Um pouco mais sobre os eventos graves num ensaio clínico, nao necessariamente no da coronavac. Qualquer ensaio clínico para covid.
Vamos supor que vamos fazer um ensaio clínico com 10000 voluntários, dois grupos A e B. E um dos objetivos é comparar os grupos para um evento raro.
No caso da Covid, hospitalizacao e óbito. Baseado no que a gente sabe até agora, em 10 meses de epidemia no Brasil (corrigindo atraso) tivemos até então:
645 mil hospitalizações por SRAG-COVID
200 mil óbitos por SRAG-COVID
Em um estudo com 10 mil voluntários na população, dividos em dois grupos de 5000, esperaríamos em 10 meses de estudo 15 hospitalizações e 5 óbitos em cada grupo.
O estudo precisaria ser muito maior para podermos diferenciar com segurança estatística os dois grupos.
No entanto, se no tratamento A observamos de fato 15 hospitalizazoes e 5 óbitos, e no grupo B nenhuma hospitalização e nenhum óbito. Apesar de nao termos uma certeza grande, temos alguma evidencia favorável para ao tratamento B. Num modelo simples com podemos ver essa evidencia:
Praticamente nao há interção de regiões com massa de probabilidade nas curvas anteriores, podemos fazer o mesmo para óbitos. Olhem a diferença, ainda há alguma evidência a favor de B, mas ela é fraca.
O ponto agora é que, eventos "raros" como hospitalização e óbitos são difíceis de se avaliar em ensaios clínicos com a população geral. Para os dois eventos do meu exemplo B teriam eficácia de 100%.
E com pouco de bruxaria, e prioris nao fracamente informativas temos que após 10 meses eficacia a posteriori para o grupo B é de
Óbito: 92% (0; 99%)
Hospitalizações: 97% (55; 99%)
Intervalos enormes né? Mas dessa forma eles refletem nosso conhecimento apos vermos os dados.
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Óbitos por SRAG-COVID no Brasil. Por esse previsão estamos no pior momento da epidemia em termos de óbitos. Em algumas semanas a gente pode confirmar isso. A estimativa pra semana 1/2021 é de 8730 (5176, 14239), o pico em maio foi de 7500 óbitos por semana.
Sobre o estatiquês da divulgação da Coronavac de ontem (12/1).
Ele usaram um modelo de Cox para estimar a razao de incidências (HR hazard ratio) para diferentes desfechos, e calcularam a eficacia de cada desfecho usando:
Eficacia = 1 - HR.
Warning: Fio bastante matemático.
Antes de continuar, deem uma olhada no excelente fio do Otavio
Os desfechos são o tempo até o evento, onde 3 eventos foram apresentados: (i) caso de Covid confirmado (com eficácia de 50%); (ii) casos de Covid que buscou assistencia (78%); e (iii) casos hospitalizados (100%). Vou chamar de evento pra facilitar a vida.
Com os dados do opendatasus já organizados pela equipe de nowcasting do @obscovid19br (valeu @rafalpx )
Total de óbitos por SRAG-COVID corrigidos com atraso: 193.757 (190.030; 200.229)
Se olharmos a série de óbitos por SRAG corrigindo os atrasos já estamos com 269.774 (265.777; 276.123) vidas perdidas.
As figuras são muito parecidas, mas não são as mesmas.
Temos 270 mil óbitos por SRAG, desses 193 mil com confirmação confirmação.
Vale lembrar que desde março, nosso grupo (e acredito que muitos outros grupos tb) vêm afirmando que a maioria dos casos de SRAG são causados pela COVID-19.
Se a nova variante for confirmada mais transmissível, apesar dela não ser mais letal ela é mais mortal. Wait... what?
Numa conversa com a @mellziland ela sugeriu que eu escrevesse um fio explicando a diferença de letalidade e mortalidade, e porque essa variante pode ser mais mortal.
Olhando o dicionário do google dá pra entender de onde vem a confusão. Então vamos lá, aqui estamos falando de conceitos epidemiológicos, e é bom sempre serem definidos.
Individualmente é obvio que uma variante mais letal é pior. Mas uma variante mais transmissível ao infectar mais gente vai implicar em mais hospitalizações e óbitos.