Quando mais eu estudo os impactos das redes sociais (as "novas tecnologias") na micro e macropolítica mundial (e brasileira) eu percebo que talvez o maior destes impactos seja a instauração do domínio do "presente imediato". Essa é a marca do governo Bolsonaro (mas não apenas).
As redes sociais ignoram o passado e o futuro enquanto "esfera de preocupação", o que importa é o "live"; o tempo que importa é ontem, o hoje e o depois de amanhã, fora disso tudo se dilui. Por isso o revisionismo é uma marca das redes: o presente sempre reescrevendo o passado.
Isso cria toda uma nova forma de micro e macropolítica. Pegue o Bolsonarismo, por exemplo, a sua incapacidade de lidar com o "futuro" ou com o passado é notória, tudo que lhe importa é o agora. Pois eles sabem que, nesse mundo, a disputa é pelo momento.
Eles sabem que quem controla o momento também controla o passado e o futuro (sua expectativa). Na última manobra absurda, no presente, por exemplo, eles podem dizer que nunca foram contra a CoronaVac e esperam colher os frutos imediatos dessa narrativa.
Isso ocorreu com o auxílio emergencial. Após se oporem e sabotarem o projeto, se mobilizaram para capturar a sua história e se apropriar do capital político gerado pela medida.
Se nas direitas essa temporalidade permitiu uma maior mobilização: por uma série de particularidades destes grupos. Nas direitas, especialmente na micropolítica, o presente enquanto momento único da política vem gerando uma desarticulação mundial.
Mark Fisher escreveu boas linhas sobre o tema, mas basicamente, a falta de uma perspectiva futura se desdobra em uma espécie de cinismo difuso e/ou em movimentos de autofagia, que pulverizam cada vez mais as esquerdas e impedem a formação de coalizões.
Inclusive, não é de se estranhar que estejamos falando de tecnologias que emergiram no "fim da história", que entre os abastados apareceram em um momento em que tudo parecia estar resolvido, entre os mais pobres, em um momento o futuro era um lugar onde não se queria estar.
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Para quem (ainda) isenta as FFAA do seu apoio ao Bolsonaro: circula um documento do próprio EB - cuja veracidade não pode ser aferida - que define a carreira militar e o caráter do Capitão Jair Bolsonaro da seguinte maneira:
A leitura do documento é divertida, uma baixaria sem limites. Fora isso não tem muito valor além do óbvio: Bolsonaro nunca foi bem visto pelo oficialato das FFAA. Sempre fora tomado como um descontrolado, para dizer o mínimo.
Seu apoio midiático aos torturadores da ditadura e a propaganda aberta que fazia das graves violações dos direitos humanos cometidas pelo regime sempre foram consideradas vergonhosas por membros do oficialato: que sempre optaram por uma abordagem "deixa isso quieto".
Insisto e repito: infelizmente não será por meio da denuncia moral que vamos superar Bolsonaro e seus aliados - a opinião pública não liga para a sua misoginia, etc... -, só vamos derrotá-lo quando mostrarmos a sua responsabilidade na precarização da vida do brasileiro.
Simplesmente repetir que se trata de um projeto genocida não tem o efeito desejado, é preciso mostrar claramente - por exemplo - a sua responsabilidade, sua culpa, na situação de Manaus. Não por coincidência ele e os seus estejam tão empenhados em se desviar dela, sentiram.
É nosso dever para com aqueles que pareceram vítimas desse projeto genocida: devemos abandonar o bordão e transformar isso em conversa de fila do supermercado, mostrar que ele mente quando tenta se desviar da responsabilidade pelo caos que tomou conta do país.
Por vezes me pego cristão desejando a existência desse Deus que os bolsonaristas tanto evocam: apenas para ter o conforto de saber que figuras como a Damares, Pazuello e o próprio Bolsonaro queimariam no inferno pelos seus atos.
Contudo, como não temos evidências da existência desse Deus vingativo, acho melhor nos organizarmos para garantir que a punição destes sujeitos pelos seus crimes venha ainda em vida. É nosso dever para com aqueles que pereceram por seus atos.
Não quero saber do resultado de um tribunal histórico vindouro (o inferno desejado pelos ateus), estou falando do presente.
Por conta das conversas que tive ontem com o @_doblues e o @rennanleta sobre o compadre Zé Pilintra me lembrei da célebre - e folclórica - briga entre Wilson Batista e Noel Rosa. Tudo começou, dizem, por conta da maravilhosa Lenço no Pescoço.
A música é uma ode ao malandro, sua imagem e filosofia (e axé). Noel Rosa, diz uma das lendas, não gostou da composição pois seguia associando os sambistas a dos vadios. E por isso Noel compôs Rapaz Folgado, atacando a malandragem (e Wilson).
Wilson não deixou barato e fez "Mocinho da Vila" como resposta, dando o famoso "papo reto".
Injusto é seu comentário
Falar de malandro quem é otário
Mas malandro não se faz