Nossos critérios/avaliações sempre foram transparentes e públicos. Melhor modo de conduzir uma pandemia.
Nos últimos dias diversos Estados do Brasil começaram a consolidar uma nova tendência de aumento de casos leves, graves e óbitos. No inicío da pandemia também foi assim.
No ES apresentamos na fase de recuperação 3 cenários possíveis:
a) Queda lenta e sustentada da internação e dos óbitos.
b) Estabilidade em de 300 pacientes em UTI-Covid/dia ( dentro da variação de 10%)
c) Aumento sustentado dos óbitos e das internações acima de 330 pacientes/dia.
A partir do dia 27/10 o movimento de oscilação da internação em UTI-COVID passou a ocorrer no ES. Nos três últimos dias a ocupação ultrapassou variação de 330, apresentando tendência clara de crescimento de casos graves.
Esse comportamento foi precedido de um aumento sustentado de internações em enfermarias COVID-19 a partir do dia 14/10.
Neste contexto desenha-se o cenário C. As medidas para suportar a pressão assistencial já foram tomadas, é preciso deixar claro a sociedade sobre a necessidade de coesão/disciplina social nesta nova fase de enfrentamento a pandemia. Apostar na imunidade de rebanho é insanidade.
A repercurssão de um novo crescimento de casos de COVID-19 possui relevância quando implica em aumento de óbitos e de internações. Enquanto a doença se comportar com muitos casos leves, sem internações e óbitos, teremos maior flexibilidade para a vida econômica e social.
Na chamada "primeira onda" o mundo adotou a estratégia de distanciamento social visando "achatar a curva" para salvar vidas, reduzindo casos, distribuindo-os ao longo de semanas, permitindo o preparo da rede assistencial, evitando o colapso do sistema de saúde.
No ES optamos por preparar a rede SUS própria, filantrópica e de modo complementar a rede privada. Chegamos a ter 844 leitos de enfermaria e 715 de UTI exclusivos a paciente com COVID-19.
Abrimos dois hospitais novos para o SUS, o Hospital da Associação dos Funcionários Públicos do ES, com 80 leitos para atender o perfil de ortopedia de média complexidade e o Aquidaban em Cachoeiro do Itapemirim com 60 leitos para atender pacientes com COVID.
Ampliamos leitos de UTI no Hospital Estadual Central, referência para pacientes neurológicos, vasculares e de ortopedia. Reorganizamos o perfi do Hospital Jayme, Dório, HESVV. Ampliamos leitos não-COVID no Hospital de Atenção Clínica, antigo Adalto Botelho e em outras unidades.
Ao total, de norte a sul do ES, são mais de 600 leitos ampliados na rede própria do SUS até dezembro deste ano. Durante a primeira onda da doença tivemos uma ampla redução da ocorrência de traumas, AVCs, infartos, etc. Hospitais pediátricos operaram abaixo de 50% de ocupação.
O ES aproveitou o tempo da primeira onda para preparar a rede assistencial, a estruturar a vigilância em saúde, coesionar os municípios, ampliar a capacidade de testagem, preparar o ES para a possível vacinação em 2021. Aprendemos com a pandemia e com as lições de nossa época.
No entanto, como já dito em outra ocasião, neste momento operamos a rede sobre carregada com uma quadrupla carga de doenças: doenças infecciosas e problemas nutricionais conhecidos, causas externas e doenças crônicas descompensadas estão somadas a carga diferenciada da Pandemia.
Neste exato minuto em que escrevo, somente 5 pacientes aguardam leito de isolamento de UTI-COVID em toda a Grande Vitória. A demanda por UTI, não-COVID é maior que a pressão assistencial de pacientes com COVID-19. O mesmo comportamento ocorre com a demanda de leitos de enfermaria
No caso do ES, seguimos tendo dois comportamentos distintos da pandemia, um na Grande Vitória e outro no interior, não me refiro somente a pandemia "per si", mas a gestão da pandemia também. O Estado é dividido em 4 regiões de saúde, Norte, Central, Metropolitana e Sul.
No ES em setembro ocorreu mudança no critério de testagem, recomendando testar com RT-PCR todo paciente com sintomas suspeitos de COVID-19 e os contatos intradomiciliares dos positivos, levando a um aumento de casos observados na região metropolitana nos meses subsequentes.
Julho e agosto foram meses de queda do sustentada de casos e óbitos por COVID-19 no ES. No mês de setembro houve aumento da detecção de casos sem correspondente aumento de óbitos.
No entanto, as internações em UTI-COVID e os óbtios relacionados a doença, seguiram caindo e tendo tendência de estabilização, como se observa no gráfico do período de 5/7 à 28/10.
Neste momento chama a atenção o comportamento da pandemia na Região Metropolitana de Saúde, separamos para melhor análise a Grande Vitória dos demais municípios da região de saúde.
No interior da região metropolitana, houve estabilização de casos entre 7/9 e 14/10, a partir desta data os casos chegando a 132,64 na média móvel de 14 dias, no dia 8/11, já ultrapassando o limite do pico de casos observados anteriormente na primeira onda.
Até o final de novembro o novo pico de casos neste território seŕá substancialmente maior que o da primeira curva. No entanto, a letalidade pelo COVID-19 na região nos respectivos meses é menor que no período anterior, não obstante outubro ter apresentado mais óbitos que set.
A redução da letalidade pelo COVID-19 é expressão do aumento da capacidade de testagem no Espírito Santo. O fenômeno também ocorreu na Grande Vitória, onde também o pico de casos ultrapassará em novembro o pico da primeira onda e interromper a queda sustentada dos óbitos.
Além da testagem plena de todos os sintomáticos e dos contatos intradomiciliares assintomáticos, a queda da letalidade ocorreu por melhora do manejo clínico e garantia do acesso aos serviços de saúde, entre set/out a letalidade caiu mais do que a queda do número total de óbitos.
Diversos estudos apontam que letalidade real pelo COVID-19 pode variar de 0,23-1%, variando em populações distintas, sendo corrigida pelas projeções feitas em inquéritos sorológicos ou em contextos de ampla testagem com qualificada investigação de óbitos.
A pandemia não acabou, temos pelo menos mais 8 meses de resistência até ter o processo de vacinação alcançando os primeiros grupos prioritários. Seguiremos convivendo com o uso de máscaras, protocolos sanitários, isolando sintomáticos e testando/monitorando amplamente a população
Para entender a polêmica do ES "vermelho" no mapa do @jornalnacional no dia 01/10. Antes de tudo vejamos os 3 conceitos principais utilizados na construção e avaliação da curva de casos com a média móvel (MM): o desenho da curva, a variação do dia e a tendência da curva.
A MM desenha uma curva linear de casos para melhor expressão do comportamento da pandemia e as fases do desastre epidemiológico. Assim, identificamos que o ES hoje conta com 9,86 óbitos na MM, equivalente aos que existiam nos dias 5-6/05, vivemos uma fase de recuperação.
O comportamento sustentado é de queda. De acordo a média móvel de 14 dias, no dia 21 de junho tivemos a ocorrência do "pico" de óbitos com 36,93 óbitos, comparando com os dados de hoje temos uma queda de 73,3%, ou seja, uma queda de 3,75 vezes do momento mais crítico da doença.
A equipe da Subsecretaria de Vigilância em Saúde da SESA a analisou as características dos últimos 100 óbitos por COVID-19 até o dia 29 de setembro.
Dos 100 óbitos analisados:
52% ocorreram na rede privada/filantrópica e 48% na rede pública
Idade média: 69,55
Idade mediana: 73
Sexo: 50 H e 50 M
90 ocorreram nos últimos 14 dias.
R. metropolitana: 54%
Sul e Centro: 17%
Norte: 11%, 1% outro Estado.
A mediana de idade subiu de 59 para 65 anos comparando os dados acumulados do início da pandemia com os últimos 90 dias. É preciso reforçar o alerta nas medidas de proteção aos idosos.
Hoje entregamos mais 40 leitos de UTI novos no Hospital Dório Silva. Lembro que a decisão de construir esses leitos foi em fevereiro, sob os olhares que diziam "dúvida", " loucura", "para quê?", " será?". Mas existiram olhares que projetaram o desafio que seria submetido o SUS.
Durante os meses de fevereiro e março era um corre-corre com planilhas e desenhos de projeções de leitos ampliados por hospitais, seriam entregas para 4, 5, 6 e até 7 meses a frente. Decidimos e optamos por ampliar e fortalecer o SUS: público, universal e gratuito.
Era o governo Chinês fazendo hospitais em 10 dias e nós aqui decidindo construir leitos para 90-210 dias. O amigo Mareto do DER e a equipe de engenharia da SESA sofreram muito "bullying" rs... Obrigado pela resiliência amigo Mareto.
Nas próximas semanas teremos um aumento no número de casos observados de COVID-19+ no ES. Teremos muitos pacientes positivos nos diversos inquéritos e pela mudança de critério de testagem e investigação de contatos domiciliares. Por enquanto, não será a "segunda onda".
As internações hospitalares e o comportamento do óbito por COVID-19 são os principais marcadores de uma "segunda onda" concreta. Nossa meta é diagnosticar muito e bloquear melhor a cadeia de transmissão. Ter muitos casos será um fator de busca/enfrentamento.
O aumento da interação social pode influenciar o comportamento dos casos, mas a adoção das medidas protetoras pela população/estabelecimentos contribui para reduzir riscos de contágio. É preciso que todos estejamos vigilantes, temos uma longa jornada até o controle pandêmico.
Final de semana não é o melhor período para avaliar média móvel de óbitos em 7 dias, mas é uma alegria imensa: menos de dois dígitos no Painel COVID-19 do ES, campeão de transparência. Seguiremos resistindo e lutando.
Ontem tivemos internados em UTI-COVID, 347 usuários do SUS, equivalente aos 353 no dia 22 de maio, data em que @AGazetaES deu destaque aos 400 óbitos e 9.959 casos totais do ES.
Vila Velha trocou as celebrações por 485 anos, por luto em homenagem aos as vidas perdidas. As histórias das perdas chocavam a sociedade. Vivíamos a fase de aceleração da curva de casos. A adesão ao distanciamento social era ampla.
Somente Rio Novo Do Sul, Ecoporanga, Guaçuí, Baixo Guandu, Muniz Freire, Marechal Floriano, Pancas, Apiacá, Dores do Rio Preto, Governador Lindenberg e Conceição do Castelo apresentam aumento da Média Móvel de casos em 14 dias (MM14D), juntos somam 194.271 hab, 4,78% da pop.
Com Média Móvel de 7 dias (MM7D) de 3 óbitos no dia de hoje, equivalente ao período de 17-18/abril, a parte da Região Metropolitana, representada por Serra, Vitória, Cariacica e Vila Velha (somam 1.778.337 hab), apresenta menos de um óbito/dia por cidade.
Já nos números de casos, o comportamento da pandemia na Grande Vitória (GV) equivale aos dias 13-14/abril. Praticamente fechamos a curva completa, consolidando a fase de recuperação. Na segunda quinzena de setembro voltaremos a testar contatos de casos PCR+.