Sim, deu. A questão é: se fosse um desembargador, teriam matado na porrada também? E se ele fosse uma mulher? Teria apanhado do mesmo jeito até a morte?
"Ah, mas o cara morreu porque era preto"
É provável. E é mais estrutural que...
...deliberado. Explico:
Difícil saber se de fato houve um componente racial *deliberado* (quem matou o fez pensando "vou matar esse cara porque ele é preto"), mas o fator estrutural (cultural) é fácil de indentificar e de entender.
Está impregnado na nossa cultura que pessoas pretas têm mais chances de serem "bandidos", logo, uma vida de menor valor. E isso, infelizmente, tem fundamento na realidade, assim como homens tendem a ser mais perigosos que mulheres e certos comportamentos e estilos são associados
a possíveis criminosos, muitas vezes com intenção deliberada de parecer um. O lance é: por que pessoas negras são mais associadas ao crime? É aí onde entra o componente estrutural. Esse é um tipo de racismo bem mais profundo e complexo do que o deliberado porque é resultado de...
...séculos de exclusão e problemas sociais que geraram uma roda viva e uma "espiral do crime". E é essa imagem impregnada na nossa cultura que muitas vezes faz a reação contra uma pessoa negra ser totalmente desproporcional e a coloca numa situação de permanente vigilância.
É fato que o sujeito que foi assassinado não era flor que se cheire, mas nenhum dos seguranças sabia do seu histórico e, sobretudo, não estava no papel de juiz, muito menos lhes cabia aplicar qualquer pena. E um segurança que reage daquela forma contra uma agressão não está...
...preparado pra'quela função. Deixou o profissionalismo de lado, levou pro pessoal e fez a merda que fez. E é muito provável que só fez a merda porque a vítima não era um desembargador, um granfino de paletó, uma pessoa branca qualquer ou uma mulher. O fato de ser preto...
...e """"parecer com um bandido""" (logo, uma vida com """menos valor""") certamente pesou na hora e serviu pra desativar os freios dos seguranças.
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Essa de que substituir terceirizados por concursados "reduz" o déficit da previdência de servidores públicos é daquelas meias verdades simplórias usadas pra validar vieses de confirmação.
Sim, é verdade que mais servidores na ativa = mais contribuição ao regime próprio, mas...
...o mesmo ocorreria se os salários dos ativos fossem aumentados 🤷🏻♂️. O sujeito que ganha 10k e contribui com ~1k, contribuiria com ~5k se ganhasse 50k. Mas quem pagou por isso?
E por que substituir terceirizados por concursados não é uma boa ideia?
Alguns cargos precisam das garantias de um cargo público, são aqueles que envolvem algum poder de tomada de decisão ou algum compromisso "de estado". Fora isso, todos os outros são prestadores de serviço.
Fundos de sustentabilidade e governança têm mandado na postura "lacradora" das empresas (como gostam de chamar). Não muda a lucratividade do negócio em si e até causa alguma antipatia nas redes, mas é um ganha/ganha no valor de mercado. O consumidor médio não se afeta...
...uma minoria militante se engraça e a outra critica, mas nenhuma tem força pra promover um boicote capaz de abalar a estrutura do negócio. Ganha a empresa em valor de mercado e repercussão gratuita.
O que rola de grana nesses fundos de sustentabilidade hoje em dia... Virou pauta de tudo quanto é bilionário. São uma forma de mover o mercado pra esse "politicamente correto" injetando valor de mercado e poder de fogo numa agenda que até então não seria economicamente atrativa.
Por trás de todo esse lance de fake news (além da angústia de gente que se achava dona da verdade e começou a ver que não é tão relevante quanto pensa) tem esse espírito brasileiro de se agarrar ao estado de coisas como se a mediocridade fosse uma barca de salvação. Explico:
Essa resistência a enxergar alternativas deve vir de muito antes, mas acho que ficou mais evidente após a CF88. Desde então, o Brasil ficou tão engessado política, econômica e juridicamente, sobretudo no debate público...
...que é praticamente impossível cogitar alguma possibilidade que esteja fora da caixinha social democrata/garantista do "projeto de país" que foi decretado em 88. E cada nova medida inserida na constituição parte do pressuposto de que o próximo governo virá para matar pobres...
Trabalho completíssimo da equipe do Marcos Lisboa, um verdadeiro manual sobre o que somos, onde estamos e pra onde devemos ir. insper.edu.br/conhecimento/p…
Dentre outros, as reformas que a educação desse país precisa. Não é por falta de gasto.
A baixa produtividade crônica com gasto público e carga tributária que só crescem.
Eu tenho diversos amigos e amigas minions e todos/as são contra racismo, discriminação de homossexuais, violência contra a mulher, têm suas convergências com os direitos humanos e são a favor de ajudar os pobres. No fundo, as divergências raramente estão no mérito, mas no método.
Todos divergem da esquerda justamente pela instrumentalização desses temas, que vêm carregados de distorções, diagnósticos controversos, soluções ideologizadas e uma militância fanática e caricata. E todos se cansaram de serem chamados de tudo o que há de pior no mundo...
...simplesmente por se oporem a estes métodos que visivelmente nada têm a ver com soluções objetivas para as pautas, apenas servem apenas como subterfúgio pra aceitação de uma agenda "revolucionária", de "superação do capitalismo" e etc.
Essa tendência a auto-destruição em que o Ocidente entrou vem desde os anos 60, eu acho. Começou nas campanhas contra a guerra do Vietnã e quando a luta por direitos civis ganhou contornos de luta de classes que passou a ditar o rumo do debate público.
Desde então, parece que o Ocidente vem mesmo numa tendência masoquista, como uma pessoa autodestrutiva que só encontra defeitos em si mesma e vive cheia de culpas.