Olha, eu peguei inginja de "decolonialidade". Tipo, Boaventura é português, branco. Ele ficou conhecido e ganhou dinheiro com epistemes ou ideias dos povos do sul global. Convenhamos: tem algo mais colonial que um português ganhar dinheiro explorando o sul global?+
E tipo, tem muito material massa ali. Muito texto que ajuda. Mas é isto: fruto de uma falsa novidade. Fruto da evidenciação de um outro que segue sem o poder de enunciação que Boaventura tem. E eu li Walter Mignolo e essa turma. Tem coisa boa demais. Porém a turma se perde.+
Olha, num dá pra decolonizar na ideia e não ofertar um referencial que pense a terra, pq é desde a terra que a colonização é feita. Cê imagina alçar um subalterno à condição de referência na academia enquanto seu povo é desterritorializado? Que inversão é essa?+
É sutil. Mas você ver que quem vai ganhando espaço no cânone acadêmico e na mídia desde este lugar da fala do outro, do de baixo, da diferença, do subalterno... são pessoas que não se dedicam à falar da terra. Este é o real tabu. Quer ascender? Não confronte o dono do poder.+
Mas o pior da galera "decolonial" é a supervalorização das ideias frente as práticas dos povos. Ter as ideias dissociadas da ação concreta e do fazimento do mundo é uma coisa colonial, iluminista, típico dos pensamentos europeus. São os fazimentos a base destas epistemes do sul.+
Contudo parece que a "decolinialidade" tenta a todo custo retirar as ideias da tradição de suas práticas, de seu lugar, portanto, de sua terra, de sua territorialidade. E ao arrancar, usam como bem querem para falar o que os subalternos não disseram.+
Este inferno de desenvolvimento de teoria só na Europa não se enfrenta necessariamente com criação de teoria decolonial. Mas com as teorias dos fazedores subalternos de hoje - de preferência em luta. Até na hora de escolher o pensamento de baixo, escolhem de quem tá descolado.+
Porque fundamentalmente não querem um pensamento de um povo em luta, em guerra contra o mundo colonial que existe hoje e agora. Eu tou cansado disso. Quer valorizar o pensamento do subalterno? Luta com ele. Ajuda a emergir o poder político dele. Retomar riqueza.+
Sim, no capitalismo, fala quem tem poder de elocução. Se você não detém os meios de comunicação e nem vai fechar com as ideias deles, você precisa ser rebelde suficiente para ganhar completamente a atenção. E aí, só fogo contra quem bota fogo. "Decolonialidade".. ó as ideia.
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Mais uma vez a gente tá vendo esta situação de usar o sistema epidérmico-racial que desvaloriza e prepara o extermínio de nosso povo para criar fratricídio e expor gente que faz luta social anti-capitalista. Vai parar? Não vai porque o objetivo desse "novo empoderamento" é esse.+
Quando nós falamos de "empoderamento", nos remete logo a poder. Eu teria total acordo se falássemos de forma clara sobre melhoria das condições de existência, diminuição dos danos psicológicos e emocionais em ser preto ou preta e etc. Mas empoderamento vem de poder. Pera lá! +
Ver na TV Aberta os branco levantando a bola para uma intelectual preta cortar expondo ainda mais uma lutadora social como a @letparks, mostra que este "empoderamento" trata-se, pelo contrário, de impedir o acesso ao poder real (acesso ao Estado) de quem está em luta.+
O capitalismo só existiu por ter desvalorizado os bens naturais na mesma medida em que tornou-os precificáveis e vendíveis aos pobres que tinham acesso a isto numa relação mais harmônica com o meio ambiente. Água, carvão e madeira foram reservados para venda.+
Aquela coleta de galhos secos passou a levar campesinos e ex-campesino à cadeia na origem do capitalismo. Isto explica o movimento contraditório de dar preço na natureza, mas desvalorizá-la. Para o pobre a madeira agora teria preço, mas para os ricos o bosque era acessível.+
E assim tem sido. Se aplicássemos o valor do petróleo considerando o tempo que a natureza leva para fazê-lo e o conjunto de matéria orgânica necessária para produzir, vejam vocês, nós não o usaríamos por ser muito caro. Se aplicássemos o valor de um floresta no clima, o mesmo.+
Jacques Depelchin, um historiador congolês com uma formidável crítica à teoria da história, falava que as histórias também podiam ser medidas pelo seu PIB. A história Europeia e do EUA são globais pelo valor de seus PIB's. A história queniana é local pelo mesmo critério.+
Esta mesma dinâmica serve internamente para pensar as histórias que são consideradas nacionais - SP, RJ, MG - e aquelas que recebem alcunha de história regional. Há uma violência narrativa que não se justifica ou se legitima em texto. Ela se apresenta covardemente oculta.+
Mas as editoras sabem. Também sabem as revistas e os melhores empregos. Isto, contudo, é claramente atravessado por outros aspectos, como o racismo. O PIB da China já desloca uma parte dos olhos para sua história, mas o racismo e o anti-comunismo ainda impedem o voo.+
Vocês que querem reformar uma sociedade racista, vocês tenham paz de espírito e evita falar em racismo estrutural. Estrutura não se reforma. Mas se você tá só buscando sobreviver financeiramente com a pauta racial, você evita confundir seu público pagando de militante.+
Essa coisa mesmo de minoria pra lá, minoria pra cá é muito importante no reconhecimento dos movimentos, mas se converteu no reconhecimento de pessoas no singular. Não é o povo X que deve ser reconhecido, mas fulano do povo X, mesmo que o povo esteja se lascando.+
Essa atrapalhação é proposital, é projeto. Aí vc vê os milionários colocando grana em gente que quer se empoderar justamente para quebrar a base. O que um banqueiro quer apoiando um socialista? Bora, fala da intenção do banqueiro. É caridade é?+
Começou a desgraceira. A água de Alagoas agora vai ficar sob gestão de um capital canadense no Brasil. Agora detalhe: esse capital chegou junto com a Lava-Jato tomando terreno onde havia crise e, pelo visto, nas consequências privatizantes pós-lava-jato tb.+
"especialista em aproveitar crises para investir onde poucos têm coragem (ou dinheiro).(...) Entre os negócios em que investiu estão ativos de energia e infraestrutura de empresas atingidas em cheio pela recessão e pela operação Lava Jato, como Odebrecht e Petrobras."+
Então é isto, estamos vivendo um sintoma claro de tomada do capital estrangeiro depois do ataque queo sofremos com a Lava-Jato e o golpe na @dilmabr. A desnacionalização de estruturas a serviço dos brasileiros.+ g1.globo.com/economia/notic…
No Brasil há uma cisão entre organizações de esquerda rebeldes e a luta dos povos. Os poucos encontros que existem entre estas duas forças possuem sérias dificuldades de caminhada conjunta. A razão? Há um profundo desconhecimento sobre essas lutas pelas esquerdas rebeldes.+
Por desconhecimento não falo saber que existe CONFREM, MPP, MPA, MST, CETA, APIB, MUPOIBA, MOQUIBOM, MNU, etc. Falo sobre entender as dinâmicas, os funcionamentos, os modos de enfrentamento e a questão territorial. Então fica pré-julgamento: não são movimentos revolucionários.+
E aqui está uma cisão quase entre teoria e prática, porque a história não nos engana sobre quem tem tomado meios de produção, enfrentado o principal inimigo do Brasil (o latifúndio) e construído com autonomia melhores condições de vida para seu povo.+