A tradicional estratégia chinesa era limitar em 50% o controle de multinacionais estrangeiras, oferecendo seu mercado interno em troca de capital, expertise e tecnologia
Nesse fio, explico por que a estratégia ainda não gerou os resultados pretendidos
A Tesla usou seu status como produtora de carros mais valiosa e mais avançada do mundo, e se beneficiou da ameaça de isolamento comercial imposta pelos EUA à China, para conseguir o controle total sobre a subsidiária
A fábrica gigante em Shanghai foi construída em tempo recorde
A multinacional recebeu enormes subsídios do governo chinês. Além dos tradicionais empréstimos subsidiados de bancos estatais e das isenções fiscais, o governo construiu a infraestrutura básica e até mesmo se comprometeu a garantir a segurança dos trabalhadores durante a pandemia
O governo quer que a Tesla contribua para o aprimoramento tecnológico da cadeia de fornecimento para carros elétricos, que já é a mais completa do mundo
Além disso, a presença da Tesla traria concorrência para as centenas de outras produtoras do país
Seguiria o exemplo da Apple em smartphones, que ajudou a desenvolver uma cadeia de fornecimento chinesa, e que agora vem perdendo espaço para empresas nacionais como a Huawei, a Oppo e a Vivo
Aliás, empresas nacionais como a Xpeng e a Nio já se destacam
Ou seja, a lua de mel entre a Tesla e a China dificilmente irá durar
A concorrência com as empresas nacionais deve se acentuar, e a China sempre deixou bem claro que seu objetivo é a autonomia tecnológica, especialmente diante do acirramento da disputa com os EUA
Coincidência ou não, a operação da Tesla na China apresenta sinais de autonomia cada vez maior em relação aos EUA
O chefe da divisão chinesa solicitou aos funcionários para se comunicarem somente em mandarim, e o contato direto com os EUA pode gerar reprimendas
Recentemente, uma agência de notícias chinesa enfatizou que o plano da Tesla de exportar carros de Shanghai para a Europa “iria contribuir para a nova estrutura de desenvolvimento da “circulação dual” da China”, uma referência direta à estratégia do Presidente Xi Jinping
FIM
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A história da indústria automobilística chinesa é uma ótima aula sobre as razões que fazem ser tão difícil para um país pobre atingir alto nível de desenvolvimento, mas também sobre as oportunidades que surgem quando se tem ambição e visão.
Primeiramente, não é à toa que a indústria automobilística é considerada estratégica em tantos países. A cadeia de fornecimento é longa (elevado número de partes e peças e de serviços terceirizados), cria muitos empregos com bons salários e incorpora e gera inovação e tecnologia
A primeira vez que foi elaborada uma estratégia para o desenvolvimento da indústria automobilística na China foi em 1994.
A meta era criar de três a quatro conglomerados automotivos com "competitividade internacional" até 2010, com marcas e tecnologia nacionais.
East Indies, ou British East Indies, outra grande exportadora de algodão da época, provavelmente é a Índia atual, que ficou muito para trás no desenvolvimento econômico até recentemente. O mesmo aconteceu com o Egito.
A notícia de que a China pretende importar soja da Tanzânia, um país que não é tradicional exportador, para reduzir suas compras dos EUA e do Brasil, é só mais uma a deixar clara a vulnerabilidade dos produtores especializados em bens simples
Ora, porque produzir bens simples como a soja não é... difícil
Hoje em dia, com os avanços em áreas como a biotecnologia, nem mesmo o clima é capaz de impedir o cultivo desses produtos por países não tradicionais scmp.com/news/china/dip…
1) Governo atrai multinacional estrangeira com subsídios bilionários (mais de R$ 22 bi), anunciando a prometida fábrica como a oitava maravilha do mundo
2) Multinacional acaba investindo apenas 2,8% do que foi acordado.
A fábrica, que deveria ter 1,9 milhões de m², acaba tendo apenas 2% da área construída
Isso depois de o Estado realocar forçosamente os moradores da região
3) Multinacional acaba gerando só 13% dos empregos prometidos, e ainda assim porque criou funções desnecessárias para atingir a meta anual acordada, a qual lhe daria acesso a mais subsídios
Empresa contrata no final do ano, quando é feita a contagem, e demite logo depois
Um dos países que mais se desindustrializou nas últimas décadas, Reino Unido enfrenta dificuldades para resistir ao avanço chinês sobre suas joias remanescentes (1/10) asia.nikkei.com/Business/China…
A ARM Holdings se especializou no design de semicondutores
Empresa possui 90% da propriedade intelectual essencial aos chips utilizados por empresas como Apple, Qualcomm, Samsung, Huawei e TSMC, particularmente para uso em smartphones, tablets e smart TVs
Em 2016, a empresa foi desnacionalizada, sendo vendida para a megainvestidora japonesa Softbank
Em 2018, de olho no mercado chinês, cedeu controle das suas operações na China para uma joint-venture com investidores locais, incluindo entidades estatais asia.nikkei.com/Business/Compa…