Segue um fio sobre o "Comitê" externo e independente do caso Carrefour 👇🏿
1. Fui chamado a participar por outras pessoas que integram o Comitê (e não pela empresa) e que pediram minha ajuda para pensar formas de reparação e responsabilização que fossem efetivas e que não caíssem no esquecimento. Não é e nem nunca foi um grupo de “diversidade”. 👇🏿
2. Após muito refletir e conversar com pessoas próximas concluí que deveria lutar para que a família obtivesse a adequada indenização, mas também que fosse oferecida à comunidade negra uma resposta eficiente, que venha a se tornar um modelo 👇🏿
3. Decidi também que seria honesto e importante que as pessoas soubessem da minha participação, já que não se trata de “compliance” ou de “assessoria”. 👇🏿
4. Sendo eu reconhecido como estudioso do tema, pensei que seria meu dever contribuir nesse momento tão confuso e tão difícil 👇🏿
5. Segundo a ideia a mim apresentada, o Comitê serviria para, de forma independente, propor medidas para que violências como a que tirou a vida de João Alberto não mais aconteçam 👇🏿
6. As propostas do Comitê seriam feitas de forma a atender as reivindicações que há muito vem sendo feitas e que nunca foram atendidas pelo Carrefour ou por outra empresa 👇🏿
7. O Comitê foi criado – e é nisso que estou acreditando – para fornecer uma pauta que permitirá que a sociedade - inclusive as autoridades estatais - cobre a empresa em relação à sua implementação 👇🏿
8. Não trabalho para o Carrefour, não fui chamado pela empresa e nem irei funcionar como “assessor”. O intuito do Comitê é propor formas de reparação e meios de responsabilização que possam contemplar a família de João Alberto, mas também ao conjunto da sociedade. 👇🏿
9. Portanto, não sou assessor ou coisa que o valha, o que aliás foi uma condição para que eu participasse. Apenas não quero mais que outra pessoa seja assassinada e tenhamos como resposta "palestras de sensibilização" em dois meses do ano e indenizações irrisórias 👇🏿
10. Não quero mudar a empresa e acho impossível e até absurda a existência de um "capitalismo humanista". Não há ingenuidade aqui. A questão é de tomar uma decisão em defesa da vida: se eu puder evitar que mais uma pessoa morra, sinto que é meu dever fazer algo 👇🏿
11. Se puder ajudar a pensar formas de reparação amplas e eficientes que envolvam a comunidade, eu farei. Se eu puder ajudar a estruturar financeiramente projetos de pessoas negras e indígenas, auxiliar comunidades quilombolas [...] 👇🏿
12. [...] possibilitar que jovens negros possam estudar, impedir o fechamento de centros de cultura não tenham dúvida de que eu o farei. 👇🏿
13. Um exemplo de questão central que quero levantar no Comitê é a relação entre precarização do trabalho, terceirização e racismo. E não acredito que algo possa ser feito sem revisar as formas de contratação dos serviços de segurança e sem uma definição da responsabilidade 👇🏿
14. Outro exemplo de proposição pensada pelo Comitê é a rediscussão da própria ideia de “segurança”. As empresas de segurança trabalham a ideia de segurança como “segurança da mercadoria”, e não como “segurança das pessoas”. 👇🏿
15. Um negro não se sente “seguro” em uma loja justamente porque é perseguido nos corredores. Como mudar isso? Como interromper essa cultura de perseguição a negros em lojas? Essa é a questão que me propus a pensar 👇🏿
16. Em paralelo a isso tudo, participarei hoje, às 11h30, da reunião de uma comissão de juristas instituída pela Câmara dos Deputados para apresentar propostas para a criação de legislação que trate do racismo institucional 👇🏿
17. Termino agradecendo as pessoas que confiam em mim e que acreditam no trabalho que venho desenvolvendo nos últimos anos. Farei de tudo para honrar a confiança de vocês.

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22 Oct
"Em chamas, em cinzas, o Brasil quebrou o espelho. Um mito como Pelé, símbolo do potencial que temos (tínhamos?) para construir um país brilhante, altivo e vitorioso, não cabe muito bem aqui".
Que beleza de texto, @sergiotodoprosa!
"sendo um preto retinto de sucesso avassalador num país dominado pelas cepas mais covardes do racismo, passou a carreira desagradando secretamente a muita gente. Que ninguém tenha dúvida: há na relativa falta de carinho público que o cerca na velhice uma boa dosagem de vingança"
O trecho acima considero avassalador, pois revela como o racismo torna um país autodestrutivo. Não se trata apenas de devidamente apontar os erros de um homem. Há uma sanha pela destruição do que ele representa, do mito que ele encarna 👇🏿.
Read 7 tweets
14 Oct
@phsantos há muito tem se revelado um dos mais interessantes críticos de cinema do país. Sensibilidade, inteligência, erudição e ritmo são suas marcas. As análises que faz sobre a série "Lovecraft Country" dão o índice da qualidade do seu trabalho 👇🏿(fio)
Neste vídeo @phsantos fala do episódio 9 de Lovecraft Country, que aborda o massacre de Tulsa (EUA). Em 1921, a próspera cidade negra do Oklahoma foi destruída por brancos que também assassinaram centenas de pessoas. Esse acontecimento foi também tema da série "Watchmen"👇🏿(segue)
A análise de @phsantos impressiona, primeiro pela erudição, pelo conhecimento teórico que vai além do cinema. Particularmente, neste episódio 9 ele se emociona e também nos emociona a todos nós ao conectar Tulsa com o Brasil 👇🏿(segue)
Read 7 tweets
6 Oct
A ação da DPU contra o programa de contratação de trainees da Magazine Luiza é mais um capítulo do esfacelamento social e político resultante de nossa atual crise civilizatória. Segue fio com algumas considerações 👇🏿
1. Ao mesmo tempo em que a responsabilidade institucional deve ser ressaltada, é preciso dizer que a DPU não pode ser definida por este ato. Há trabalhos incríveis da DPU, e aqui destaco a recente Ação Civil Pública que pediu a inclusão dos dados de raça nos casos de Covid-19. 👇🏿
2. Sobre a petição da DPU, não quero perder tempo tratando de seu conteúdo jurídico, pois não há nada ali que possa assim ser chamado. É como se alguém pegasse a caixa de comentários de um portal de notícias e organizasse em seções: "dos fatos", "do direito" e "do pedido" 👇🏿
Read 14 tweets
12 Sep
Os antropólogos e as antropólogas que acompanho nesta rede ensinaram-me que devemos usar tempo e energia para disseminar conteúdos relevantes e não para, a pretexto de "crítica", prestigiar o horror pela via reversa. Por isso, quero indicar algo que considerei excelente👇🏿
Este vídeo do jovem @chavosodausp sobre "populismo penal midiático" é muito bem feito. Tem bom ritmo, traz fontes e possui algo que, na minha opinião anda em falta: responsabilidade. É um vídeo que leva à reflexão crítica e que ensina.

(Continua 👇🏿)
Vejam como ele dialoga como um jovem (que ele de fato é), mas não abre mão do rigor ao abordar um tema que tenho insistido muito: o papel dos meios de comunicação na construção do genocídio da população negra. (👇🏿 continua)
Read 8 tweets
16 Aug
Eis o artigo que escrevi com @pedrolrossi sobre racismo e economia. Algumas reações ao artigo me chamaram a atenção pois, não apenas denunciam o nível de corrosão da esfera pública, mas confirmam tocamos no "coração ideológico" do debate 👇🏿(fio)
www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/0…
Em primeiro lugar, cabe dizer que é um artigo que debate como a compreensão da desigualdade racial é definida pela metodologia. O artigo afirma que a visão ortodoxa da economia enfatiza a dimensão da ação individual na análise do racismo. 👇🏿
Citamos autores clássicos que colocaram o problema, como é o caso de Gary Becker. O termo "economia ortodoxa" aparece uma vez no texto para acentuar o que consideramos limitações metodológicas. 👇🏿
Read 6 tweets
12 Aug
Como é possível pedir "desculpas" no caso de uma sentença judicial em que na fundamentação o julgador faz referência à raça do sentenciado como um dos fatores que levaram à condenação? A solução esta no próprio sistema: a sentença tem que ser anulada. 👇🏿
É absolutamente inútil apenas a condenação moral e a responsabilização individual - que deve existir - em um caso como este. Algo deste tipo só ocorre porque o sistema permite. Nesse caso há uma solução que pode e deve servir para outros casos 👇🏿
A fundamentação da sentença é o centro do julgado. Ali o magistrado deve expor as razões - sempre pautadas pela legalidade - que o levaram à concluir, com base em provas admitidas pelo direito, pela condenação ou absolvição 👇🏿
Read 7 tweets

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