Thread by @oatila

O pessoal que analisa o SIVEP-Gripe, como o @marfcg vem alertando constantemente sobre tendências de alta em várias cidades, apesar do sistema ter saído do ar. E apesar da falta de testes forçar de novo a volta de Síndrome Respiratória Aguda Grave.

https://twitter.com/marfcg/status/1324715262105554945?s=20

Ou seja, sem testes como o país tem feito sempre, não temos como ver um aumento de casos óbvio em todas as cidades. E somos obrigados a usar métricas indiretas, como SRAG ou internações hospitalares. E essas têm aumentado muito. São Paulo, por exemplo

https://twitter.com/MBittencourtMD/status/1326713830806786050

Olha a reversão em hospitais privados. A situação estava melhorando, até que parou de melhorar e piorou. Só que hospitais particulares fazem mais testes e pessoas com mais dinheiro circulam mais. Esses são os primeiros sinais, como foi no começo do ano.

https://twitter.com/MBittencourtMD/status/1326713839690330112

Pessoas com mais $ têm alto índice de mobilidade, especialmente em centros urbanos. Quando os casos sobem, são as primeiras a se recolher e se protegem. Mas antes, são as que deixam o vírus circular primeiro, de onde vai pros mais pobres e fica.

https://twitter.com/MBittencourtMD/status/1326633828966944769?s=20

Não falo dessa diferença de renda pra apontar culpados, mas sim apontar a tendência. Em março, o vírus chegou com quem voltava da Europa e dos EUA e depois se espalhou. Agora vemos UTIs particulares de São Paulo enchendo de novo. E agora faltam dados

https://twitter.com/brasil_io/status/1326662346283085826

E não tem imunidade protetora. A Suécia até atrasou um pouco a entrada do vírus, talvez por ter mais pessoas imunes, mas a situação lá tá piorando mais rápido do que "em qualquer outro país da Europa" (via @VallinotoLucas).

https://twitter.com/financialtimes/status/1326761651811520516

Ou seja, não dá pra contar com imunidade coletiva, nem com o comportamento voluntário das pessoas (estratégia sueca). Queria muito que eles provassem que o mundo tá errado e a abordagem deles é a certa. Tão caminhando para o cenário oposto.

Até o Japão, que tinha enfrentado o começo do ano com comportamento das pessoas e bem pouca intervenção de fechar tudo (talvez pela cultura, talvez por conta de Olimpíadas), também está no pior aumento de casos agora. Ou seja, no inverno com casos já espalhados, não pode vacilar.

Notícia com os casos recordes do Japão, que esqueci de colocar:

english.kyodonews.net/news/2020/11/d…

Aqui no Brasil, caminhamos pra um cenário perto dos EUA no verão. Os casos caíram um tanto, mas não foram embora. E voltaram com tudo no inverno, batendo recordes. Nossos números são menos confiáveis, pela falta de testes e sistema fora do ar nas últimas semanas. E temos dengue.

Temos dengue, zika e chikungunya pra causar mais casos no verão, com mais gente em casa (não sei como vai ser a interação com o mosquito). Mas a dengue em específico ainda pode interagir com os testes e turvar mais a água que já não vemos:

https://twitter.com/otavio_ranzani/status/1323014311669846019

Nessa briga de negar a realidade, vacinas, culpar vítimas e chamar quem se previne de maricas, caminhamos pra não só não fazer nada pra combater a COVID, como ainda erodir mais a confiança pública em ciência e saúde. É possível que já estejamos na segunda onda. E vai ser dura.

Então se você conta com a data mágica de janeiro de 2021 pra achar que a COVID vai embora, se previna. Podemos (devemos) ter que fazer mais isolamento ano que vem. Mas começamos o ano bem mais quebrados e cansados. E com os profissionais de saúde já destruídos e sequelados.

E se conta com vacinas, o cenário é ótimo e tudo indica que teremos. Mas a OMS, as próprias farmacêuticas, os cientistas e todo mundo que não precisa de votos já avisou: vacina pra todo mundo e situação mais tranquila só em 2022, se muito.

A Região Norte, que concentra as maiores proporções de atingidos pela COVID no Brasil, segue mostrando que mesmo com os números pavorosos que atingiram, não tem proteção:
g1.globo.com/rr/roraima/not…
d.emtempo.com.br/amazonas/26788…

Outro especialista, a mesma constatação: casos aumentando e nós seguindo o mesmo caminho da Europa:

https://twitter.com/schrarstzhaupt/status/1326696375220920321?s=20

Ficamos com a âncora mental de fevereiro-abril, quando ninguém fazia distanciamento e o vírus se espalhava muito (R=3). Agora, mesmo com tudo relaxado, ainda tem muita gente em casa, de máscara e tomando cuidado. Então os casos aumentam em câmera lenta. Mas a tendência é a mesma.

Com uma grande diferença. A maré agora sobe pra todos, não só em algumas regiões pontuais, como no começo do ano. Então ao invés de um problema agudo que mata muitos mas é mais controlável, como na Lombardia, agora temos um problema crônico que não dá descanso. Agora é pandemia.

Se os EUA seguirem na negação que fazem (como nós), podem chegar a 400 mil mortes ainda este ano. Não temos motivo nenhum pra achar que a situação será diferente aqui, se não for pior.

foreignpolicy.com/2020/11/10/the…