O pedófilo que queria criar uma "cidade subterrânea" para colocar suas vítimas:
Marc Paul Alain Dutroux nasceu no dia 6 de novembro de 1956, em Ixelles, na Bélgica. Ele foi o primogênito dos cinco filhos de Victor Dutroux e Jeanine Lauwens, que eram professores. Sua infância foi traumática, marcada pelos espancamentos repentinos que sofria deles.
Ele saiu de casa depois dos seus pais se divorciarem, em 1971. Assim que perdeu o emprego como eletricista, Dutroux passou a roubar carros e prestar serviços de proxeneta, vulgarmente conhecido por cafetão.
Aos 19 anos, ele se casou com Françoise D, com que teve dois filhos. O relacionamento era conturbado e chegou ao fim no início da década 80, com boatos de violência doméstica e traição. Não demorou muito para Dutroux assumir Michelle Martin, uma de suas amantes.
Com o tempo, ele adquiriu mais de seis propriedades. Quando o seu amigo, Jean van Peteghem, foi morar com o casal, eles raptaram, pela primeira vez, duas meninas, nunca identificadas. Em 1986, os três foram presos por sequestro e estupro de cinco menores de 16 anos.
A condenação ocorreu em abril de 1989. Doutroux recebeu uma pena de 13 anos e meio, Peteghem 6 anos e Michelle 5 anos. Passado um tempo, eles recorreram à condicional. Nessa época, um psiquiatra responsável por examinar Dutroux, confirmou que ele sofria transtorno de psicopatia.
Então, ele passou a receber uma ajuda pública mensal do governo, equivalente a US $ 1.200. Mesmo com a promotoria pública sendo contra a libertação antecipada de Dutroux, ele foi solto em 1992, um ano depois de Michelle.
De volta às ruas, Dutroux participou de uma série de roubos de carros em uma operação de contrabando, tráfico de drogas e grandes fraudes. Ele e Michelle também voltaram a sequestrar crianças, mas agora tinham ajuda de dois traficantes, Michel Lelièvre e Bernard Weinstein.
Em dezembro de 1995, a mãe de Dutroux fez uma denúncia, alegando que o filho estava mantendo meninas em cativeiro dentro de suas propriedades. Um policial ficou encarregado de fazer uma inspeções nos locais indicados.
De acordo com o chaveiro que acompanhava a revista, eles escutaram gritos de crianças dentro de uma das casas, localizada em Marcinelle. Mesmo assim, a residência não foi vasculhada por completo.
Apenas algumas fitas de vídeos foram confiscadas, mas muitas delas acabaram sendo devolvidas a Dutroux pelo policial René Michaux, sem nunca serem vistas. Há relatos de que, logo depois, foram roubadas.
Somente em agosto de 1996, Dutroux foi enquadrado como suspeito no desaparecimento de Laetitia Delhez, que tinha 14 anos. Uma testemunha o viu pelas proximidades da casa da jovem e ainda conseguiu identificar parte dos números da placa de sua van.
Então, os policiais iniciaram uma nova busca. Em menos de uma semana, Laetitia foi encontrada em uma masmorra oculta no porão da casa em Marcinelle. Ela estava presa com Sabina Dardenne, de 12 anos, que havia sido raptada enquanto ia para o colégio de bicicleta.
Dias depois do resgate, os corpos de outras duas meninas, Mellissa Russo e Julie Lejeune, ambas de 8 anos, foram encontrados enterrados no quintal. Elas haviam sido sequestradas por Dutroux e Weinstein, em junho de 1995.
As duas foram abusadas sexualmente várias vezes e submetidas à produção de vídeos pornográficos. Enquanto Dutroux cumpria uma pena de três meses por roubo de carros, Michelle e Weinstein deixaram as meninas morrerem de fome.
Assim que saiu da prisão, ele e Weinstein tiveram um desentendimento. Então Dutroux acabou assassinando o comparsa e enterrando junto aos cadáveres das meninas, em uma de suas casas, em Sars-la-Buissière.
Os corpos de An Marchal, 17 anos e Eefje Lambrecks, 19 anos, também foram encontrados enterrados no quintal de uma das casas em Weinstein, na localidade de Jumet. Elas estavam desaparecidas há mais de um ano e foram raptadas enquanto voltavam de uma festa durante a madrugada.
Com a ajuda de Lelièvre, as jovens foram acorrentadas em um quarto, sedadas com Rohypnol, um medicamento para distúrbio do sono, que Dutroux recebia na prisão, e estupradas. Eles embrulharam as duas moças em plástico e as enterraram vivas.
Em 1998, estando sob custódia, Dutroux recebeu permissão para dar uma olhada nos arquivos do caso. Ele estava acompanhado por dois policiais e conseguiu escapar. Porém, foi capturado algumas horas depois.
Em 1999, algumas fitas de vídeo foram finalmente revisadas. As gravações mostravam Dutroux construindo a masmorra no porão em que as vítimas eram mantidas, além de filmes de sexo e tortura com uma criança, na Eslováquia.
Vale pontuar que milhares de fios de cabelo foram encontrados na masmorra, no entanto, não foram testados para DNA. Um tempo depois, o juiz Jean-Marc Connerotte fez um apelo público para que as vítimas sobreviventes de Dutroux se apresentassem.
Mais de dez vítimas entraram em contato com a polícia. Os testemunhos foram apelidados como “Arquivo X”. Várias fontes disseram que Marc Dutroux e outro homem, chamado Michel Nihoul, planejavam uma operação de prostituição e tráfico entre países do leste europeu.
O nome de Régina Louf, uma das vítimas apresentadas à polícia, vazou para a imprensa. Ela revelou que desde os seus 11 anos era levada para festas de sexo, orgia e sadismo com outros menores, onde eram filmados secretamente para fins de chantagem.
Régina ainda passou a identidade de pessoas associadas ao grande negócio, incluindo juízes e políticos importantes. Pelo menos sete membros da polícia foram presos por suspeita de terem ligações com Dutroux e mais de 20 possíveis testemunhas morreram em circunstâncias diversas.
Nos anos seguintes, Dutroux recebeu uma sentença de cinco anos por ameaçar um policial durante sua fuga e mais cinco por crimes não relacionados. Durante o seu testemunho, ele alegou que era de baixo cargo em uma rede poderosa de pedófilos.
Dutroux afirmou veementemente que o organizador de todos os sequestros foi Michel Nihoul. Inclusive, ele admitiu que torturou e abusou de todas as crianças, mas não foi responsável pela morte de nenhuma delas.
Segundo ele, suas intenções eram protegê-las de um “círculo sexual infantil sinistro e poderoso”. Por isso, a masmorra teria sido construída com o objetivo de esconder essas vítimas, evitando que fossem enviadas para uma quadrilha de prostituição.
Em 2016, um ex-advogado de Dutroux revelou que o criminoso pretendia raptar crianças em massa e criar uma espécie de cidade subterrânea, onde a segurança prevalecesse. Suas vítimas confessaram que ele insistia em dizer que estava cuidando delas de pessoas “malvadas”.
Em 2004, ele foi condenado à prisão perpétua e 10 anos à disposição do governo por sequestro, tortura, homicídio e estupro de menores, associação criminosa e tráfico de drogas. Atualmente, ele cumpre pena em Nivelles, ao sul de Bruxelas.
Michelle Martin foi sentenciada como cúmplice e condenada a 30 anos de prisão. Em 2011, ela conseguiu liberdade condicional. Michel Lelièvre começou a passar informações para os policiais assim que foi preso, colaborando com a investigação.
Um tempo depois, ele revelou que estava sendo ameaçado e não podia arriscar a dizer mais nada. Lelièvre admitiu participação no sequestro de Laetitia, Sabine, An Marchal e Eefje Lambrecks e foi condenado a 25 anos de prisão.
Em 2019, após cumprir 23 anos de sentença, ele conseguiu liberdade condicional. Michel Nihoul foi, inicialmente, julgado como cúmplice dos sequestros, mas o absolveram das acusações devido à falta de evidências.
As falhas na investigação causaram grande descontentamento da população belga com o sistema de justiça criminal do país. Em outubro de 1996, uma manifestação contra as negligências no caso, contou com mais de 300 mil cidadãos. O ato ficou conhecido como “Marcha Branca”.

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