempo.+
Eu sei que uma parte de vocês querem esperar 2022 e ter fé numa eleição menos fraudada que trará um governo menos escroto com o meio ambiente. Mas me permita dizer algo: estão devastando e destruindo por causa do lucro e esta variável não muda com governo progressista.+
Fio pra vc ficar no ódio do agro. Vamos falar sobre terra no nosso continente? O estudo CERCAS DIGITAIS traz algumas informações fundamentais para pensar a questão agrária no nosso continente. Vamos lá: "1% dos proprietários rurais concentra 51% das terras agrícolas".+
A FAO identificava 2,8 bilhões de hectares de terras agricultáveis para expansão da fronteira agrícola no mundo em 2000. Este número caiu para 1,4 bilhão em 2012. 80% estava na América Latina e África Subsaariana. Ou seja, olha o quanto avançou o agro na década passada.+
5 zonas de expansão do agronegócio: a Orinoquia ou os Llanos Orientais (COL); o Matopiba no Cerrado (BRA); e as regiões da hidrovia Paraná-Paraguai, regiões de Santa Cruz de la Sierra e Beni nos bosques secos chiquitanos na Bolívia, o Chaco Seco (PAR) e o Chago (ARG).+