Reconstruí (em setembro de 2016) a autocrítica que o PT não teve coragem de fazer abertamente, de forma nua e crua. Mas é exatamente isto: basta ler as resoluções do Diretório e da Executiva Nacional do PT (de 17/05 do mesmo ano).
Siga o fio, por favor.
1 – Erramos quando não tomamos a decisão de impor o controle social da mídia. Agora não é mais possível segurar as notícias desfavoráveis a nós sobre o que fizemos no governo, nas estatais e nos fundos de pensão.
2 – Erramos quando não forçamos a barra para aprovar uma reforma política que estabelecesse a fidelidade partidária, o voto em lista fechada e predeterminada e o financiamento exclusivamente estatal de campanha.
3 – Erramos quando não conseguimos fazer um plebiscito para convocar uma constituinte de reforma política favorável aos nossos interesses.
4 – Erramos ao não fazer uma aliança mais profunda com as forças armadas, quando não conseguimos alterar o currículo dos cursos de formação de oficiais e quando não assumimos o controle do processo de promoções.
5 – Erramos quando vacilamos em dar o passo fundamental para transformar a Força Nacional de Segurança em uma guarda pretoriana sob o controle do governo (como era o projeto original de Thomaz Bastos).
6 – Erramos quando não aplicamos o Decreto 8243 que criou novas instâncias participativas dirigidas por nós para cercar a institucionalidade vigente e subordinar a dinâmica social à lógica do Estado aparelhado.
7 – Erramos ao indicar ministros, para o STF e para o STJ, mal-formados ideologicamente, vacilantes e acovardados, que – com medo de sujar suas biografias – acabaram não sendo obedientes às nossas diretivas.
8 – Erramos quando não matamos a operação Lava Jato no seu embrião, quando nomeamos o desfibrado Janot para a PGR, quando deixamos florescer uma geração de jovens procuradores intoxicados pela ideologia burguesa de combate à corrupção.
9 – Erramos quando não aprovamos uma emenda constitucional (como fizeram tranquilamente todos os países nossos aliados latino-americanos) para permitir um terceiro mandato de Lula.
10 – Erramos quando escolhemos Dilma Rousseff (que nem petista de raiz é) para suceder Lula e quando deixamos que ela acreditasse que era presidente de verdade e não apenas uma militante cumprindo uma missão partidária.
11 – Erramos quando escolhemos o golpista Michel Temer para vice. Melhor seria ter colocado na chapa um empresário aliado como André Esteves ou Marcelo Odebrecht (que não poderiam, então, ser presos).
12 – Erramos quando aceitamos o resultado da votação da Câmara que autorizou a abertura do processo de impeachment de Dilma. Deveríamos ter resistido, denunciando naquele momento o golpe, nos entrincheirando no Planalto e convocando a população para defender o governo eleito.
13 – Erramos no timing. E como consequência de vários dos erros mencionados acima, não conseguimos estabelecer – em tempo hábil – uma hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado controlado por nós e por isso ficamos vulneráveis ao golpe das elites que nos apeou do poder.
Não valia tanto a pena assim manter o mundo pré-pandemia
Siga o fio para ler a mensagem.
O mundo nunca precisou tanto de inovadores. De pessoas (ou seja, redes) capazes de pensar e ensaiar novas formas de vida e convivência social nas novas circunstâncias da pandemia.
Quem não inova, só aguardando as vacinas para voltar aos velhos hábitos, não entendeu o que está acontecendo. Não haverá essa salvação universal. Mesmo com vacinação em massa (de 80% da população planetária), a imunidade coletiva vai demorar (pode nem ser alcançada em 2021).
Vamos voltar às estatísticas e ao seu uso desumano por parte do bolsonarismo.
Se morressem 400 mil brasileiros (o dobro das mortes atuais) isso seria apenas 0,18% da nossa população. Para os bolsonaristas, tal número seria desprezível.
Siga.
Se morressem 800 mil brasileiros (o quádruplo das mortes atuais) isso seria apenas 0,37% da nossa população. Para os bolsonaristas, essa porcentagem seria desprezível também.
Se morressem 1 milhão de brasileiros isso seria apenas 0,47% da nossa população. Ainda seria desprezível para os bolsonaristas.
Esta exploração começou com perguntas: por que tanta gente diferente, em vários lugares do mundo, resistem às medidas cautelares de saúde pública adotadas diante da pandemia do novo coronavírus (tipo distanciamento social, uso de máscaras e vacinas)?
Não poderiam, pelo menos alguns, ser de extrema-direita e, mesmo assim, acharem que vale a pena retardar o avanço da infecção? Como é possível que as respostas de gente que convive em bolhas tão díspares sejam praticamente as mesmas, nos Estados Unidos, no Brasil, na Europa?
Eram clusters pequenos e meio isolados (com poucos atalhos) que foram se conectando por meio das mídias sociais, mas que só ganharam expressão política com a emergência do populismo-autoritário.
Aprender democracia é desaprender autocracia. Significa ser capaz de reconhecer padrões autocráticos onde quer que eles se manifestem ou permaneçam escondidos.
Siga o fio.
Pessoas que têm dificuldade de perceber e identificar esses padrões não veem o perigo a que a humanidade está exposta neste momento.
A reeleição de Trump, por exemplo, significará a vitória do que há de mais tenebroso no mundo: os programas patriarcais que vêm se replicando há milênios na chamada civilização por meio da guerra contra o diferente, transformando diferenças em separações.
Ficamos cerca de 3 meses no patamar de 1000 mortes e estamos agora no patamar de 500 mortes diárias. A queda é lenta. Mesmo que não ocorra aqui uma segunda onda, a doença vai continuar matando gente no próximo ano. Segue.
E a imunização coletiva por meio de vacinas também não vai ocorrer antes de meados de 2021. Ah! Mas vamos apostar na imunidade de rebanho. Enquanto isso, é só fazer de conta que a pandemia já acabou, como quer Bolsonaro.
Segundo esses canalhas, se não fosse a imprensa ficar dando diariamente o número de mortos, tudo já teria voltado ao normal.