Fantástica reportagem sobre a complexa relação entre a Tesla e a China

A Tesla foi a primeira montadora estrangeira a ser autorizada a produzir na China controlando 100% da sua subsidiária

🧶👇 (1/9)
bloomberg.com/news/features/…
A tradicional estratégia chinesa era limitar em 50% o controle de multinacionais estrangeiras, oferecendo seu mercado interno em troca de capital, expertise e tecnologia

Nesse fio, explico por que a estratégia ainda não gerou os resultados pretendidos
A Tesla usou seu status como produtora de carros mais valiosa e mais avançada do mundo, e se beneficiou da ameaça de isolamento comercial imposta pelos EUA à China, para conseguir o controle total sobre a subsidiária

A fábrica gigante em Shanghai foi construída em tempo recorde
A multinacional recebeu enormes subsídios do governo chinês. Além dos tradicionais empréstimos subsidiados de bancos estatais e das isenções fiscais, o governo construiu a infraestrutura básica e até mesmo se comprometeu a garantir a segurança dos trabalhadores durante a pandemia
O governo quer que a Tesla contribua para o aprimoramento tecnológico da cadeia de fornecimento para carros elétricos, que já é a mais completa do mundo

Além disso, a presença da Tesla traria concorrência para as centenas de outras produtoras do país
Seguiria o exemplo da Apple em smartphones, que ajudou a desenvolver uma cadeia de fornecimento chinesa, e que agora vem perdendo espaço para empresas nacionais como a Huawei, a Oppo e a Vivo

Aliás, empresas nacionais como a Xpeng e a Nio já se destacam
Ou seja, a lua de mel entre a Tesla e a China dificilmente irá durar

A concorrência com as empresas nacionais deve se acentuar, e a China sempre deixou bem claro que seu objetivo é a autonomia tecnológica, especialmente diante do acirramento da disputa com os EUA
Coincidência ou não, a operação da Tesla na China apresenta sinais de autonomia cada vez maior em relação aos EUA

O chefe da divisão chinesa solicitou aos funcionários para se comunicarem somente em mandarim, e o contato direto com os EUA pode gerar reprimendas
Recentemente, uma agência de notícias chinesa enfatizou que o plano da Tesla de exportar carros de Shanghai para a Europa “iria contribuir para a nova estrutura de desenvolvimento da “circulação dual” da China”, uma referência direta à estratégia do Presidente Xi Jinping

FIM

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More from @FelipeAugMac

15 Nov 20
A história da indústria automobilística chinesa é uma ótima aula sobre as razões que fazem ser tão difícil para um país pobre atingir alto nível de desenvolvimento, mas também sobre as oportunidades que surgem quando se tem ambição e visão.

🧶 👇(1/19)
asia.nikkei.com/Business/Busin…
Primeiramente, não é à toa que a indústria automobilística é considerada estratégica em tantos países. A cadeia de fornecimento é longa (elevado número de partes e peças e de serviços terceirizados), cria muitos empregos com bons salários e incorpora e gera inovação e tecnologia
A primeira vez que foi elaborada uma estratégia para o desenvolvimento da indústria automobilística na China foi em 1994.

A meta era criar de três a quatro conglomerados automotivos com "competitividade internacional" até 2010, com marcas e tecnologia nacionais.
Read 19 tweets
14 Nov 20
O artigo do @thaleszp é interessantíssimo, mas ele não trata das origens da desigualdade regional.

Para isso parece importante, entre outras coisas, realizar uma análise dos outros países. (1/4)
Veja. EUA, East Indies e Egito eram os grandes concorrentes brasileiros na época, conforme paper do Thales.

Mississippi foi o Estado que mais exportou algodão nos EUA de 1817 a 1860. Hoje é o Estado mais pobre dos EUA, de longe.
mshistorynow.mdah.state.ms.us/articles/161/c…
East Indies, ou British East Indies, outra grande exportadora de algodão da época, provavelmente é a Índia atual, que ficou muito para trás no desenvolvimento econômico até recentemente. O mesmo aconteceu com o Egito.
Read 4 tweets
13 Nov 20
Não deixa de impressionar até onde vai a intervenção do Estado chinês

Fluxo indevido de capital estrangeiro gera prisões e nacionalizações

Big Techs são enquadradas caso possam colocar em risco o sistema financeiro dominado por bancos estatais (1/3)
economist.com/business/2020/…
E tem os Comitês do Partido, que por lei devem ser implementados dentro das empresas em atividade na China, inclusive das estrangeiras

A estimativa da @TheEconomist de que 11% das empresas privadas possuem Comitês pode estar subestimada. Fontes chinesas falam em pelo menos 70% Image
Read 5 tweets
29 Oct 20
A notícia de que a China pretende importar soja da Tanzânia, um país que não é tradicional exportador, para reduzir suas compras dos EUA e do Brasil, é só mais uma a deixar clara a vulnerabilidade dos produtores especializados em bens simples

🧶(1/7)👇
scmp.com/news/china/dip…
Há dois meses, a China já havia proposto uma “aliança da soja” com a Rússia, país que exportou apenas 0,5% do que foi comercializado no mundo em 2018

Por que surgem tantas alternativas para o suprimento desse produto?
scmp.com/news/china/dip…
Ora, porque produzir bens simples como a soja não é... difícil

Hoje em dia, com os avanços em áreas como a biotecnologia, nem mesmo o clima é capaz de impedir o cultivo desses produtos por países não tradicionais
scmp.com/news/china/dip…
Read 7 tweets
22 Oct 20
Crônica da incapacidade estatal, em 5 atos:

1) Governo atrai multinacional estrangeira com subsídios bilionários (mais de R$ 22 bi), anunciando a prometida fábrica como a oitava maravilha do mundo
2) Multinacional acaba investindo apenas 2,8% do que foi acordado.

A fábrica, que deveria ter 1,9 milhões de m², acaba tendo apenas 2% da área construída

Isso depois de o Estado realocar forçosamente os moradores da região
3) Multinacional acaba gerando só 13% dos empregos prometidos, e ainda assim porque criou funções desnecessárias para atingir a meta anual acordada, a qual lhe daria acesso a mais subsídios

Empresa contrata no final do ano, quando é feita a contagem, e demite logo depois
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28 Jul 20
Semicondutores: o novo drama britânico

Um dos países que mais se desindustrializou nas últimas décadas, Reino Unido enfrenta dificuldades para resistir ao avanço chinês sobre suas joias remanescentes (1/10)
asia.nikkei.com/Business/China…
A ARM Holdings se especializou no design de semicondutores

Empresa possui 90% da propriedade intelectual essencial aos chips utilizados por empresas como Apple, Qualcomm, Samsung, Huawei e TSMC, particularmente para uso em smartphones, tablets e smart TVs
Em 2016, a empresa foi desnacionalizada, sendo vendida para a megainvestidora japonesa Softbank

Em 2018, de olho no mercado chinês, cedeu controle das suas operações na China para uma joint-venture com investidores locais, incluindo entidades estatais
asia.nikkei.com/Business/Compa…
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