Sobre a macroeconomia do Ciro Gomes, por ele mesmo. Trechos do programa de 2018 e do livro de 2020.
Trata-se de uma macroeconomia anacrônica, com base em uma economia de escambo, com moeda mercadoria. Um fiscalismo contraproducente.
1. "Arrumar a casa significa o governo fazer o chamado ajuste macroeconômico, equilibrando as finanças públicas e reduzindo paulatinamente a participação de sua dívida no PIB do país, o que fortalecerá a capacidade do governo para realizar políticas sociais e de investimento; "
2. "dessa forma, será possível reduzir a taxa de juros e, por consequência, os custos de financiamento para empresas e consumidores, e propiciar condições para que a taxa de câmbio oscile moderadamente em torno de um patamar competitivo para as empresas do país."
3. E isso é central para Ciro Gomes: "primeiro, colocar a casa em ordem". É a partir desse fiscalismo perigoso e contraproducente que ele parte para as propostas interessantes de sofisticação estrutural, à la CEPAL (ou seja, nada de muito novo).
4. A primeira frase do ponto 1.1 do programa é: "O alcance do equilíbrio fiscal para que o governo recupere a sua capacidade de investir"
5. Ele fecha o ponto 1.1 dizendo: "Definimos como meta alcançar o equilíbrio no resultado primário em dois anos de governo e, para alcançar esse equilíbrio, uma série de
reformas serão necessárias..."
6. A primeira reforma que ele propõe para alcançar o equilíbrio fiscal é: "Implementação de um sistema previdenciário multipilar capitalizado"
7. Aqui é uma contradição e fragilidade técnica terrível, já que a implementação deste sistema de três pilares, um deles a capitalização, iria aumentar o déficit, não reduzir. Até o fiscalismo é tecnicamente frágil.
8. Depois ele continua apontando uma série de propostas interessantes e importantes de reforma tributária, já consagradas no campo progressista. O problema é que são reformas para alcançar superávit primário inútil, e não para melhorar a tributação que atormenta os mais pobres.
9. Quanto à taxa de câmbio competitiva, ele omite que isso implica, também, em rebaixamento dos salários reais em dólar. Sendo este um objetivo, e não mero efeito colateral. Não estou entrando no mérito da questão, mas sim apontando a não explicitação dos ônus e bônus da proposta
10. Há também, no livro, teorias da conspiração sobre política monetária, como essa: "a chamada “operação compromissada... Entre nós, isso virou uma escandalosa fraude que atenta contra a Constituição e impõe escuridão sobre praticamente um quarto de toda a dívida pública"
11. Há também confusão lamentável entre as finanças de um ente monetariamente soberano com a de meros usuários de moeda, como o Estado do Ceará: "Pelo caminho da administração austera, podemos começar a aproveitar o deságio de nossos títulos no mercado secundário da dívida...
12. "....entesourando tantos deles quanto o caixa do Tesouro permitir e o alto deságio durar. Como já lembrei aqui, quando governador do Ceará, consegui entesourar dessa forma 100% da sua dívida mobiliária...
13. Sobre previdência, ele não entende o debate estrutural sobre os diferentes regimes e confunde, como a ortodoxia costuma fazer por conta da ideia ultrapassada de moeda mercadoria, mudança demográfica com problema de acúmulo de moedinhas de ouro ao longo do tempo:
14. " "A primeira é que cada um poupa uma parcela da própria riqueza que gerou durante a vida laboral, de acordo com o que quer receber de proventos. Não vive da riqueza gerada por outros e não depende dela."
15. Sobre a capitalização, também é ortodoxia neoliberal pura. Para ele, a capitalização aumenta a poupança, e isso é bom para financiar investimentos. É toda hora um chute no princípio da demanda efetiva e um salve aos fundos emprestáveis.
16. Por fim, estou pontando apenas algumas divergências fortes entre o PND do Ciro e a macroeconomia da demanda efetiva. Não é questão pessoal, é que críticas devem existir. Particularmente, acho um programa ruim. Pior: contraproducente e que pode gerar problemas graves.
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Gente, o NOVO está obstruindo um acordo que todos os partidos da Câmara fizeram em defesa de direitos mínimos dos entregadores de aplicativo. O PL, do PSOL, tem cinco pilares, que o NOVO diz q vai matar os donos da Uber e Ifood de fome para enriquecer os trabalhadores. Segue:
1. garantia de acesso à água potável, alimentação e espaço para descanso entre as entregas.
2. recebimento de máscara, álcool em gel, luvas e materiais para a limpeza dos equipamentos do entregador e dos produtos para entrega;
1. Há um fetiche na esquerda, talvez causado pela estética do Ciro, q fala grosso e com firmeza, de q ele é o único presidenciável que tem um projeto de país. Digo com toda tranquilidade e respeito: não tem. Longe disso. A visão do Ciro de Economia é ultrapassada. Pré-keynesiana
2. Não há a mínima possibilidade de construção de um projeto de sofisticação estrutural assentado em bases macroeconômicas precárias, derivadas de uma macroeconomia "liberal" anacrônica, que confunde a economia do lar e dos entes subnacionais c/ a do emissor soberano de moeda
3. Ciro, há alguns dias, escreveu um post associando déficit fiscal com inflação, risco do país quebrar e, pasmem, chance de hiperinflação. Ainda colocou a necessidade de ajuste rápido nas contas como condição urgente. A pior crítica possível a se fazer ao governo Bolsonaro.
1. Resumo de alguns pontos da fala do André Lara Resende no 17º Fórum de Economia da FGV.
"Lá fora já mudou. O debate no Brasil está mais ortodoxo que o FMI. É impressionante o que mantém o dogmatismo inexpugnável entre os economistas brasileiros..."
2. "Resisto em concluir que seja interesse, mas a coincidência que sejam do mercado financeiro é muito grande. É tão escandalosamente despropositado, tão sem sustentação teórica ou empírica, que vão se desmoralizar...
3. "A ação deles é ideológica, em defesa, racional ou irracionalmente, de interesses do sistema financeiro privado."
1. A MMT não diz que o Estado deve gastar sempre mais e em qualquer coisa e colocar a taxa de juros básica em zero. Também não diz que a emissão de moeda é uma opção de financiamento dos gastos públicos. Isso é qualquer coisa, menos MMT !!!!
2. De forma muito resumida, oq a MMT descreve é que:
a) O gov. federal cria dinheiro ao gastar. Isso se dá por definição, quando o passivo não monetário do BC (Conta Única do Tesouro) se transforma em passivo monetário (criação de reservas bancárias na conta de um banco).
3. b) Tributos fazem o caminho inverso e "destroem" o dinheiro criado anteriormente, ou seja, passivo monetário vira passivo não monetário (CUT).
1. Respondendo para quem está perguntando se a MMT "funciona" para entes subnacionais, como Estados e Municípios.
2. Antes de responder, é bom lembrar que a MMT é, principalmente, uma descrição de como as coisas funcionam: entes monetariamente soberanos (governo federal) gastam emitindo moeda e determinam a taxa de juros básica de forma exógena.
3. Isso quer dizer que as restrições para os gastos fiscais e a determinação da taxa de juros que incide sobre a dívida do governo federal são completamente distintas da dinâmica dos demais agentes da economia, incluindo estados, municípios, empresas e famílias.
William Vickrey, Prêmio Nobel de economia em 1996, escreveu um artigo intitulado "As quinze falácias fatais do fundamentalismo financeiro". Nesta thread, traduzimos e destacamos três delas.
1/11
Falácia 1
"Os déficits são considerados gastos pecaminosos e perdulários às custas das gerações futuras, que terão uma uma dotação menor de capital acumulado.
Essa falácia resulta da falsa analogia entre operações financeiras realizadas por indivíduos e a macroeconomia"
2/11
"A realidade é praticamente o exato oposto. Os déficits aumentam a receita líquida disponível dos indivíduos, na medida em que os gastos do governo que constituem receita para os destinatários excedem o subtraído pela receita dos impostos, taxas e outros encargos."