Mal saiu e já tem gente pedindo pra eu comentar o vídeo do Meteoro sobre a bandeira de Gadsden e anarcocapitalismo.
Como sempre, temos fantásticos argumentos e explicações no libertarianismo/anarcocapitalismo. Vamo lá.
A definiçao deles é incrível:
"O anarcocapitalismo parte do pressuposto de que toda opressão é praticada pelo estado, eliminando o estado, elimina-se a opressão."
Bela definição. Só manchada pelo problema de estar completamente errada.
Não surpreende. É muito, muito raro o caso onde um crítico de libertarianismo/anarcocapitalismo consegue definir corretamente o que está criticando.
Estabelecemos, portanto, que eles não fazem a menor ideia do que estão falando.
Para quem se importa com dar definições corretas:
Anarcocapitalismo parte da demonstração ética de que agredir alguém (iniciar coerção) é errado e indefensável. Relações devem ser voluntárias, e quem for agredido tem o direito de se defender.
Estabelecemos também que eles não se deram ao trabalho de pesquisar o tema minimamente. Qualquer autor liber/ancap explica isso claramente.
Aliás só ter pesquisado a definição na wikipedia resolvia. Aparentemente nem isso fizeram.
Seguindo...
"Atuando sem qualquer regulamentação, em nome dos próprios interesses, as corporações tornariam o mundo melhor"
Novamente um erro básico. Regras e regulamentações são necessárias e importantes. O que ancaps defendem é que elas não sejam impostas.
Um exemplo é a Moratória da Soja. Um acordo que resultou da pressão do Greenpeace em compradores de soja, para que parassem de comprar soja da Amazônia desmatada.
Funcionou, o desmatamentou basicamente zerou, e o acordo é privado.
Tem um acerto talvez acidental. Dizem que temos uma fé num individualismo radical.
Sim, defendemos que o indivíduo tem o absoluto e irrevogável direito de se defender, de se associar e de deixar de se associar. Agredi-lo é incorreto.
Mas como vimos, eles não entendem isso.
Suponho que só inseriram essa frase porque "fé no individualismo radical" soa muito feio pra audiência deles.
E aqui acabam as definições e explicações deles.
Começam as críticas.
Anarcocapitalismo é marginal, com nenhuma ou muita penetração na academia, dizem eles.
Tá. Mas e daí? Isso significa nada. Seguimos em busca de uma crítica.
Ainda assim ele é muito popular entre jovens de classe média, o muito ricos, dizem eles.
Fontes? E se for? E daí?
Entra o Kogos. Já não é a primeira vez que atacam ele.
Algum argumento nisso? Não, só pra expor ele mesmo. Devotam mais tempo ao Kogos que a explicar ancap.
Próximo: ancap = neofeudalismo, e mostram uma favela.
O que a favela tem a ver com isso eu não faço a sincera menor ideia.
E um sistema feudalista é criado por um estado. Nós propomos o contrário.
Seguimos em busca de uma crítica ou argumento.
Volta um vídeo do Kogos porque... bom porque sei lá.
Chans.
Sim, do nada, chans.
O argumento deles aqui é o seguinte:
Chans tem pessoas estranhas e coisas deploráveis como racismo. E tem a bandeira de Gadsden. E tem ancaps.
Logo, ancaps = racistas. Fim do argumento.
Após isso, mostra-se uma foto onde racistas estavam com a bandeira de Gadsden.
Charlotesville também aparece, quando algumas pessoas levaram a bandeira.
E depois a foto da bandeira no lixo, portanto, ancap tem que ir pro lixo.
Fim dos argumentos.
Resumo:
2:50 minutos explicando a história da bandeira bem por cima
8:25 minutos falando nada certo sobre anarcocapitalismo
Parabéns aos envolvidos.
Fica aqui a sugestão de leitura: O Manifesto Libertário, do Murray Rothbard.
Nele você vai encontrar várias coisas que poderiam ter sido úteis aos criadores do vídeo, como por exemplo uma definição correta do que nós defendemos.
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Eles tem o mito fundador, o famoso contrato social que ninguém viu ou assinou.
Tem os decretos de fé, como afirmar que saúde e educação não são mercadorias.
Tem os falsos curandeiros, que alegam milagres, prometendo que dessa vez vão fazer congelamento de preços funcionar.
Tem os contos, todas as histórias onde tinha um problema e o estado resolveu, e é pra você acreditar sem questionar mesmo que não façam sentido.
Tem uma forma de pecado original, que é a ideia de que você é um ser burro, canalha e incapaz, que precisa ser minuciosamente regulado e controlado para o seu próprio bem.
Sua existência é uma sujeira. O estado é a salvação.
Parte do credo da santa igreja do estado é a ideia de que cabe ao indivíduo, a empresa e ao empreendedor ter lucro (mas não muito) e pagar imposto, e cabe ao estado fazer o bem.
Como se essas coisas fossem incompatíveis. Como se a virtude fosse apenas do estado.
Só que todo mundo que vende um serviço ou produto está fazendo algo de bom. É a definição. Se o cliente não concordasse, não compraria em primeiro lugar.
Mas somos ensinados a achar que como o vendedor ganhou $ nisso, então tem algo errado, explorado, sujo, feio.
Ou talvez seja um valor moral doido na cabeça das pessoas de que pra você ter feito algo bom, tem que ter ganhado nada. Ou tem que ter sofrido. Se você fez algo bom e ganhou com isso, tá errado. Tem que ter sangue, lágrimas, sacrifício.
Se você acha que seu dinheiro podia ser mais útil em outro lugar, seja um empreendimento com pegada social ou uma doação mesmo, então faça. Você não precisa de um político no meio disso.
Isso aqui é uma internalização patológica de estatismo.
Quem tem melhor potencial e capacidade de gerir bem um recurso e empregar ele de uma forma que mude a vida das pessoas?
Quem ganhou esse dinheiro honestamente trabalhando e investindo, ou um bando de político?
Um analista do ministério deu nota técnica falando o óbvio: Fazer o VLT era uma ideia maluca e impossível de dar certo.
O relatório não agradou e foi trocado por outro, com data fraudada, para "ficar em sintonia com a decisão do governo".
9 anos depois, multa de 2400 reais.
Imagine você fraudar documentos oficiais federais, ajudar num esquema de corrupção que gerou uma obra de 1 bilhão de reais que hoje é completamente inútil, e 9 anos depois ter que pagar 2400 reais por esse pequeno erro que quase nem deu nada.
Negros no Brasil tem menos acesso a educação de qualidade, além de outros fatores que influenciam no desenvolvimento cognitivo de uma criança e adolescente, e no desenvolvimento profissional.
Falta água encanada e saneamento. Falta segurança nos bairros. Tudo isso pesa.
Se o salário que ele consegue, especialmente quando jovem e entrando no mercado de trabalho, é inferior ao salário mínimo mais todos os encargos trabalhistas associados, então a lei faz com que não valha a pena contratá-lo.
Isso não é por acidente. A origem do salário mínimo é EXATAMENTE para excluir negros nos EUA, como parte da onda eugenista e racista do fim do século 19 e começo do 20.