Para quem (ainda) isenta as FFAA do seu apoio ao Bolsonaro: circula um documento do próprio EB - cuja veracidade não pode ser aferida - que define a carreira militar e o caráter do Capitão Jair Bolsonaro da seguinte maneira:
A leitura do documento é divertida, uma baixaria sem limites. Fora isso não tem muito valor além do óbvio: Bolsonaro nunca foi bem visto pelo oficialato das FFAA. Sempre fora tomado como um descontrolado, para dizer o mínimo.
Seu apoio midiático aos torturadores da ditadura e a propaganda aberta que fazia das graves violações dos direitos humanos cometidas pelo regime sempre foram consideradas vergonhosas por membros do oficialato: que sempre optaram por uma abordagem "deixa isso quieto".
Não é de se estranhar que após a reforma tenha se aproximado das forças auxiliares, bombeiros e polícia militar.
Em 2014, por conta do meu trabalho na CNV, passei a acompanhar grupos que defendiam a memória da ditadura militar na internet. Entre os mais tradicionais, vamos colocar assim, Bolsonaro era considerado um "palhaço".
Mas a partir de 2015, após a divulgação do relatório da CNV - especialmente o capítulo sobre autorias -, tais grupos passaram a adotar um tom mais agressivo na internet. Antes se focavam numa espécie de contrapropaganda que até assumia a tortura (mas como excesso dos indivíduos).
E se focavam nos benefícios econômicos e sociais do regime. Agora, passaram a exaltar abertamente torturadores, como o Ustra. Especialmente pelos efeitos que isso tinha no Facebook - isso era falado abertamente.
Postagem exaltando Itaipu? 100 respostas. Uma postagem exaltando o Ustra? 10.000. O motivo? O simples menção ao nome do Ustra já garantia o ibope dos opositores, no caso, nós.
Bolsonaro começou a ganhar espaço, suas participações na televisão exaltando a ditadura e/ou proferindo ataques a minorias, até então vistas como vergonhosas pelo oficialato das FFAA, passaram a ser vistas como um instrumento desagradável porém necessário.
O teste definitivo fora o discurso do impeachment em 2016, a menção escandalosa do Ustra. Ato que rapidamente fez a popularidade do torturar explodir, seu livro se tornou um fenômeno.
Ali se criou um consenso de que seria necessário criar uma ponte com o sujeito, que por meio dele tais grupos poderiam concluir o seu projeto de restabelecer a memória dos antigos generais e presidentes. E isso se tornou um projeto moralizador da sociedade brasileira.
E aqui surge algo importante: quando olhamos para as bases políticas do sujeito veremos que os militares foram o penúltimo grupo a aderir ao projeto bolsonarista; o Mercado foi o último.
Com outras palavras, os militares se aproximaram de Bolsonaro com um objetivo muito claro: um projeto de resgate da memória das FFAA (que passava por uma reforma moral da sociedade brasileira).
Não é a toa que os militares foram umas das primeiras alas do governo a serem atacadas pelo "núcleo duro" do bolsonarismo, pois Bolsonaro temia - me parece - ser tomado como "descartável" pelo oficialato das FFAA.
Uma constatação que - me parece - não é equivocada. Ele é apenas um soldado na guerra (i.e. no projeto de poder) dos militares. Mourão e os interesses que ele representa estão sempre à espreita.
Quando mais eu estudo os impactos das redes sociais (as "novas tecnologias") na micro e macropolítica mundial (e brasileira) eu percebo que talvez o maior destes impactos seja a instauração do domínio do "presente imediato". Essa é a marca do governo Bolsonaro (mas não apenas).
As redes sociais ignoram o passado e o futuro enquanto "esfera de preocupação", o que importa é o "live"; o tempo que importa é ontem, o hoje e o depois de amanhã, fora disso tudo se dilui. Por isso o revisionismo é uma marca das redes: o presente sempre reescrevendo o passado.
Isso cria toda uma nova forma de micro e macropolítica. Pegue o Bolsonarismo, por exemplo, a sua incapacidade de lidar com o "futuro" ou com o passado é notória, tudo que lhe importa é o agora. Pois eles sabem que, nesse mundo, a disputa é pelo momento.
Insisto e repito: infelizmente não será por meio da denuncia moral que vamos superar Bolsonaro e seus aliados - a opinião pública não liga para a sua misoginia, etc... -, só vamos derrotá-lo quando mostrarmos a sua responsabilidade na precarização da vida do brasileiro.
Simplesmente repetir que se trata de um projeto genocida não tem o efeito desejado, é preciso mostrar claramente - por exemplo - a sua responsabilidade, sua culpa, na situação de Manaus. Não por coincidência ele e os seus estejam tão empenhados em se desviar dela, sentiram.
É nosso dever para com aqueles que pareceram vítimas desse projeto genocida: devemos abandonar o bordão e transformar isso em conversa de fila do supermercado, mostrar que ele mente quando tenta se desviar da responsabilidade pelo caos que tomou conta do país.
Por vezes me pego cristão desejando a existência desse Deus que os bolsonaristas tanto evocam: apenas para ter o conforto de saber que figuras como a Damares, Pazuello e o próprio Bolsonaro queimariam no inferno pelos seus atos.
Contudo, como não temos evidências da existência desse Deus vingativo, acho melhor nos organizarmos para garantir que a punição destes sujeitos pelos seus crimes venha ainda em vida. É nosso dever para com aqueles que pereceram por seus atos.
Não quero saber do resultado de um tribunal histórico vindouro (o inferno desejado pelos ateus), estou falando do presente.
Por conta das conversas que tive ontem com o @_doblues e o @rennanleta sobre o compadre Zé Pilintra me lembrei da célebre - e folclórica - briga entre Wilson Batista e Noel Rosa. Tudo começou, dizem, por conta da maravilhosa Lenço no Pescoço.
A música é uma ode ao malandro, sua imagem e filosofia (e axé). Noel Rosa, diz uma das lendas, não gostou da composição pois seguia associando os sambistas a dos vadios. E por isso Noel compôs Rapaz Folgado, atacando a malandragem (e Wilson).
Wilson não deixou barato e fez "Mocinho da Vila" como resposta, dando o famoso "papo reto".
Injusto é seu comentário
Falar de malandro quem é otário
Mas malandro não se faz