Volta e meia, ouço por aí um papo de que "o Sudeste sustenta o Nordeste" etc. Aconteceu hoje.
Sobre a origem da desigualdade regional no Brasil, recomendo o @thaleszp.
Um fator importante no séc 19 foi uma política fiscal que quebrou o Nordeste para sustentar o RJ. Segue o fio:
Na virada do século 18 para o 19, a desigualdade regional brasileira não existia como conhecemos.
O Nordeste era o maior fornecedor do algodão que chegava em Liverpool. Uma tal de Revolução Industrial acontecia por ali. Mas o setor quebrou nesta época, quando a demanda explodia.
De todos os grandes exportadores de algodão, nenhum país teve uma performance pior que a do Nordeste brasileiro naquela época.
Pouco a pouco, regiões como o Sul dos EUA ocuparam esse espaço. O Brasil conseguiu a proeza de perder o bonde da história. Como isso aconteceu?
A pesquisa de @thaleszp responde, essencialmente, esta pergunta: como é que o Nordeste perdeu espaço logo quando a demanda inglesa por algodão explodiu a níveis nunca antes vistos? Como um dos setores mais prósperos da economia brasileira simplesmente quebrou?
O mau desempenho do Nordeste não foi uma determinação divina, inevitável. E a pesquisa de @thaleszp mostra isso.
Thales mostra que o principal fator para a derrocada do algodão nordestino foi uma política fiscal que lesava o Nordeste para bancar a monarquia no Rio de Janeiro.
Vocês devem estar carecas de saber que, ali no início do século 19, a corte portuguesa veio pro Brasil fugindo de Napoleão. E que a história do país mudou completamente com esse evento, que transformou o Brasil em sede de um grande império. Um acontecimento desses custa caro.
Uma das principais fontes de recurso veio de um novo imposto sobre exportações que afetou especialmente o Nordeste.
O imposto tornou inviável a exportação de algodão, sendo crucial para inviabilizar o setor algodoeiro e prejudicar gravemente o Nordeste como um todo.
O tema é especialmente relevante porque, ao longo do século 19 e no início do século 20, a desigualdade entre Nordeste e Sudeste começou a ficar parecida com o que conhecemos.
No século 19, Sul e Sudeste bombaram. Já o Nordeste quebrou.
Enquanto o setor algodoeiro do Nordeste era destroçado, um produto mudou a história do Sudeste: o café.
Gradualmente, a partir desta época, parte do Brasil conseguiu investir mais em infraestrutura e até educação. E o Nordeste, sem arrecadação para investir, ficou para trás.
Apesar de especialmente importante por ter ocorrido num momento de virada, o caso do algodão não é o único exemplo da política econômica priorizando o Sudeste. No século 20, a política industrial concentrou os benefícios no Sudeste, mas dispersou os custos pelo país todo.
Muitos fatores influenciaram essa desigualdade regional. Se você quiser se aprofundar no assunto, assista a live que fiz no canal d'@OMercadoPopular com @rod_coliveira e @thaleszp.
Alguns trechos mais curtos estão disponíveis no canal.
Nesse vídeo, por exemplo, o gaúcho @thaleszp discorre com mais detalhe sobre quando esse processo começou e algumas das possíveis causas por trás dele.
Para se aprofundar na questão do algodão no Nordeste, leia os artigos do Thales que estão no site dele:
- Esta thread é só um comentário informal sobre um episódio histórico, sem pretensão de encerrar o debate ou revelar a causa definitiva da desigualdade regional.
- Para não falar bobagem, busque conhecimento nos links e autores mencionados.
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O argumento de Silvio Almeida é ótimo na seguinte leitura: políticas que promovem desigualdade promovem racismo. Cabe discutir se toda austeridade fomenta desigualdade. O Real foi precedido por um pacote de austeridade. O Bolsa Familia ocorreu durante um ajuste fiscal. 1/5
No fim das contas, prefiro aproveitar o que considero melhor e mais correto no argumento dele - o antirracismo precisa ser incorporado na agenda econômica de quem pretende superar o probema. De um especialista em racismo, não espero ressalvas e nuances sobre política fiscal. 2/5
No fim, “austeridade é racista” ali significa “políticas anti-negro são racistas”. Se austeridade é anti-negro ou não, depende do significado que cada um dá à palavra. E eu duvido que Silvio e os economistas revoltados trabalhem com a mesma conceituação. 3/5
A @CNNBrasil tem defendido o suposto "Grande Debate", afirmando que é um modelo aclamado no exterior. Não é verdade.
Nos EUA, a própria CNN cancelou o programa por reconhecer que prejudicava o debate público.
A história é curiosa e ensina muito sobre a imprensa. Conto + no fio:
O "Crossfire" (Fogo Cruzado, o Grande Debate deles) foi um dos programas de maior sucesso da CNN por 22 anos.
O episódio mais famoso foi ao ar em 15 de outubro de 2004. É um dos momentos mais marcantes da TV dos EUA. Foi o início do fim para o Crossfire, cancelado em dezembro.
O responsável por cancelar o Crossfire foi Jon Stewart, esse do gif abaixo. Ele apresentava o Daily Show e foi pioneiro ao misturar comédia com noticiário político. O programa fazia tanto sucesso que era transmitido no Brasil. O modelo do Daily Show foi copiado em todo o mundo.
Com o surgimento da pandemia, o presidente americano, republicano da ala mais ideológica do partido, ignora os apelos de especialistas por muito tempo. Tentou tirar o atraso depois que a coisa ficou feia, mas era tarde demais.
Trump? Não. Me refiro a Ronald Reagan.
Segue o fio:
Essa história começa com macacos de Kinshasa (RD Congo), ao redor de 1920, que sofriam com o vírus da imunodeficiência símia (SIV). Via chimpanzés, o vírus se tornou capaz de infectar humanos.
Assim nascia uma das piores pandemias da história: a AIDS, causada pelo vírus HIV.
Nos primeiros 60 anos, diversas descrições de doenças similares à AIDS surgiram na região de Kinshasa. O registro mais antigo do vírus é de 1959, mas só foi descoberto anos depois. Essa história ficou desconhecida por várias décadas, até que alguns haitianos voltaram do Congo.
O @MBLivre está cometendo o erro crasso de se opor à PEC 45 (reforma tributária do Appy). A justificatica bizarra é de que a alíquota única prejudica o setor de serviços. Bizarro que liberais defendam que a alocação da produção entre setores se baseie em legislação tributária.
“Ah, mas vai aumentar muito o imposto sobre serviços”
Problema do setor de serviços. Vai diminuir a conta de luz. Restaurante de rico tem que pagar menos imposto do que a conta de água do pobre?
A alíquota única REVOLUCIONA a economia brasileira e desonera famílias pobres.
Um exemplo simples:
Quem constrói um prédio com o método tradicional (pedreiro no canteiro de obra) paga como serviço uma aliquota X.
Já a construção com pré-moldados paga como indústria uma alíquota 2X.
O Estado intervenha para dar preferência a práticas menos produtivas.
Galera, o @NexoJornal me pediu para indicar 5 livros que não-liberais deveriam ler para entender o liberalismo. Pensei em LLL, Bourgeois Virtues, On Liberty, Merquior e o Life of an Idea.
Me convença de que estou esquecendo um imperdível. Vou ler tudo e refletir sobre cada dica.
1) LLL = Law, Legislation and Liberty (F. A. Hayek) 2) The Bourgeois Virtues: Ethics for an Age of Commerce (Deirdre McCloskey) 3) On Liberty (John Stuart Mill) 4) Liberalismo: Antigo e Moderno (J. G. Merquior) 5) Liberalism: Life of an Idea
Três livros sobre pensamento liberal:
1 é o melhor de Hayek, que imho é o maior pensador da tradição liberal junto com Smith
2 é o melhor que já foi produzido neste século
3 é o símbolo literário do auge dos clássicos no séc 19
- Política fiscal expansionista + política monetária segurando a inflação (Lula e Dilma) => dólar cai
- Política fiscal contracionista + política monetária expansionista (Temer e Bolso) => dólar sobe
Eis o novo equilíbrio macro. A indústria agradece.
Assumindo juros externos e tudo o mais constante: se a SELIC cai, o dólar tende a subir. Porque manter ativos em real (remunerados a juros internos) fica menos atrativo, a demanda relativa por R$ cai.
A diferença entre os juros internos (R$) e externos (U$) nunca foi tão pequena
A relação que descrevi acima faz parte de qualquer curso de macroeconomia da graduação. Há uma relação direta entre o diferencial de juros (em R$ e U$) e a taxa de câmbio medida em R$/U$.
Google “paridade de juros” e vocês encontram bastante coisa como o slide abaixo: