Thread by @VianaNatalia

AVISO DE FIO! 👇

A tentativa funesta do @minsaude de esconder os dados da pandemia e reforçar os recuperados me lembrou uma história que ocorreu na Ditadura e mostra como os militares escondiam dados – e como mulheres se organizaram para denunciar a realidade. Segue o Fio!

1) Pra quem não sabe os dados sobre inflação e a economia eram fortemente controlados pelos militares durante o “milagre econômico”. As críticas eram censuradas e os dados sobre a inflação, manipulados.

2) O Ministro Delfim Netto, por exemplo, “controlava” a inflação apelando para “truques” como abastecer a cidade do Rio de Janeiro, onde eram medidos os preços dos alimentos usados pela FGV para o cálculo da inflação. Ele “mantinha” a inflação a 12%, um número irreal.

3) Funcionava assim: Se uma seca afetava uma colheita o governo mandaria caminhões do produto para o Rio, aumentando a oferta e diminuindo o preço no local, o que impactaria o índice oficial.
economia.uol.com.br/noticias/redac…

4) O “milagre econômico” foi produzido arrochando salários dos trabalhadores, que não eram mais reajustados de acordo com a inflação. Durante a ditadura, o salário mínimo perdeu 50% do seu valor real. Mas isso não aparecia na imprensa, censurada.

5) O Movimento Contra o Custo de Vida, ou Movimento Contra a Carestia foi iniciado em 1973 por clubes de mães da Zona Sul de São Paulo, que inicialmente se reuniam para fazer bordados e trabalhos comunitários. Mas elas perceberam que o salário não chegava mais no final do mês.

6) O que fizeram para provar isso? Com o apoio da Igreja católica, juntaram voluntárias para fazer uma pesquisa de casa em casa e nos comércios anotando o preço dos alimentos.

7) Elas compararam por exemplo preços de alimentos entre outubro de 1972 e de 73. Comprovaram que o arrocho era sentido mais fortemente nas regiões periféricas da zona sul do que nos bairros centrais da capital.
agenciamural.org.br/ha-mais-de-40-…

8) Em 27 de agosto de 78 o movimento colocou mais de 20 mil pessoas em um ato na Praça da Sé para protestar contra a política econômica. Pediam congelamento de preços para produtos alimentícios e aumento salarial.

9) O movimento reuniu mais de 1,3 milhão de assinaturas em um abaixo-assinado contra a política econômica do governo. As líderes do movimento chegaram a ir até Brasília para entregar o abaixo assinado a Ernesto Geisel. Mas não foram recebidas pelo presidente da ditadura.

10) Aqui, o panfleto que elas distribuíram de casa em casa para conseguir apoio ao abaixo-assinado.

11) Ainda foram acusadas e falsificar assinaturas! "A única resposta oficial que receberam do governo foi um laudo grafotécnico da Polícia Federal dizendo que havia duplicidade em parte das assinaturas", diz o historiador Thiago Nunes Monteiro, autor de um livro sobre o tema.

12) "Fomos xingadas, humilhadas. Nós éramos terroristas, comunistas. A igreja também jogava pedra. Nós íamos pra rua, e os homens se perguntavam: 'Essa é a mulher que saiu do fogão? Analfabeta?", diz Ana Dias, uma das fundadoras, ao blog Mulherias. mulherias.blogosfera.uol.com.br/2019/03/30/mai…

13) Ana Dias viu seu marido, o líder sindical Santo Dias, ser assassinado durante um piquete na greve dos metalúrgicos de 1979 – um ano depois dela ter liderado a manifestação na Praça da Sé. O enterro do esposo mobilizou mais de 30 mil pessoas no centro de SP.

14) O Movimento Contra a Carestia ajudou a fomentar as greves do ABC e chamou atenção pra o desastre econômico que a ditadura estava organizando. Ainda hoje fala-se do “milagre”, uma verdade apenas em parte.

15) Como explica @miriamleitao “ficou essa impressão (...) que o país cresceu muito, mas foi concentrando renda e arroxando o salário dos trabalhadores. A ditadura foi implantada com o pretexto econômico de que a inflação tinha chegado a 80% ao ano, mas entregaram em 300% ao ano”

16) “A inflação se reproduzia e só a democracia conseguiu resolver este problema e levar a inflação para um dígito depois de 10 anos de luta. Além disso, a ditadura deixou o país quebrado, com a dívida externa enorme e com uma bagunça na área fiscal”.
g1.globo.com/bom-dia-brasil…

17) Pra quem acredita que os militares sabem gerir bem o Estado, melhor que os civis – fica a lembrança. E também a memória de como um grupo de mulheres conseguiu desmascarar um punhado de generais e ministros mentirosos e falseadores. /