Da mesma maneira que a ascensão de Trump inspirou populistas, a derrota para um centrista influenciará elites políticas no exterior e promoverá debates sobre as possíveis lições que uma vitória do democrata oferece sobre como sobrepujar líderes demagogos.🧵👇
A ascensão de Biden em um contexto extremamente dividido e de colapso do diálogo entre esquerda e direita chama a atenção justamente porque o candidato democrata não polariza.
Diferentemente de Barack Obama, Hillary Clinton e Donald Trump —as três figuras mais influentes da política americana da última década, nomes aos quais quase ninguém é indiferente—, Biden nunca atraiu muita atenção nem despertou paixões.
Até seus próprios estrategistas —e ele mesmo— reconhecem que ele não tem a oratória de um John Kennedy, um Ronald Reagan, um Bill Clinton ou de um Obama nem a compreensão sofisticada da política global de um Franklin Roosevelt ou um George Bush pai.
Também não ostenta o conhecimento detalhado de políticas públicas de Hillary nem o dom de entreter multidões por horas de Trump. Não há seguidores fanáticos de Biden, e até mesmo eleitores democratas prontamente afirmam que ele está longe de ser o candidato ideal.
Mas é justamente esse caráter mediano —somado a uma imagem pública de fácil simpatia e uma longa carreira sem posicionamentos radicais— que tornou Biden um alvo particularmente complicado para Trump. Se é difícil se encantar por Biden, também é quase impossível odiá-lo.
Biden não terá dias fáceis. Trump mudou não apenas o Partido Republicano, mas também o sistema político americano e o debate público, incluindo a imprensa e a população, que se acostumaram a acompanhar os tuítes frequentes, erráticos e controversos do presidente.
Biden já prometeu que mal se comunicará via redes sociais, e sua participação em entrevistas ao longo dos últimos meses revela que ele traria de volta à política um elemento tradicional que se perdeu com a eleição de Trump: o debate técnico e um tanto tedioso.
A imprensa terá que se adaptar a um ritmo de notícias bem diferente. Enquanto Trump faz com que cada entrevista tenha elementos inesperados, com potencial de virar manchete, papos com Biden seriam mais técnicos e, sim, bem entediantes se comparados ao show do republicano.
Não serão poucos os jornalistas, colunistas e cidadãos q sentirão sinais de abstinência do entretenimento contínuo q Trump oferecia. Para compensar, o estilo de Biden permitiria debates + profundos q, no final das contas, são cruciais para o funcionamento do sistema democrático.
Nesse sentido, Biden se aproxima de líderes europeus, como Angela Merkel. Salvo em momentos de emergência, poucos alemães se importam com o que a chefe de governo tem a dizer no dia a dia. www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/10/…

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21 Jan
Esta informação é incorreta. A China jamais pediria a cabeça de um ministro deEstado do Brasil. Artigos como este promovem uma narrativa de suposta interferência externa e ajudam o governo a vender a permanência do chanceler como ato de defesa da soberania
gazetadopovo.com.br/republica/chin…
De fato, toda essa ideia de que a China estaria "punindo" o Brasil pela retórica anti-China do presidente Bolsonaro, propositalmente atrasando o envio de insumos para a produção da vacina, não soa como uma história inteiramente plausível. 🧵👇
É claro q as provocações de Bolsonaro afetaram o diálogo bilateral. Ñ há como negar que a reputação do Brasil em Pequim hj é péssima. Mas o custo disso para oBrasil, esp no contexto da pandemia, me parece ser mais sistêmico e indireto, e só se revelará ao longo dos próximos anos
Read 6 tweets
20 Jan
Trump não surgiu do nada, e suas atitudes deixarão marcas. Sua postura + isolacionista e cética em relação à globalização reflete mudanças profundas na opinião pública americana no q diz respeito aos conceitos que guiaram a política externa do país desde o fim da Guerra Fria👇🧵
Essa ideia de uma América ensimesmada está mais forte do que nunca, e dificulta qualquer movimento externo mais ambicioso por parte do presidente. Sobretudo no âmbito comercial, Biden terá que adotar uma estratégia bem mais protecionista do que os governos pré-Trump.
Aliados tradicionais como a União Europeia e o Japão tampouco estão dispostos a agir como se os últimos quatro anos tivessem sido um sonho ruim. As reviravoltas de Trump deixarão sequelas nessas relações, reduzindo a confiança em Washington de maneira permanente.
Read 6 tweets
20 Jan
Very excited to join a debate at the Association of Asia Scholars (AAS) tomorrow about the emerging Tech War and the future of global order. Below a few links I recently wrote about the subject. 🧵👇
In Brazil, the government has to choose between U.S. and China for its 5G network — while battling deep political, health and economic crises.
americasquarterly.org/article/huawei…
Brazil, the world’s sixth-most populous country is one of the main prizes in a global tech encounter between Beijing and Washington.
americasquarterly.org/article/brazil…
Read 4 tweets
17 Jan
While Bolsonaro has long projected himself the most pro-American leader in Brazil's history, the past months have revealed that Brazil's president was not a US ally, but actually a Trump ally. In fact, Bolsonaro is, in many ways, profoundly anti-American. 🧵👇
Bolsonaro was not the first Brazilian president to propose moving closer to the US. Previous leaders, too, sought to utilize proximity to Washington for personal political gain at home. Vargas, Castello Branco and Goulart all saw a US partnership as a way to buy domestic support.
Castello Branco, in particular, attempted to establish an alliance with the United States to consolidate Brazil's military dictatorship after the 1964 coup. It didn't work and US-Brazil ties entered a period of crisis until Brazil democratized in the 80s.
Read 10 tweets
13 Jan
Em 20 de janeiro, quando Joe Biden tomar posse como 46º presidente dos EUA, Jair Bolsonaro perderá o único aliado internacional relevante que lhe restava, deixando o Brasil ainda mais isolado. 👇🧵
Com Biden na Casa Branca, a pressão internacional contra Bolsonaro e o risco de boicotes contra produtos brasileiros aumentarão de maneira significativa.
O Partido Democrata vai controlar a Casa Branca, a Câmara e o Senado — e já tinha uma péssima imagem do mandatário brasileiro. Desde a vitória democrata, Bolsonaro e Ernesto Araújo conseguiram a façanha de piorar a situação.
Read 7 tweets
11 Jan
Por que a política americana é tão polarizada?

Uma maneira interessante de explicar as profundas divisões políticas nos EUA é analisar como o colapso da União Soviética eliminou a ameaça existencial que ajudava a estabilizar a política norte-americana. 🧵👇
A grande maioria dos analistas viu no fim da Guerra Fria um triunfo histórico dos EUA. À primeira vista, a década de 1990 lhes dava razão: foi um período marcado por um boom econômico nos EUA e muita confiança de um país que se via, pela 1ª vez na história, sem rival no planeta.
Em retrospectiva, porém, ficou claro: o colapso da URSS plantou na sociedade norte-americana a semente da polarização destrutiva, hoje uma marca registrada da política contemporânea dos EUA.
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