Palavras como "mutações", "variantes" assustam ,não é? Especialmente quando as mídias internacionais volta os olhos para o Brasil, para noticiar dados sobre esse tema.
Nesse fio, vou falar um pouco sobre a variante em Manaus, e também sobre algumas outras. Vamos?
Cronologicamente, o governo do Japão anunciou, no dia 10/01, que detectou em seu território uma nova variante do coronavírus, em quatro viajantes que vieram do Brasil para o Japão
De acordo com a reportagem do @dwnews "os quatro passageiros estavam no Amazonas e desembarcaram no aeroporto internacional de Tóquio em 2 de janeiro".
Recentemente, no dia 12/01, um estudo foi publicado mostrando semelhanças dessa variante com outras já relatadas
Trata-se de um estudo brasileiro com a participação do @GrafTiago@PaolaResende1 entre tantos outros nomes queridos.
No estudo acima, comenta-se sobre as linhagens que já estamos conhecendo e ouvindo falar:
1) B.1.1.7 no Reino Unido (exclusão HV 69-70, exclusão Y144, N501Y, A570D, P681H, T716I, S982A, D1118H) 2) B.1.351 na África do Sul (L18F, D80A, D215G, R246I, K417N, E484K, N501Y e A701V)
Mell, socorro! O que são todas essas letras e números dentro dos parênteses?
Então, são as substituições (ou exclusão) de um aminoácido (representado pela 1ª letra), por outro (representado pela 2ª letra, em que os números indicam a posição na sequência em que isso aconteceu
Vejam que em ambas variantes B.1.1.7 e B.1.351 temos a presença da mutação N501Y. Essa mutação ocorre na região da Spike, mais especificamente no domínio de ligação ao receptor (RBD).
Em teoria, as alterações nesta parte da proteína Spike podem, fazer com que o vírus se torne mais infeccioso e se espalhe mais facilmente entre as pessoas. Mas como mencionei, somente com estudos robustos é que podemos ver se, na prática, se confirma. Portanto, cautela!
Nesse fio, comento um pouco das variantes descritas no Reino Unido e na África do Sul
Num artigo publicado ainda em Dezembro (20) de 2020 (virological.org/t/preliminary-… ), relata-se a detecao da uma nova linhagem B.1.1.7 no UK.
Trabalhos associaram o rápido crescimento de casos em UK a detecao dessa nova variante, levantando indícios de que ela pode ter uma maior transmissibilidade, ainda que não tenha alterado a letalidade:
Voltando para o contexto do Brasil, a pandemia do SARS-CoV-2 aqui foi dominada por duas linhagens designadas como B.1.1.28 e B.1.1.33 que provavelmente surgiram no país em fevereiro de 2020.
No final de 2020, um estudo coordenado pela @atrvlncc descreveu uma nova variante no RJ que se distinguiu por cinco mutações, incluindo uma na proteína Spike (E484K), também detectada no B .1.351 (linhagem Sul-Africana) medrxiv.org/content/10.110…
Essa variante B.1.1.28 (que contem a mutação E484K), foi posteriormente detectado em outros estados brasileiros e ainda associado a dois casos de reinfecção em pacientes originalmente infectados pela linhagem B.1.1.33.
Por isso usar máscara, mesmo nos recuperados de COVID-19
Segundo o estudo brasileiro, 148 sequências do genoma completo SARS-CoV-2 do estado do Amazonas foram analisadas, identificou-se 69 (47%) sequências B.1.1.28 de diferentes municípios entre 13/04 e 13/11/2020, sendo a linhagem viral mais prevalente em neste estado brasileiro
Após + análises no trabalho, com 18 novas cepas da região coletadas entre o mês 5 a 11/2020, suportam que as cepas SARS-CoV-2 B.1.1.28 em viajantes japoneses retornando da região amazônica brasileira provavelmente evoluíram de uma linhagem que circula no Amazonas desde Abril/2020
Inclusive, todos os parabéns ao @fnaveca e equipe por esse trabalho incrível!
Ainda, os dados preliminares apontam que a rápida taxa de mutação detectada na nova linhagem é um fenômeno recente que provavelmente ocorreu entre dezembro de 2020 - janeiro de 2021.
Será que isso pode ter relação com a alta transmissão nesse período? Sabemos que quanto mais intensa e prolongada a transmissão, maior o acúmulo de mutações que o vírus pode ter
No dia 13/01, um estudo conduzido por @nmrfaria (que colaborou muito pra esse fio!) e o pessoal incrível do @CaddeProject se propôs a investigar as linhagens recém-circulantes em Manaus, em 37 amostras de pacientes entre 15-23/12/2020
Esse estudo foi noticiado por uma brilhante reportagem de @andre_biernath da @bbcbrasil em que, desses, 13 indivíduos (ou 42% do total) apresentavam justamente essa nova linhagem, chamada de linhagem P.1 (Manaus, "descendente" da B.1.1.28)
Na P.1, dentre as alterações presentes, encontra-se 2 mutações de interesse, ocorrendo na Spike:
- E484K ocorre no domínio de ligação ao receptor (RBD) que o vírus usa para se ligar ao receptor ACE2 humano
- N501Y também ocorre no RBD do vírus (comentada anteriormente)
Ambas as mutações compartilhadas entre P1 e B.1.351 (África do Sul) parecem estar associadas a um rápido aumento nos casos em locais. Portanto, é essencial investigar se há um aumento na taxa de reinfecção em indivíduos previamente expostos.
[FIO EM CONSTRUÇÃO - MELL AT WORK]
@andre_biernath traz alguns pontos excelentes na parte final do trabalho do @nmrfaria e colaboradores. As pesquisas seguirão sendo feitas para entendermos, cada vez mais, as variantes aqui do Brasil e quais são seus impactos na pandemia da COVID-19
Recentemente, @nmrfaria@CaddeProject e colaboradores publicaram um estudo melhor caracterizando a distribuição internacional das linhagens B.1.1.7 (UK) e B.1.351 (África do Sul)
Em 7 de janeiro de 2021, 45 países relataram a presença de B.1.1.7 e 13 países relataram B.1.351/501Y.V2.
No trabalho, chama-se a atenção que a quantidade dessas sequências das variantes em cada país é uma consequência:
- da intensidade da vigilância genômica local;
- o nível de preocupação com a introdução de novas variantes;
- o volume de viagens internacionais entre os países afetados e
- a quantidade de transmissão local após a introdução da linhagem de outro lugar.
Os dados de voos de passageiros não incluem mudanças recentes nas viagens de férias e as restrições recentes nas viagens do Reino Unido e da África do Sul não são refletidas nos dados de mobilidade.
Mas sabemos, por exemplo, que a descoberta e rápida disseminação de B.1.1.7 e B.1.351/501Y.V2 destaca a importância de dados abertos e em tempo real para rastrear a disseminação de SARS-CoV-2 e para informar futuras intervenções de saúde pública e conselhos de viagem.
Inclusive a nova variante pode fazer com que países de várias partes do globo bloqueiem voos vindos do Brasil.
No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson já admitiu essa possibilidade.
Já venho falando por aqui e retomarei: todas essas variantes são variações do SARS-CoV-2 (falei obviedades, mas tu vai entender onde quero chegar). Sendo assim, existem medidas de enfrentamento que funcionam muito contra o SARS-CoV-2!
Quais?
✅ Uso correto de máscara (não no queixo, não no seu bolso/sua bolsa, cobrindo adequadamente nariz e boca)
✅ Evitar aglomerações e isso inclui a sua desejada praia, parque, festinha, rolê, bar
✅ Higienização adequada e ambientes abertos/bem ventilados/arejados
Ainda que a variante possa ser mais transmissível, temos que lembrar que somos os vetores desse vírus, ou seja, nosso comportamento pode facilitar ou dificultar a transmissão dele
Ainda, nada hoje nos indica que as vacinas não teriam uma capacidade abrangente para as variantes. Estudos devem ser conduzidos mostrando que anticorpos vindos da imunização com vacina são capazes de neutralizar essas variantes
E POR FIM, FICOU COM DÚVIDA?
Vem pra nossa live pela Rede @analise_covid19 que vai ter o @AndersonBrito_ o @nmrfaria e a @atrvlncc (autores de vários artigos citados nesse fio) na Sexta-Feira, às 19h (horário de Brasília) no link
Eu ia postar o fio das variantes, porém, passei este aqui na frente porque SAIU os resultados interinos da fase 1/2 da vacina candidata da Johnson&Johnson (Ad26.COV2.S Covid-19) e quero muito comentar com vocês!
Mais uma da série: e os dados? Muito curiosa para vê-los, que já tem aprovação emergencial em alguns locais, como a Argentina e a Bolívia. Até o momento, sabemos pouco
Atualmente, a agência analisa os pedidos do Instituto Butantan e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para liberação da CoronaVac e do imunizante AstraZeneca/Oxford, com previsão de resposta no domingo (17)
O acordo fechado com a empresa brasileira prevê a entrega de 10 milhões de doses da vacina russa contra a covid-19 no primeiro trimestre deste ano, com início em janeiro
- 50,4% é uma boa eficácia, vai impactar na transmissão do vírus por estarmos protegendo uma parcela significante da população que se vacinar
Acompanhe o fio ;)
- Temos que olhar os dados adicionais: 78% de risco menor em casos leves/ambulat. em quem se vacinou comparado a quem não se vacinou é ótimo
- Se olharmos para casos moderados/graves/hospitalizações, essa redução de risco pode ser ainda maior.
- Hoje temos uma tendência para o tópico anterior, que precisa ser melhor estudada, mas sem dúvida é um bom indicativo
- Já esperávamos que a vacina teria uma eficácia menor. Estamos usando o vírus inteiro, montando respostas pra várias partes do vírus, não só pra prot. S, p.ex.
Começou agora a segunda coletiva do Butantan, após a primeira que mencionou valores de eficácia!
Vamos acompanhar? Vou ir publicando algumas impressões nesse fio!
Link:
(por enquanto sem dados apresentados)
Estudos que irão ocorrer:
- 500 voluntárias com gestantes
- crianças e adolescentes de 3-17 anos
- Projeto S: avaliação da eficiência da vacina (papel da vacina sobre a pandemia* )
*nota: não sei se entendi completamente essa proposta