Isso é uma virada na história da extrema-direita (que me corrijam os pesquisadores sérios aí): não tem mais volta. O trumpismo persistirá sem Trump no poder.
Parece que sem algo da ordem do trauma coletivo, os sujeitos"trumpistas" não vão se afastar do "chefe".
No caso dos dois Bonapartes, o trauma foi a derrota militar, que precipitou a queda do regime.
Outros regimes bonapartistas pareceram de outra sorte de derrotas.
Mas até onde sei, nenhum foi derrotado nas urnas. Sem trauma, tapinha nas costas e até logo.
Isso seria um sinal de que o regime não se tornou efetivamente bonapartista e que o Executivo não engoliu os demais poderes. Ok.
Aí o texto explica bem: não engoliu, mas tentou. E se não foi bem sucedido no âmbito do Estado (o que é relativo), teve êxito no âmbito do partido.
No final, a aventura bonapartista não parece ter terminado, mesmo com Trump fora do poder. O trumpismo conseguiu ser o significante comum da vasta fauna da direita estadunidense e isso só foi possível numa democracia cada vez mais excludente.
A pergunta que fica, então, é como se livrar da aventura bonapartista sem refundar o regime que a gestou?
Esse, ao meu ver, é o impasse de lá...e futuramente, o de cá também.
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Tenho gostado do pouco que tenho lido sobre "White Entitlement" ("merecimento branco" numa tradução mais literal).
Me parece um conceito muito bom para entender vínculos entre racismo estrutural e extrema-direita. E para pensar no que aconteceu ontem...
Muitos desses movimentos jogam com a ideia não do "privilégio", mas sim do "direito negado". Direito esse que é concebido como natural, de nascença, "birth right". Nasceu americano, portanto, tem direito a buscar a felicidade.
Mas a coisa fica rocambolesca porque essa promessa de felicidade, nos marcos do Estado nacional, nunca foi para todo mundo. Os grupos oprimidos (raça, classe, gênero...) nunca se iludiram com isso. Pelo contrário, era combustível para as lutas ter esse direito à felicidade...
Assim, comentei ontem com o @coalacroata , mas quem sabe, sabe: após Ialta, rifaram os comunistas da França, da Itália e da Grécia (esse foi o caso mais escabroso).
Não sei se é o melhor exemplo de Frente Ampla, não.
Na Frente Ampla, todo mundo faz compromissos, né? Todo mundo tem que ceder, certo?
Bem, o problema é sempre negociar a luta dos outros... No final, 12 mil partisans foram mandados para campos de concentração ingleses no Oriente Médio.
É incrível a capacidade da Falha de tirar o corpo fora dessa "polarização".
Como o dever do historiador é lembrar o que os jornalões querem esquecer, segue uma compilação de evidências que mostram como a imprensa criou essa "polarização":