O resultado de hoje parece reforçar o que eu falei sobre a eleição americana: a direita ficou embriagada com as vitórias de 2016, acreditando que a combinação entre conservadorismo popular difuso e ativismo na internet seria suficiente para conquistar o poder.
Não é. No máximo..
... uns carguinhos, mas no médio prazo, nem isso.
Em 2016, a nova direita pegou a esquerda de surpresa. Falar grosso e furar a espiral de silêncio era suficiente para conquistar votos. Ela também tinha a vantagem de estar na oposição. Jogar pedra é sempre mais fácil.
Porém, a ND não soube aproveitar a onda. Tem um monte de coisa faltando, mas o principal é o seguinte: lideranças efetivas, gente capaz de organizar a militância FORA da internet, participando dos vários grupos da sociedade civil.
Também falta um verdadeiro programa de governo. No fim das contas, a ND está apenas com uma identidade negativa: “anti-comunista, anti-revolução cultural, anti-gasto público”, mas sem saber como articular isso positivamente: quais os benefícios para o cidadão médio?
Para completar a bagunça, parte da ND resolveu adotar um discurso de sinalização de virtude, prometendo que são bonzinhos, limpinhos, etc. Isso só serviu para alimentar a animosidade interna e deixar o movimento mais distante de problemas reais.
No fim das contas, essa falta de efetividade política é fruto da combinação de duas coisas: o excessivo formalismo brasileiro e a pouca experiência do movimento.
Em geral, os brasileiros são ruins de execução. A gente gosta de ficar perdido em debates abstratos. A internet...
... é ótima para isso, porque dá para passar 16 horas por dia tratando na internet, sem construir nada de concreto.
Todo mundo faz isso, em certa medida, mas a esquerda tem mais prática de política efetiva. Afinal, a ideia de “materialismo dialético”, de ficar atento à...
ao fato de que o debate é apenas a “superestrutura” da “infrastutura social” faz com que eles participem mais ativamente da sociedade civil (por mais furada que seja a teoria).
Percebendo isso, partes cada vez mais maiores de gente que ganhou espaço com a nova direita (mesmo...
... que não gostem/concordem com o rótulo) vai tender a busca guarida na isentoesfera. Na minha opinião, é repetir o erro tático do PSDB em 2016 e acabar lá pelos 10%.
Porém, dessa vez a esquerda virá sob “marcas” diferentes, sem o passivo de imagem do PT e 14 anos de governo.
Na melhor das hipóteses, a ND pode manter a presidência e tentar paralisar os planos da esquerda por mais tempo. Não vejo sinal algum de que vai criar uma força política efetiva, capaz de montar maioria no congresso e aprovar reformas (o que significaria antes ter um projeto).
A meu ver, o caminho para reverter isso é bastante simples, mas dificilmente há tempo hábil para que isso tenha um impacto antes de 2022.
Esse caminho é criar um movimento com foco em formação de lideranças locais. Criar um programa interno de formação de quadros, dividir o...
... o território em distritos e criar conexões com os grupos locais de sociedade civil e criar uma estrutura clara e transparente de democracia interna, para conseguir atrair os diversos componentes da ND.
O caminho é simples, mas não sei se há capital humano para fazer isso.
Se não houver, o centrão continuará como fiel da balança e não terá problema algum em criar uma coligação com as novas lideranças de esquerda ou com a isentoesfera.
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Uma coisa que eu sempre falo aqui é para termos cuidado com o excesso de formalismo. Um bom exemplo do risco de se focar nas regras é olhar para as eleições americanas.
Formalmente falando, ninguém venceu as eleições. O que houve foi a definição dos delegados do colégio...
... eleitoral que irão escolher o presidente. Ou seja, formalmente, a eleição não está definida — tanto porque o colégio eleitoral não se reuniu, como porque há um período onde os candidatos podem pedir recontagem e entrar na justiça.
Ou seja, formalmente, está tudo aberto.
Porém, existe essa tradição da imprensa declarar o resultado antecipadamente, quando as “decision desks” acham que já dá para prever.
Como toda a imprensa declarou a vitória de Biden em uníssono e estão tachando de “golpismo” o uso dos mecanismos legais legítimos, isso...
Cheguei no final terceira temporada de Deadwood e é impressionante como é frustrante. É a terceira vez que assisto e é a terceira vez que fico frustrado.
Parte da frustração é porque não há fim. Parte é porque a gente não quer que acabe. Mesmo sem ter rumo, a gente quer ficar habitando naquele mundo para sempre.
Mas a terceira temporada é especialmente problemática. Nas outras, há uma repetição cíclica agregadora: todo episódio é um dia na vida dos personagens, todo episódio aprofunda nosso entendimento daquelas pessoas.
Política é importante, mas é um efeito secundário da sociedade. E a sociedade é um efeito secundário da capacidade de ação individual.
A ordem pra mudar as coisas é começar pelo desenvolvimento da própria personalidade.
O primeiro passo é quebrar os condicionamentos culturais negativos da atmosfera brasileira: deixar de excessos abstrativos, abandonar a esperança do concurso público, parar com formalismo.
É preciso entender que a vida é ação, dinamismo, execução, risco.
O segundo passo é aumentar a própria capacidade ação: ser eficiente, saudável, objetivo.
Corte o açúcar, ajeite o sono, levante pesos, pratique uma arte marcial e ganhe dinheiro. Essa é a base.
Essas dancinhas pró-Biden parece muito com replicantes tentando imitar seres humanos.
“Rápido, precisamos fazer de conta que somos capazes de expressar alegria. Mexam rapidamente os braços e pernas vigorosamente.”
Creio que a falsidade é porque eles não estavam motivados por algo positivo (realizar algo), mas negativo (derrubar Trump). Porém, como a moda é sinalizar virtude, ficaria feio expressar sentimento de revanche, raiva, etc., então estão fazendo de conta que estão sentindo alegria.
A falta de conexão com seus sentimentos autênticos acaba sendo revelada pela desconexão dos movimentos.
Se tivessem um nível de consciência maior, saberiam que nem toda vitória é alegre: pode ser um momento de alívio ou até mesmo de vazio, após perder o inimigo.