Hoje saiu a notícia de que dois profissionais do sistema de saúde inglês tiveram reação alérgica à vacina que começaram a distribuir (bbc.com/news/health-55…). Segue um fio explicando pq isso é esperado, o que mais devemos ver e a importância do monitoramento agora.
Todas candidatas a vacinas precisam apresentar resultados de segurança e efeitos adversos, além da eficácia. Essa vacina da Pfizer que despertou alergia tem muita informação disponível (e que bate com os sintomas vistos), que a @mellziland destrincha aqui:
Efeitos adversos são esperados com vacinas, tanto que até o grupo placebo registrou alguns. Mas também deve ter mais efeitos adversos mais raros aparecendo agora, quando se salta de dezenas de milhares de doses dadas em voluntários para centenas de milhares de doses distribuídas.
Por isso o acompanhamento nessa etapa é tão importante. Com mais pessoas efeitos raros podem aparecer. E também começam a ser vacinados grupos que não participaram dos testes, com novas idades ou condições de saúde. Então é importante medir como ela se comporta no mundo real.
No caso da alergia despertada agora, se espera que aconteça com vacinas e o sistema de saúde inglês soltou a recomendação de que não se vacine pessoas com histórico de alergias graves:
Também tem uma outro fenômeno importante. Quando chegamos a milhões de vacinados, algumas coincidências devem acontecer, dado o número de pessoas e as chances. Hoje milhões de pessoas devem ter usado fone de ouvido e algumas podem ter sofrido complicações de saúde como infartos.
Sabemos que eles não tem a ver com o fone, que é uma coincidência que acontece pq entre milhões de pessoas de fone, algumas podem sofrer infarto. E o mesmo deve acontecer com a vacina: além de novas reações importantes, também devem acontecer coincidências.
Descobrimos se é coincidência ou não comparando o número de pessoas vacinadas que passam pelo problema com o de pessoas não vacinadas passando pelo mesmo. Mas com a atenção de todo mundo, pode acontecer alarde sem haver perigo real. blogs.sciencemag.org/pipeline/archi…
Então agora entramos nessa fase de monitoramento onde é importante ver reações novas que podem acontecer e merecem atenção, ao mesmo tempo que se faz um esforço para descobrir se são reações reais ou coincidências que aparecem quando o número de vacinados fica enorme.
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O @nytimes entrevistou 700 epidemiologistas sobre como estão se comportando com a COVID. Continuam mantendo distanciamento e metade disse que pretende fazer isso até 70% das pessoas serem vacinadas.
A maioria disse que mesmo com vacinas sendo distribuídas nos EUA, ainda deve demorar um ano ou mais para a maioria das atividades serem seguras. E depois a vida continua alterada pelo vírus.
As três únicas atividades que a maioria dos epidemiologistas retomou são: encontrar amigos em ambientes abertos, receber pacotes sem preocupação e fazer compras (supermercado e farmácia). Quase todos ainda evitam aglomerações, eventos e encontros com estranhos.
Se vacina resolvesse todos os problemas, o Brasil não tinha registrado 7 mortes por sarampo em 2020. A vacina tem décadas e é uma das mais eficientes que já fizemos. Ignorância custa muito caro.
Vamos lá: vacinas são fundamentais pra controlar doenças infecciosas. A diferença entre 1 milhão de casos de dengue por ano e dezenas de casos de febre amarela está em vacinas. Mas quanto mais infecciosa a doença, mais eficaz precisa ser a campanha.
A febre amarela circula ao redor de reservatórios naturais do vírus e do mosquito transmissor. Ela não é tão transmissível como um vírus que circula pelo ar. E em anos com no vacinação, a cobertura precisa ser de quem visita essas regiões.
"Um grande número de pessoas não vai tomar vacina sem uma campanha nacional de comunicação e educação. [...] Os EUA nunca imunizaram sua população na quantidade necessária para estabelecer a imunidade coletiva contra a SARS-CoV-2."
"Isso significa que estaremos embarcando em um programa de imunização de escala sem precedentes - que requer uma campanha de comunicação correspondente. Felizmente, já existe dinheiro autorizado para comunicações sobre covid-19, cerca de US $ 250 milhões."
"Uma campanha nacional de comunicação e educação sobre vacinas precisa cumprir três objetivos: restaurar a confiança nas vacinas, ter um escopo nacional e - ao mesmo tempo - envolver as comunidades locais, especialmente as comunidades de cor."
A @TIME elegeu como uma das pessoas mais influentes de 2020 Zhang Yongzhen, o cientista chinês que liberou a sequência do SARS-2 ainda em 10 de janeiro. Graças à essa sequência tivemos testes tão cedo e já temos as vacinas de RNA.
Zhang faz parte de uma rede de monitoramento de novos vírus. Ele recebeu uma amostra de paciente coletada no Hospital Central de Wuhan no final de dezembro de 2019 e submeteu o genoma do vírus em 5 de janeiro no banco de genomas mais usado por cientistas: ncbi.nlm.nih.gov/nuccore/MN9089…
Também mandou a sequência pra outros membros do grupo. Um deles, o Eddie Holmes (@edwardcholmes), disponibilizou a sequência em outro banco e compartilhou por aqui. Como saiu antes, foi o que todo mundo usou.